10/10/2014 - 20:00
Ganhar uma partida de tênis, em uma quadra de saibro, requer paciência e precisão. No piso de terra batida de Roland Garros, um dos quatro principais torneios do mundo, realizado na França, a bolinha se movimenta mais devagar, levando a uma maior troca de golpes. Porém, quanto mais vezes a bolinha cruza a rede, um vencedor se destaca: o banco BNP Paribas, principal patrocinador do evento. Mas é fora das quadras que o maior banco francês em ativos trava uma partida desgastante. Seu jogo é a reestruturação da governança corporativa, abalada pela maior multa já aplicada pelos reguladores dos Estados Unidos a uma instituição financeira, de cerca de US$ 8,9 bilhões (R$ 21,4 bilhões).
A medida foi tomada no fim de junho, em razão de o BNP ter desrespeitado, ao longo de dez anos, sanções impostas pelos americanos contra Sudão, Cuba e Iraque. Além da punição financeira, o banco teve de trocar 13 executivos da alta cúpula, após pressão dos americanos. No fim de setembro, seu principal comandante pediu demissão. A troca se concretizará em dezembro, quando o ex-presidente do Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento Jean Lemierre assumirá o cargo de Baudouin Prot como presidente do conselho de administração. A dança das cadeiras não se restringiu apenas à matriz.
O Conselho Consultivo designou a francesa Sandrine Ferdane para o cargo de presidente do BNP para o Brasil. Ela substitui Louis Bazire, que esteve quatro anos à frente da operação brasileira e passa a ser responsável pela América Latina, além de passar a integrar o conselho como vice-presidente. A chegada de Sandrine ao comando acontece em um momento delicado. O lucro líquido local caiu 61,6%, de R$ 89,7 milhões, no primeiro semestre de 2013, para R$ 34,44 milhões em 2014. As receitas de intermediação financeira tiveram queda de 30%, de R$ 719,9 milhões para R$ 496,9 milhões.
A rentabilidade despencou de 13% para 4,7%, segundo levantamento feito pela agência de classificação de risco Austin Rating, a pedido da DINHEIRO. Esse cenário de lucratividade e rentabilidade menores não é exclusividade do BNP, embora o desempenho do banco francês tenha sido pior. Segundo o estudo da Austin Rating, o lucro líquido dos 51 bancos estrangeiros no Brasil recuou 0,9% no primeiro semestre do ano, de R$ 2,68 bilhões para R$ 2,66 bilhões. Já os ativos totais tiveram alta de 4,1%, para R$ 997,9 bilhões, mas o valor ficou abaixo da inflação acumulada em 12 meses até junho, de 6,5%. A rentabilidade em relação ao patrimônio líquido subiu ligeiramente, de 4,8% para 4,9%.
O BNP considera a troca de comando um processo natural. Para lidar com esse cenário mais adverso e estimular o crescimento na América Latina, o banco decidiu dividir o cargo de presidente para a América Latina e para o Brasil. Sandrine, que até então era diretora de corporate coverage e membro do comitê executivo nos últimos sete anos, assume o cargo de Bazire em busca de melhores resultados. “Ao reforçar a sua estrutura de gestão, com uma executiva totalmente dedicada ao País, o BNP Paribas demonstra o seu compromisso com a região da América Latina, onde tem um forte plano de desenvolvimento”, escreveu o banco, em nota. Procurado, o BNP Paribas não quis conceder entrevista.
Desde 1950 com operações no Brasil, o BNP atua como banco de investimento, gestor de ativos e de riquezas, além de ter uma seguradora e uma financeira. No mundo, as suas operações são mais diversificadas por causa da atuação de banco de varejo. No Brasil, o BNP investiu no lançamento do serviço de administração de fundos de investimento e deve concluir, no ano que vem, a construção de uma plataforma para gestão de caixa de empresas. As operações nos países da América Latina ainda representam apenas 3% do total global para o banco. Mas as expectativas são audaciosas. Bazire tinha como meta crescer em torno de 15% ao ano até 2016. Resta saber se Sandrine terá pulso e resistência para aguentar essa dura partida.