Há 20 anos atuando no mercado de luxo, o empresário paulista Marcus Matta, fundador e presidente da empresa de compartilhamento de aeronaves Prime Fraction Club, tem acompanhado a mudança no perfil daqueles que utilizam jatos executivos. Até há pouco tempo, a maior parte dos usuários eram bilionários que viajavam a lazer ou para conferir o desempenho de seus negócios. No entanto, Matta, que fundou sua companhia em 2010, em parceria com a corretora paulista Planner, vem percebendo a presença de mais e mais executivos que só voam a trabalho. 

 

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“As empresas começaram a comparar o custo de manter uma aeronave no céu com o tempo perdido por seus executivos ao usar a aviação comercial e perceberam que vale a pena investir no próprio avião”, diz ele. Para atender a essa demanda crescente e diversificada, Matta vem usando algo pouco associado à aviação executiva: crédito. Três das seis aeronaves de sua frota foram financiadas com os bancos, com empréstimos totais de R$ 89,9 milhões. A última aquisição foi um Phenom 300, da Embraer, avaliado em R$ 25 milhões. Os preços dos modelos mais vendidos no Brasil oscilam de modestos R$ 273 mil por um Cessna Skycatcher de dois lugares, até um Embraer Lineage, cujos 70 metros quadrados de cabine permitem muita flexibilidade. 

 

Vale até instalar um telão para videoconferência via Wi-Fi ou uma suíte com chuveiro e cama king size, desde que se esteja disposto a pagar algo em torno de R$ 130 milhões por toda essa comodidade. O financiamento desse mercado despertou a atenção dos bancos, que identificaram uma excelente oportunidade de negócios. “Em 2013, financiamos US$ 1 bilhão para a aquisição de 52 aeronaves”, diz Paulo Sodré, responsável pelo departamento de máquinas e equipamentos do BNDES. “O valor concedido e o número de aeronaves financiadas cresceu pouco, mas notamos uma mudança no perfil dos financiadores, a grande maioria novos empresários.”

 

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Marcus Matta: ”O mercado está aquecido e temos necessidade de adquirir novas aeronaves.”

 

O banco estatal, um dos principais financiadores desse gênero de operação, frequentemente repassa recursos para os bancos de varejo, por meio do Finame, para a compra de máquinas e equipamentos nacionais. Quem faz questão de um modelo importado pode recorrer às áreas private dos bancos que possuem departamentos especializados nesse tipo de aquisição. “Nosso serviço vai além do crédito. Fazemos também a importação da aeronave e cuidamos das questões burocráticas”, diz Maria Eugênia Lopez, diretora executiva de private do Santander. Segundo ela, os gerentes da área são treinados para entender de aeronaves e prestar consultoria aos clientes. 

 

De acordo com Matta, a conta para saber se vale a pena comprar um avião é simples. Para quem aluga um jato e voa até 30 horas por mês, no máximo, a melhor opção é continuar no aluguel ou compartilhar a aeronave com outro usuário. Quando o tempo passado nas nuvens supera 40 horas mensais, daí sim vale a pena pensar na aquisição. Indepen­dentemente do custo da aeronave em si, as despesas com combustível, seguro, manutenção, hangaragem (o “estacionamento” do avião) e o salário do piloto podem oscilar de R$ 7 mil a R$ 40 mil por mês (leia quadro). Compensa financiar? A principal vantagem é que aviões são considerados bens de capital, daí as taxas de juros mais em conta praticada pelos bancos, como Itaú, Santander, Bradesco e Banco do Brasil, entre outros. 

 

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No caso dos financiamentos, pelo Finame, de aviões fabricados no País, as taxas variam de 4% a 6,5% ao ano. Se a alternativa for um avião importado, o juro anual cobrado pelos bancos de varejo pode chegar a 8%. Além de conceder o credito, esse bancos costumam encarregar-se de todo o processo de importação para seus clientes do private. No ano passado, a carteira de crédito para aeronaves do BB foi de US$ 20 milhões. “É um volume ainda pequeno, mas com muito potencial”, diz Rogério Fernando Lot, diretor de private do BB. Além da atenção com as taxas e os prazos, segundo ele, o comprador deve estar atento aos detalhes. 

 

“Um empresário do agronegócio precisava de uma aeronave para percorrer suas fazendas, mas, ao escolher o modelo, ele não especificou que o avião tinha de poder pousar em pista de terra”, diz ele. O private do Bradesco, que desde 2010 atua com a carteira de financiamento à compra de aeronaves, garante ter 66% dos leasings de jatos. “O mercado brasileiro tem crescido de forma consistente nos últimos anos e atraído fabricantes internacionais. Por isso, o leasing despontou como uma das principais fontes de financiamento para aeronaves no Brasil”, diz José Ramos Rocha Neto, diretor da área de empréstimos e financiamentos do Bradesco. Com base em sua experiência de quase duas décadas no mercado, Matta, da Prime Fraction, diz que o financiamento compensa mesmo se o cliente puder pagar a compra à vista.

 

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“Olhe para o seu fluxo de caixa e seus investimentos”, diz. “Se o dinheiro ficar aplicado e render mais que as taxas, é interessante financiar, principalmente no longo prazo.” O empresário obteve os financiamentos anteriores com Itaú, Bradesco e Santander e já negocia um novo empréstimo com o banco espanhol para a compra de um novo modelo. “Vamos comprar um Phenom 100 avaliado em R$ 10 milhões”, afirma Matta. “O mercado está aquecido e temos necessidade de adquirir novas aeronaves.” Tanta demanda vem estimulando a Embraer Aviação Executiva, de São José dos Campos. 

 

Na opinião de Marco Túlio Pellegrini, presidente da companhia, os jatos executivos há muito deixaram de ser vistos como um brinquedo de luxo. “Muitos empresários do interior do País têm de se deslocar entre cidades diferentes, e o avião permite mais produtividade e eficiência”, diz ele. Pellegrini afirma que a Embraer espera entregar até 120 aeronaves neste ano. A empresa anunciou, no dia 27 de março, que investiu R$ 50 milhões em um hangar na cidade de Sorocaba. Com o fabricante investindo em novos espaços, os bancos concedendo crédito e os empresários demandando aeronaves, o céu é o limite para o mercado de aviação executiva.

 

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