23/12/2015 - 18:30
Uma rápida comparação entre os cenários do início e do fim de 2015 mostra como foi difícil a tarefa dos gestores de recursos no primeiro ano do segundo mandato de Dilma Rousseff. Bastam dois números. Quando 2015 começou, a projeção do mercado financeiro – que norteia as estratégias de investimento dos administradores de fundos – era de um crescimento de 0,55% na economia. No fim do ano, esse mesmo mercado previa uma retração de 3,7%. Outro número é o do câmbio. Quando o ano começou, o prognóstico para o fechamento de 2015 era de R$ 2,80 por dólar.
No encerramento, dependendo do otimismo ou do pessimismo cambial, o valor está pelo menos um real acima do previsto. Uma decepção tão profunda exigiu toda a flexibilidade possível dos profissionais encarregados de administrar o dinheiro dos outros naqueles fundos que são o mais versáteis da indústria, os fundos multimercado. Capazes de investir em qualquer ativo – renda fixa, ações, moedas ou derivativos – e, desde o terceiro trimestre, mais livres para buscar alternativas melhores no mercado internacional – os gestores desses fundos tiveram de se desdobrar para enfrentar os solavancos da economia.
Poucos conseguiram. “Boa parte dos resultados, especialmente os da renda variável veio de aplicações no Exterior”, diz o gestor Luis Stuhlberger, sócio da Verde Asset Management. Quem ganhou dinheiro ao longo de 2015 evitou as ações, apostou na alta do dólar e na aceleração da inflação. “Foi um cenário bastante adverso”, diz Eduardo Castro, superintendente de investimentos da empresa de administração de recursos do banco Santander. Não por acaso, as carteiras que apresentaram os melhores resultados foram aquelas com maiores exposições ao setor externo, seja por meio de commodities indexadas ao dólar, seja por apostas diretas no câmbio ou nas ações internacionais.
Os prognósticos para 2016 não são muito melhores. Segundo o relatório Focus publicado pelo Banco Central (BC) no dia 18 de dezembro, o ano dos Jogos Olímpicos ficará longe do pódio em termos econômicos. As estimativas são de uma retração de 2,8% no Produto Interno Bruto (PIB), uma inflação medida pelo índice oficial IPCA de 6,87%, acima do teto da meta, portanto, e de juros a 14,75% no fim do ano. Com isso, as apostas são claras. “Será, de novo, um ano favorável para a renda fixa”, diz Amerson Magalhães, diretor da corretora Easynvest.
“O investidor que não se incomodar com um pouco da volatilidade dos títulos públicos de prazo mais longo pode obter bons ganhos.” Há mais uma vantagem, diz Magalhães. “São papéis do Tesouro, cujo risco de calote é praticamente nulo, por isso o investidor que não quiser comprar esses papéis por estar preocupado com a perda do grau de investimento pode afastar os temores.” O problema para o investidor, nesse cenário, é que os papéis mais longos oferecem mais volatilidade. A maneira menos trabalhosa é optar pelos fundos.
Apesar de não conseguirem capturar todo o ganho potencial para o cotista, eles eliminam boa parte dos riscos de investir na hora errada. Nesse cenário, a recomendação de Castro, do Santander, é de um tipo específico de fundos multimercados, o da categoria juros e moedas. “Essas carteiras costumam aproveitar bem as distorções de preços dos diversos papéis”, diz ele. Outra alternativa são os fundos multimercado da categoria Macro. Neles, os gestores compram e vendem com base na melhora ou piora dos prognósticos para a economia.
Por exemplo, um índice de inflação acima do previsto pode elevar as expectativas do mercado de que o Banco Central eleve os juros, o que vai mover os preços dos papéis. Um bom gestor vai saber capturar essa oscilação, algo bem mais difícil para um investidor individual fazer. Outra recomendação são os fundos multimercados da categoria Livre, que permitem ao gestor apostar tanto em renda fixa quanto em ações e derivativos.
Desde outubro de 2015, eles ganharam uma liberdade adicional, a possibilidade de investir mais fora do Brasil. “Com isso, será possível aos gestores surfar em movimentos internacionais, e apostar em economias que crescem mais do que a brasileira”, diz Magalhães. Essa aposta garantiu o bom desempenho aos fundos de Stuhlberger. O gestor deverá repetir a dose em 2016. “Há boas oportunidades em ações no cenário internacional, e poucas no mercado brasileiro”, diz ele.
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