11/05/2011 - 21:00
Uma empresa conservadora é até bem-vinda no setor petroleiro privado brasileiro, cheio de promessas que nem sempre se cumprem. Essa é a imagem da Queiroz Galvão Exploração e Produção, que chegou às bolsas já lucrativa, mas sem projeções mirabolantes. Quarta maior produtora do País, atrás da Petrobras, Shell e Chevron, com 20 mil barris diários de óleo equivalente, a Queiroz Galvão estima chegar a 150 mil barris em 2018.
Pode parecer uma surpresa, então, que o presidente da empresa, José Augusto Fernandes Filho, rejeite o adjetivo para a companhia. “Somos conservadores só na comunicação com o mercado de capitais.” “Mas somos bastante agressivos na exploração, não temos nenhuma aversão ao risco.” Por trás da aparente contradição está o fato de que o maior desafio da companhia no curto prazo é aumentar rapidamente seu portfólio.
“O desempenho das ações desde o IPO superou a expectativa de muita gente”
O caixa está cheio: do R$ 1,5 bilhão obtido com a abertura de capital na bolsa, em fevereiro deste ano, 80% serão usados para expandir as reservas, consideravelmente menores que as das concorrentes. Enquanto a Queiroz Galvão tem 345 milhões de barris em recursos riscados (ajustados pela probabilidade de sucesso), a OGX detém 6,7 bilhões e a HRT, 1,5 bilhão de barris.
O dinheiro está queimando nas mãos e a QGEP procura novos ativos. Já negocia a compra de participações em blocos de petróleo e concorrerá na próxima rodada de leilões da Agência Nacional do Petróleo (ANP), prevista para setembro, na qual serão vendidos principalmente blocos na costa norte e nordeste, na chamada “região equatorial brasileira”. “Declinamos algumas oportunidades porque queremos crescer com qualidade”, afirma Fernandes Filho.
Analistas acreditam que as melhores oportunidades de compras de participações estão em blocos concedidos nas bacias de Santos, Campos e Espírito Santo, e não nas licitações da ANP. Para desenvolver as concessões que já detém, a Queiroz Galvão desembolsará neste ano US$ 150 milhões perfurando poços nas Bacias do Jequitinhonha, no sul da Bahia, e em Santos e espera uma média anual de US$ 100 milhões depois disso.
Gustavo Gattass, analista do BTG Pactual, considera que a petroleira é uma opção bem mais segura que a de concorrentes como OGX ou HRT, que ainda não entregaram uma gota de petróleo e acumulam prejuízos. Mas o desafio da Queiroz Galvão também não é pequeno. “A QGEP precisa fazer o caixa gerar novas oportunidades, enquanto as outras companhias já têm campanhas exploratórias definidas e precisam do dinheiro para completá-las”, diz Gattass.
Outro paradoxo da Queiroz Galvão é a relação da companhia com a Petrobras. Sua sócia no campo de gás de Manati, a estatal é operadora de sete dos oito blocos da companhia. Para Fernandes Filho, a proximidade com a Petrobras só traz vantagens. “O conhecimento das bacias brasileiras pela Petrobras, com as quais trabalhamos há dez anos, é inigualável”, diz Fernandes Filho.
“Sempre digo aos analistas que o plano de investimentos dela não interfere no nosso.” A preocupação dos analistas é de que a Queiroz Galvão seja muito dependente de uma empresa que, em última análise, também é sua concorrente. Outra dúvida é o que ocorreria se a QGEP fosse sócia em áreas que mais tarde sejam consideradas não prioritárias pela estatal.
Pelo menos nas bolsas, o conservadorismo foi bem recebido. Desde o IPO, as ações da Queiroz subiram 5%, enquanto os papéis da OGX perderam 24% neste ano e os da HRT, 9%. “O desempenho superou a expectativa de muita gente”, comemora Fernandes Filho. Aos poucos, a empresa, subsidiária de um dos grupos mais fechados do Brasil, vai assimilando a cultura de companhia aberta.
Os acionistas já estão no conselho de administração, com o apoio de executivos profissionais na gestão. Além disso, a Queiroz acaba de criar um programa de opções de ações, equiparando-se à OGX e HRT, que disputam profissionais do setor e estão entre as empresas brasileiras que mais remuneram seus diretores. A HRT pagou R$ 31 milhões ao seu alto escalão, entre salário e opções de ações, no ano passado, e a OGX, nada menos que R$ 64 milhões. É bom mesmo a Queiroz premiar seus executivos para atravessar um momento tão crucial de crescimento.