02/02/2024 - 9:00
Por Paula Cristina
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira (31) de reduzir a Selic mais 0,5 ponto percentual (para 11,25%) já era esperada pelo mercado, mas é o conjunto da obra que realmente sinaliza o horizonte do Brasil. O arrefecimento da inflação, as projeções de crescimento da atividade doméstica no Brasil e a previsão de fortalecimento das políticas de controle fiscal formam um cenário ideal para a revisão do PIB brasileiro em 2024, com os principais bancos já ajustando suas estimativas.
À frente desse movimento aparecem Fernando Haddad, ministro da Fazenda, prometendo controlar os gastos e estimular a atividade doméstica, e Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, sinalizando que nas próximas reunião, se tudo continuar como está, haverá mais cortes nessa magnitude. O mercado estima a Selic a 9% no fim do ano e o PIB crescendo 1,6%. Para Haddad, o corte do juro reforça a confiança do BC e do governo na retomada da economia.
O ministro cita como exemplo dessa “onda positiva” a alta indicada pelo FMI para o PIB deste ano, que passou de 1,5% para 1,7%, levemente superior à do mercado doméstico. Mas Haddad acha que será ainda maior. “Entendemos que o Brasil tem condição de crescer mais de 2% e vamos tomar medidas para que isso aconteça”, disse. “Podemos ter um ano acima das expectativas, como foi 2023.”
Para o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, a tendência é que a Selic continue na trajetória de redução. “As condições estão colocadas para uma contínua queda na taxa de juros e trazer a taxa para um patamar que a gente chama de mais neutro”, disse Mello. “Hoje ela ainda é contracionista. Ela segura a economia, puxa para baixo a economia.”
No mercado, essa sensação também foi sentida. Para Nicola Tinga, consultor econômico da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), o corte não prejudica o objetivo fundamental do Copom de assegurar a estabilidade dos preços, “mas também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”.
JURO AMERICANO
Nos Estados Unidos, na mesma quarta-feira (31) em que o Copom cortou a Selic por aqui, o Comitê Federal de Mercado Acionário (Fomc, na sigla em inglês), também fez o esperado pelo mercado e optou pela manutenção dos juros básicos no intervalo entre 5,25% e 5,50%.
Jerome Powell, presidente do órgão, apontou que ainda não irá reduzir a faixa da meta “até que tenha adquirido maior confiança de que a inflação está se movendo de forma sustentável em direção a 2%”.
À imprensa, ele disse achar improvável que o comitê do banco atinja um nível de confiança até a próxima reunião, em março, suficiente para reduzir os juros. Tudo em harmonia. Pelo menos até o governo daqui voltar a falar de retirar a autonomia do BC.