13/01/2023 - 1:20
Uma tesoura na mão e um chapéu na cabeça. É assim que começa a aventura pelos parreirais para quem quer tomar parte de uma experiência que tem conquistado mais brasileiros a cada safra de uva: fazer parte da colheita. O crescente interesse por vinhos estimulou as vinícolas a criar programas em que o turista não apenas visita os vinhedos e a cantina antes de fazer uma degustação. Ele mesmo seleciona e corta os cachos que serão prensados para se transformar no mosto que resultará em brancos, tintos, rosados e espumantes. Em alguns programas, tudo é festa. Há a tradicional pisa da uva, com música, comida farta e, claro, vinho à vontade. Mas a ampla oferta de atrações durante a vindima em várias regiões do País contempla também os iniciados que desejam aprimorar conhecimentos sobre a bebida por meio de aulas e provas de rótulos especiais. Além da Serra Gaúcha e da região de São Roque, no interior paulista, já estão no mapa do enoturismo o interior do Paraná, o Vale do São Francisco (PE) e a Campanha, também no Rio Grande do Sul. A reportagem selecionou alguns roteiros para você escolher onde irá se divertir em meio às videiras.
Única vinícola a produzir em quatro terroirs brasileiros, a Miolo aprimorou sua oferta de atrações enoturísticas para a safra deste verão, que tem início agora em janeiro. Para Adriano Miolo, diretor superintendente do grupo que leva seu sobrenome e que possui 1 mil hectares de vinhedos próprios, as atividades para os visitantes ajudam na divulgação e promoção da cultura do vinho. “O consumidor procura experiências que estejam relacionadas com a identidade de cada local”, afirmou. “Ao abrir cada garrafa e compartilhar nossa produção, estamos dividindo com todos o que de melhor sabemos fazer.” Não por acaso, a programação da Miolo para este ano recebeu o nome Roteiro Terroirs. No Vale dos Vinhedos, onde fica a sede da empresa, há quatro opções para atender às diferentes expectativas dos cerca de 200 mil turistas que visitam a região todo ano. É possível fazer um tour básico, conhecer os rótulos da Denominação de Origem Vale dos Vinhedos (tanto tintos quanto espumantes) e até quatro dos Sete Lendários da Miolo, vinhos considerados icônicos nas safras de 2018 e 2020. São duas horas de degustação, apenas às sexta-feiras e sábados. Custa R$ 280 por pessoa e é preciso agendar.
FREE SHOP Também criado pela Miolo, o Roteiro IP Campanha Gaúcha, em Santana do Livramento (RS), inclui visita ao Museu Semente, passeio em deck panorâmico nos vinhedos, passarela sobre os tanques de fermentação da bebida, degustação e o primeiro free shop de vinhos brasileiros em uma vinícola. Nele estão à venda os 112 rótulos da Miolo Wine Group (MWG) a preços até 30% mais baixos que os do varejo. Ali, a Expedição Lendária (R$ 380 por pessoa) receberá apenas uma turma por final de semana em um roteiro com cinco horas de duração, incluindo almoço campeiro harmonizado.
Bem distante da Campanha Gaúcha, no Vale do Rio São Francisco, a Vinícola Terranova, que também pertence à MWG, oferece um roteiro turístico aliado ao Vapor do Vinho, que navega pela barragem de Sobradinho (BA). A paisagem do semiárido, em pleno Sertão Nordestino, vem sendo transformada pela viticultura tropical graças à irrigação por gotejamento. É surpreendente observar as vinhas verdejantes em meio à vegetação da caatinga.
Em Campo Largo (PR), a Festa da Colheita promovida pela Vinícola Legado chega à nona edição com dois programas em datas distintas. O Amanhecer no Vinhedo (dias 21 e 22 deste mês) terá início às 10h30 com a colheita de uvas bordô — de mesa, também aproveitadas em sucos, doces e geleias. Já nos dias 4 e 5 de fevereiro será a vez da Colheita com Espumante, dedicada às uvas viníferas Merlot e Viognier, usadas na produção dos premiados rótulos Flair. Ao retornar do vinhedo, os visitantes terão direito a uma mesa para se servir à vontade na sede da vinícola e poderão aproveitar as áreas de bosques para fazer piqueniques. Fundadora e sócia-proprietária da Vinícola Legado, Heloise Merolli entende que sua missão é “trazer as pessoas mais próximas da cultura do vinho”. Segundo ela, o verão é o momento de colher os frutos cultivados com muita dedicação e paixão ao longo do ano. Os ingressos custam entre R$ 90 e R$ 225 e estão à venda no site da vinícola.
SEGREDOS Em São Roque (SP), entre os dias 21 de janeiro e 12 de fevereiro, a Vindima Góes 2023 irá celebrar a colheita das uvas e envolver os turistas nas antigas tradições da elaboração dos vinhos. Ainda nos parreirais, o enólogo Fábio Góes irá introduzir os visitantes nos segredos do plantio das videiras e da produção de grandes vinhos. Na fábrica, a história da vinificação será revivida na prática, com a pisa da uva em grandes tinas e ao som de músicas típicas, seguida de um brinde para comemorar a safra. O almoço, com pratos portugueses, terá harmonização com os vinhos premium que integram o portfólio da Góes. Os preços das experiências variam conforme as escolhas do visitante. Também na cidade do interior paulista famosa pela produção de vinho, a Villa Don Patto inicia no sábado (14) sua primeira vindima do ano. A programação inclui café da manhã na boulangerie do complexo turístico de São Roque. Segundo o empresário Túlio Patto, o evento é bastante aguardado pelos clientes. “Com a colheita, celebramos a vida e os ciclos da natureza”, afirmou.
Nova rota turística do Tejo, em Portugal, conecta 14 vinícolas ganha

Perto da capital portuguesa, mas com um cenário de belezas naturais que contrasta com a paisagem lisboeta, a região do Tejo tem despontado como novo destino enoturístico da Península Ibérica. Com mais de 1 mil quilômetros de extensão, o rio que nomeia a região nasce na Espanha, onde é chamado Tajo, e cruza Portugal até desaguar no Atlântico. Segundo historiadores, a produção de vinhos em suas margens teve início por volta do ano 2000 a.C., o que torna a região uma das mais antigas zonas vitivinícolas de Portugal.
Para valorizar sua história, beleza natural e cultura, a Comissão Vitivinícola da Região do Tejo (CVR Tejo) criou em 2021 uma rota de 150 quilômetros — chamada Tejo Wine Route 118 — que conecta 14 produtores. Muitos deles exportam para o Brasil, caso da Quinta da Alorna, Casal da Coelheira e Companhia das Lezírias. A estrada passa por Abrantes, Constância, Chamusca, Alpiarça, Almeirim (que concentra o maior número de viníciolas), Salvaterra de Magos e Benavente. Nos meses em que há colheita, de agosto a outubro, é possível participar da vindima, desde que a reserva seja feita antecipadamente. Além da tradicional pisa da uva, há festivais de música, passeios a cavalo e a excelente gastronomia regional do Tejo, com destaque para
os peixes de rio e a carne de cabrito.