O desempenho dos fundos de previdência privada foi tão precário em 2014 que obrigou a uma mudança na maneira de indicar quais foram as carteiras mais rentáveis do ano. Em geral, DINHEIRO avalia esses fundos pelo índice de Sharpe. Esse indicador compara o desempenho de um fundo com o de uma aplicação livre de risco, no caso, os juros medidos pelo CDI. No entanto, devido à sua formulação, os índices de Sharpe não fazem sentido se forem negativos. Foi o que ocorreu no ano que finda.

Traduzindo para o português corrente: o desempenho do mercado foi tão ruim que nenhum dos fundos ofereceu ao investidor uma relação entre risco e retorno melhor do que a aplicação mais tradicional do mercado. Na ponta do lápis, a relação entre risco e retorno foi melhor para quem simplesmente evitou os fundos de previdência e deixou seu dinheiro na renda fixa. Assim, os quadros que ilustram esta reportagem mostrando os melhores fundos de previdência privada de 2014 ordenam os produtos pela rentabilidade nos 12 meses findos no dia 31 de outubro, algo que ocorreu pelo segundo ano seguido.

Mais do que uma curiosidade estatística, esse fato mostra que o investidor tem de pensar de maneira diferente, ao planejar sua aposentadoria, pelo menos ao longo de 2015. Dez entre dez livros-texto de investimentos recomendam diversificar as aplicações, dedicando uma fatia do capital aos juros e outra às ações, para ganhar em momentos de euforia e de desânimo no mercado. No entanto, em 2014 e em 2015, essa teoria foi negada pela prática do mercado brasileiro. “O cenário para os investidores em previdência privada beneficiou os investidores que fugiram do risco em 2014, e isso deverá se repetir neste ano”, diz Mauro Calil, especialista em investimentos do banco Ourinvest.

R$ 390 bilhões – É o patrimônio líquido dos Fundos de
previdência privada em novembro

“A melhor recomendação para quem não gosta de risco é escolher uma boa aplicação de pós-fixada, que deverá capturar o ganho com a provável alta de juros, e evitar os solavancos que devem ocorrer.” O que fazer? No curto prazo, a recomendação é evitar o risco. Segundo Felipe Bottino, gerente de produtos de previdência da Icatu Seguros, apesar de parecer uma decisão simplista, a alternativa de deixar seu dinheiro em uma aplicação segura que acompanhe a variação dos juros de mercado medidas pelo CDI é um excelente negócio. “Mesmo uma opção conservadora como essa está rendendo 11,75% ao ano, o que é uma rentabilidade excelente para o ano que vem”, diz ele.

“A maioria dos investidores não precisa mais do que isso.” Quem for montar estratégias de prazo mais longo pode também escolher os títulos públicos de prazo mais longo negociados no Tesouro Direto. Por exemplo, as Notas do Tesouro Nacional (NTN) da série B, que rendem a inflação medida pelo IPCA mais uma taxa de juros. No fim de 2014, esses títulos com vencimento em 2020 rendiam 6,2% ao ano acima da inflação. A ser confirmado o prognóstico de 6,5% de inflação, em 2015, a rentabilidade nominal desses papéis – que vão mudar de nome em fevereiro, passando a ser denominados Tesouro 2020 – chega a 13% ao ano, sem risco de crédito.

“Em um cenário como esse, há pouco incentivo para o investidor buscar ganhos excepcionais na renda variável”, diz Bottino. Ele adverte, porém, que mesmo isentos de risco de crédito, esses papéis oferecem risco de mercado, caso o investidor venha a precisar do dinheiro antes do vencimento. “Os papéis mais longos costumam ser mais voláteis, e a remuneração pode cair”, diz “Por isso, o resgate antes da hora pode provocar até mesmo perdas no principal investido.” Se realmente o investidor precisar do dinheiro antes do planejado, uma alternativa é comprar alguns títulos de prazo mais curto, cuja rentabilidade é semelhante aos papéis de longo prazo.

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Confira o Especial “Onde investir em 2015”

Um ano desafiador
Equilíbrio à prova
Papéis de fôlego
Surfando na onda
Encarando a queda
Na corda bamba
No ar rarefeito
Salto no escuro
Juros em alta
Manobras radicais
Em boa companhia
O mapa da selva