Duas vezes por ano, o empreendedor carioca Marco DeMello tenta se esquecer do mundo corporativo mergulhando em lugares como Bahamas, Tailândia e Havaí. A adrenalina, no entanto, continua a mil, porque ele prefere submergir junto a grandes peixes, especialmente tubarões. “Eles são animais mal entendidos e precisam ser respeitados”, diz. “Seguindo o protocolo, o risco é zero.” Na vida de empresário, sua batalha é contra perigos virtuais. Há seis anos, ele fundou a PSafe, startup brasileira que faz um antivírus para smartphones e disputa mercado com outros “predadores”.

São gigantes do setor tecnologia como as americanas Symantec e McAfee (Intel), as chinesas Baidu e Tencent, a tcheca Avast e a russa Kaspersky. Todas brigam por um mercado que deve movimentar US$ 5,7 bilhões, em 2019, segundo a consultoria Markets and Markets. Apesar de ainda não ser um peixe graúdo nesse mercado, a Psafe está conseguindo avançar. Desde sua criação, ela já captou US$ 90 milhões de fundos de capital de risco, como Redpoint eVentures, Pinacle Ventures e Qihoo 360 Technology. A startup já possui escritório no México. Em outubro, começou a operar no Vale do Silício, centro nevrálgico da indústria de tecnologia global, investindo US$ 20 milhões em um escritório em São Francisco.

Em 2017, o destino é a Europa. A empresa contabiliza 100 milhões de downloads de seu carro-chefe, o PSafe Total. Há 21 milhões de usuários mensais do sistema, sendo três milhões nos EUA. O faturamento é guardado a sete chaves, mas DeMello diz que a companhia será lucrativa em 2017. Por essa razão, especialistas acreditam que a PSafe é uma das candidatas a se transformar no primeiro unicórnio brasileiro, referência a startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão. “Não vejo valor de mercado como meta”, diz DeMello. “Nossa ambição é ser uma das maiores empresas de mobilidade do mundo.”

Formado em Engenharia da Computação pela PUC do Rio, com especialização em segurança no Massachusetts Institute of Technology (MIT) e pós-graduação e MBA pela Wharton School of Business, DeMello é dono de uma trajetória de sucesso. Em 1996, na Olimpíada de Atlanta, era funcionário da britânica Logica CMG. Em um contrato com a AT&T, ele foi responsável por uma das primeiras experiências de transmissão simultânea de som e imagem na web. DeMello criou um algoritmo que simulava uma webcam, sistema que foi usado para que fãs conversassem com os atletas em tempo real.

Sem suspeitar, esse foi um embrião do que um dia se tornaria a PSafe. Isso porque a experiência de Atlanta fez tanto sucesso que Bill Gates, então CEO da Microsoft, convidou o brasileiro para integrar o seu time. Foram dez anos de aprendizado para DeMello, que foi o responsável pela segurança do serviço de e-mail Hotmail e pelo desenvolvimento do Windows XP SP3. “Aprendi muito com Bill Gates, ele é um gênio”, afirma. “Ele era um CEO muito duro, uma pessoa franca e direta ao ponto.” Após sair da Microsoft, em 2006, DeMello criou a Malibu, companhia que comprava e vendia mídia na TV a cabo nos EUA. A empresa teve vida curta, pois foi comprada pelo grupo americano de publicidade Harris Media.

Em 2011, com a ajuda de um investimento de US$ 6 milhões e dos amigos americanos Ram Rao e Ben Myers, DeMello fundou a PSafe, que à época desenvolvia antivírus para desktop. Três anos depois, mudou o foco para celulares, num modelo gratuito. A rentabilidade do serviço vem da venda de publicidade. “O Marco DeMello é uma das pessoas do Brasil que mais conhecem segurança da informação”, afirma Manoel Lemos, sócio da Redpoint eVentures, cujo fundo é um dos investidores da PSafe. O coordenador do MBA em cibersegurança da Fiap, Marcelo Lau, avalia que a PSafe tem vantagens competitivas na sua estratégia de conquistar o mercado global, em especial, o americano.

Primeiro, porque muitos dos malwares que infectam celulares mundo afora são gerados no Brasil. Segundo, porque os americanos veem com desconfiança os softwares chineses. “Não se sabe até que ponto os chineses oferecem segurança ou se isso seria um mecanismo que pode ser usado para espionagem”, diz Lau. Mas há desafios no caminho. De acordo com o ranking da consultoria independente The Independent IT-Security Institute, a PSafe estava em 16º lugar no quesito proteção, em setembro, atrás de seus principais rivais. É mais um desafio para DeMello, que está acostumado a mergulhar com tubarões.