06/06/2014 - 20:00
Quando a “marolinha financeira” chegou ao Brasil, em 2008, logo se transformou em uma onda de crédito que inundou as residências dos brasileiros com televisores e telefones celulares. Cinco anos depois, o cenário é bem diferente. Agora, quem está à espreita é a inadimplência, e os brasileiros temem abrir a porta e ser levados pela enxurrada. Não se trata de palpite ou de exercício de futurologia: a conclusão é de um estudo patrocinado pela empresa americana de tecnologia da informação Unisys, segundo o qual a parcela de pessoas seriamente preocupadas com a segurança financeira subiu 22 pontos em relação ao ano passado, saltando de 175 para 197 pontos, em uma escala que vai até 300.
Qualquer número acima de 150 já aponta um alto nível de preocupação. Com isso, os cidadãos brasileiros ficaram em terceiro lugar entre os que mais se preocupam com a insegurança financeira, superados apenas pelos mexicanos e franceses. Por trás disso, está o medo de que em algum momento comece a ocorrer um processo de demissões em massa, já que a economia tem crescido em um ritmo mais lento. “De um ano para o outro, o percentual de pessoas que estão muito preocupadas ou extremamente preocupadas com a possibilidade de não honrar com os seus compromissos passou de 53% para 72%”, afirma Helcio Beninatto, presidente da Unisys para a América Latina.
No entanto, apesar do receio generalizado, isso não significa que todas essas pessoas, de fato, darão calote, já que o índice mede apenas uma sensação, acendendo uma espécie de alerta quanto à possibilidade de crescimento dos números de maus pagadores. “Embora as pessoas não entrem num contrato para descumpri-lo, as condições econômicas e jurídicas estão levando ao consumo irresponsável”, afirma o economista Bernardo Santoro, diretor-executivo do Instituto Liberal. A insegurança financeira também é explicada por uma questão quantitativa. Com o aumento de transações – seja por cartões, seja por internet banking –, um contingente maior de pessoas passou a ficar temeroso com a operação.
Atualmente, 80% dos brasileiros estão seriamente preocupados com o uso indevido dos plásticos por terceiros. Isso coloca o Brasil no segundo lugar do ranking de países com alto grau de preocupação, atrás do México. A explicação é simples: desde o ano passado, o dinheiro não é mais a forma preferida dos brasileiros para fazer compras e pagar suas contas. Assim como os cheques, ele também foi superado pelos meios eletrônicos, que movimentaram R$ 1,1 trilhão, segundo a consultoria Boanerges & Cia. Mas essa história tem um lado positivo.
A preocupação com as contas levou os brasileiros a atentarem-se mais no orçamento financeiro. “Foi a primeira vez que um número tão grande de pessoas teve recursos para consumir”, diz Benjamin Gleason, sócio do site de controle de gastos GuiaBolso.com, que recebe 400 mil acessos por mês. “Agora, estão economizando.” O índice Unisys Security Index faz parte de um estudo global que fornece informações sobre as atitudes dos consumidores em diversos aspectos: segurança nacional, financeira, na internet e pessoal. Esta é a 11a edição da pesquisa, que ouviu 11 mil pessoas em 12 países, mil delas apenas no Brasil.
O índice geral de segurança teve um salto em todas as categorias pesquisadas no País, o que o levou a subir 14 pontos, para 187. Desde que o índice foi criado, o Brasil nunca esteve em uma zona de conforto, mantendo-se acima da linha divisória. Já a Colômbia, que até o ano passado era o país com maior índice, conseguiu reverter esse quadro e melhorou duas posições, ficando atrás do México e do Brasil. Isso se deu graças ao combate ao narcotráfico e aos tratados de paz com os guerrilheiros das Farc. A Malásia, por sua vez, percorreu o caminho inverso, ao aumentar 31 pontos no seu índice. O motivo foi o desaparecimento do avião da Malasyan Airlines, que levantou suspeitas de terrorismo.