A melhor descrição do que foi o ano de 2014 pode ser encontrada na tabela da página 36, que exibe três séries de indicadores. São números financeiros, como prognósticos para os juros e o dólar, além de medidas da chamada economia real. No início de 2014, a média das projeções do mercado indicava um cenário quase otimista, “praticamente chinês”, comparado ao que de fato ocorreu, com crescimento econômico de 1,95% e um avanço de 2,2% da produção industrial. Doze meses, uma Copa do Mundo, uma acirrada e conturbada eleição presidencial e várias ondas de turbulência no mercado de commodities depois, o resultado foi diametralmente oposto ao esperado.

Um crescimento de quase zero, decréscimo de 2,5% na produção industrial, inflação, juros e taxa de câmbio acima do previsto. Para complicar, a relação da economia brasileira com o resto do mundo foi uma decepção. As projeções para o saldo na balança comercial indicavam um superávit de US$ 8 bilhões, no início do ano. No apagar das luzes de 2014, porém, era inexorável contabilizar o primeiro déficit desde o ano 2000, com um saldo negativo de US$ 4,78 bilhões, registrado até 22 de dezembro. Não por acaso, a vida dos investidores foi muito difícil.

A elevação dos juros pelo Banco Central, a partir de agosto, fez com que a maioria das aplicações de renda fixa ganhasse da inflação, mas as margens foram bastante magras. Os índices de ações, com poucas exceções, nem sequer protegeram o investidor da oscilação dos preços. Números de tão má qualidade contaminaram as expectativas do empresariado para 2015. Para o comércio, esse será o pior ano em mais de uma década. A Confederação Nacional do Comércio (CNC) já trabalha com uma expansão em torno de 2% no faturamento, inferior aos 3% esperados para 2014 e muito abaixo da de anos anteriores.

“Teremos inflação ainda alta e aumento de tarifas, o que funciona como um imposto na renda das famílias”, diz o economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do Banco Central (BC) e chefe da divisão de economia da CNC. Além disso, o alto nível de endividamento por prazos longos reduz a renda disponível para o consumo. O que ainda segura as vendas, em sua opinião, é o baixo índice de desemprego, mas esse indicador também está perdendo força. “Não é um cenário catastrófico, mas é pior do que o dos anos anteriores”, diz o economista.

Se o cenário atrás do balcão é desanimador, o clima nas fábricas também não é tão otimista. Depois da redução de 1,5% no faturamento, neste ano, decorrente da queda na produção, a indústria deve crescer magro 1%, insuficiente para recompor as perdas de 2014. No entanto, haverá uma discreta ajuda do setor externo, turbinada pelo câmbio mais favorável. O dólar mais valorizado deve ajudar na recuperação da produção industrial. Ao contrário deste ano, a previsão é a retomada do superávit nas trocas com o exterior. Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o saldo deve ficar em US$ 7,5 bilhões em 2015. “O câmbio mais equilibrado deve melhorar a participação das empresas brasileiras”, diz Robson Andrade, presidente da CNI.

Ele reclama, no entanto, de outros fatores que afetam a competitividade, como a insegurança jurídica nas relações trabalhistas, o aumento dos custos, a elevada carga tributária e a infraestrutura deficiente. A Associação Brasileira de Comércio Exterior é mais otimista, e avalia que o superávit na balança chegará a US$ 8,1 bilhões, com queda nas exportações e nas importações. Até mesmo o campo, tradicional celeiro de boas notícias, deverá apresentar um ano mais magro. Depois de puxar o crescimento do PIB nos últimos anos, o agronegócio vai crescer num ritmo mais moderado em 2015. Para 2014, as últimas estimativas da Confederação Nacional da Agricultura são de uma expansão de 3,8%, dez vezes mais do que o previsto para a economia.

Porém, a queda dos preços internacionais das commodities agrícolas deve reduzir a renda dos produtores. A exceção é a pecuária, que ainda vai continuar se beneficiando da alta dos preços da proteína animal no mercado internacional, além da ampliação das compras de mercados com grande potencial. O que fazer com o seu dinheiro em um momento no qual a vida se parece com a de um aficionado por esportes radicais? A boa notícia é que há alternativas adequadas tanto para quem quer segurança quanto para quem aceita correr riscos para extrair o melhor desempenho de seu dinheiro. Haja adrenalina.

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Confira o Especial “Onde investir em 2015”

Um ano desafiador
Papéis de fôlego
Surfando na onda
Encarando a queda
Na corda bamba
No ar rarefeito
Salto no escuro
Juros em alta
Manobras radicais
Em boa companhia
Escalada de lucros
O mapa da selva