Experimente perguntar para um grupo de consumidores qual é a semelhança entre as motocicletas da Dafra, da BMW e da MV Agusta. Certamente, a maioria não saberá responder. Afinal, são modelos totalmente diferentes. A alemã BMW e a italiana MV Agusta são grifes bastante conceituadas, que comercializam motos cobiçadas por seu design arrojado e potência de seus motores. A Dafra, por sua vez, é uma empresa brasileira com apenas três anos de vida que fabrica motos populares, vendidas entre R$ 3,4 mil e R$ 13,5 mil. Mesmo assim, acredite-se ou não, elas são produzidas sob o mesmo teto. Parte do negócio da Dafra é terceirizar suas instalações no Polo Industrial de Manaus (AM). “Entramos no segmento de duas rodas para inovar tanto no modelo de negócio como no perfil das motocicletas”,  disse à DINHEIRO Creso Franco, presidente da Dafra Motos do Brasil. 

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Creso Franco, da Dafra: “Entramos no segmento para inovar, tanto no modelo de negócio, como no perfil das motocicletas”

A primeira parceria desse tipo foi assinada no final de 2009 com a BMW. A marca alemã viu na Dafra  a oportunidade de aumentar a gama de motocicletas oferecida localmente. “Somos a única companhia, fora da Alemanha, credenciada a montar motos BMW”, afirma Francisco Stefanelli, vice-presidente da Dafra. De acordo com o executivo, a produção das motocicletas é feita em uma linha exclusiva. Os profissionais envolvidos no processo são funcionários da Dafra, mas foram treinados na sede da BMW, em Munique. Os brasileiros ganham por unidade fabricada. Hoje, a operação inclui três modelos, vendidos entre R$ 30 mil e R$ 44 mil. A partir de 2012, será adicionado mais um ao portfólio. Com isso, os alemães conseguiram acelerar no mercado brasileiro. A produção em Manaus garantiu redução média de 25% no custo. Além disso, no acumulado janeiro-setembro, a BMW vendeu 3.662 motos, mais que o dobro do total emplacado durante 2009, último ano no qual toda sua linha era trazida de fora. “Ampliamos a oferta e diminuímos os preços”, diz Rolf Epp, diretor da divisão de motos da BMW. 

A Dafra pretende repetir a estratégia com a italiana MV Agusta. O acordo com a marca, que já esteve no Brasil representada pelo grupo Izzo entre 2006 e 2010, segue os mesmos critérios industriais da BMW: linha própria, funcionários treinados na Itália e maquinário específico. A diferença é que a Dafra será a representante oficial da MV Agusta no País. A partir de novembro, serão montados dois modelos no País: a F4, de R$ 68 mil, e a Brutale, de R$ 56 mil. No primeiro ano, a Dafra planeja vender 1,2 mil unidades em sete lojas da bandeira italiana. “A BMW e a MV Agusta possuem prestígio e tecnologia, mas necessitam de estrutura para crescer no Brasil”, diz o consultor Francisco Trivellato, diretor da Trivellato. “A Dafra está ganhando dinheiro e marketing ao se associar a elas.”

 

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Stefanelli: Dafra tinha meta de chegar a 10% do mercado em 2012, mas tirou o pé do acelerador em razão da crise mundial

 

A Dafra nasceu em 2008 como uma aposta do grupo paulista Itavema, gigante do setor de revenda de veículos,  com faturamento anual estimado em R$ 5 bilhões. Com marketing agressivo, motos 25% mais baratas do que a concorrência e rede de concessionárias bem estruturada, a empresa conquistou 2,4% do mercado. O suficiente para assumir a terceira posição, atrás de Honda (78,6%), e Yamaha  (11,9%). Seu desempenho, no entanto, está aquém do esperado. Na ocasião, a Dafra planejava chegar em 2012 com uma fatia de 10%. “Colocamos o pé no freio devido à crise de 2008”, diz Stefanelli. O perfil dos produtos, em um primeiro momento, atraiu os consumidores, mas, com o passar do tempo,   a empresa acabou tendo sua imagem abalada por problemas de qualidade. No site ReclameAqui, existem 1.091 queixas contra a Dafra, número semelhante ao da Honda, que vende 32 vezes mais.

 

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