24/08/2016 - 19:00
Você pode não saber o que faz um quarterback (dica: lidera o ataque no futebol americano), mas mais e mais cidadãos dos Estados Unidos já conhecem as leis de impedimento. Esse aumento do público vem criando oportunidades de investimento. Restrito a quem tem pelo menos US$ 20 milhões para investir, o negócio vem atraindo empresários brasileiros que querem unir sua paixão pelo esporte a retornos de dois dígitos em dólares.
É o caso de Rafael Bertani, CEO da Ronaldo Academy, franquia de escolas de futebol que Ronaldo Nazário, o Fenômeno, mantém com o bilionário Carlos Wizard Martins. Em parceria com Ricardo Geromel, irmão do zagueiro Pedro Geromel, e outros sócios, Ronaldinho e Bertani compraram um time na Flórida em 2014, o Fort Lauderdale Strikers. O valor, não confirmado, é estimado em US$ 10 milhões na aquisição da franquia, mais outro tanto para comprar os jogadores.
Os retornos dependem da liga (equivalente a uma divisão do futebol brasileiro) em que o time compete. Nas ligas mais acessíveis, como a NPSL, a quarta divisão dos Estados Unidos, os retornos podem chegar a 30% ao ano. É o caso de times como o Miami United, que recebeu US$ 4 milhões de um brasileiro bem conhecido no início deste ano: Adriano Leite Ribeiro, o Imperador. Ele comprou 40% do time e terá direito a parte dos US$ 5 milhões que o Miami United fatura por ano com patrocínio e venda de ingressos.
Como entrar nesse campo? Nos Estados Unidos, cada campeonato é organizado por uma liga. Os times são franquias desses eventos, como se fossem parte de uma cadeia de fast food. Esqueça tudo que você sabe sobre cartolas. Times americanos têm balanços auditados, governança corporativa e compliance. No caso dos maiores, o risco é avaliado por agências de rating. O ingresso na NASL, do Fort Lauderdale Strikers, custa US$ 10 milhões do novo comprador de uma equipe. Para participar da Major League Soccer (MLS), que organiza o torneio mais importante, com 20 equipes, é preciso desembolsar US$ 100 milhões, diz Pedro Daniel, responsável pela área de esportes da consultoria BDO RCS. “Como a NASL é uma liga ainda em desenvolvimento, é a que oferece mais oportunidades de investimento e ganho”, diz ele.
Os exemplos se multiplicam como gols em jogo da seleção alemã. Um dos pioneiros foi o empresário Flávio Augusto da Silva. Ele fundou a rede de escolas de idiomas Wise Up, que vendeu em 2013, por R$ 877 milhões. Parte disso, US$ 110 milhões, foi aplicada, no mesmo ano, na compra do Orlando City Soccer Club, em Orlando. Como a cidade não tem estádio de futebol, o contrato incluiu a construção de uma arena com capacidade para 18 mil pessoas, em parceria público-privada, por US$ 105 milhões. Quando foi comprado, o time pertencia à liga secundária USL, mas ascendeu à principal em 2015. O objetivo de Silva é que essa empreitada movimente US$ 1 bilhão a partir de 2020. Em março, um grupo de empreendedores americanos e brasileiros criou o São Francisco Deltas, que deve estrear em 2017. Entre os investidores estão Paulo Malzoni Filho, dono do Pátio Malzoni, edifício na Avenida Faria Lima que concentra a sede do Google e do BTG. Malzoni, que preside o conselho da Brascan, está investindo parte dos US$ 1,6 bilhão que recebeu da Brascan por vários shoppings centers de sua família em 2007. Quem tem menos recursos e quer sentir o gosto de ser dono de um clube pode optar pelo mercado acionário. Times do Reino Unido, da Alemanha e até mesmo do vizinho Chile lançaram ações em bolsa.
Isso está a anos-luz dos clubes brasileiros. “Por aqui, não há um órgão regulador que fiscalize as finanças, a governança e o compliance dos times, embora isso faça parte do projeto de refinanciamento de impostos, criado em 2015, e que teve a adesão de mais de cem clubes brasileiros”, diz Daniel. Os grandes times brasileiros em geral são associações sem fins lucrativos. Isso ocorre porque, dessa forma, eles pagam 5% de imposto, em vez dos 34% de uma companhia aberta. Nesse status, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) não autoriza a abertura de capital ou venda de qualquer produto financeiro relacionado às equipes. São poucos os clubes-empresa, geridos como companhias. O primeiro foi o Pão de Açúcar Esporte Clube, criado como um projeto social por Abilio Diniz em 1985. Em 2013, o time rebatizado de Audax foi vendido ao ex-conselheiro do Bradesco, Mário Teixeira, e renomeado como Grêmio Osasco Audax. Outros casos são o Red Bull, de Campinas (SP), que pertence à empresa austríaca de bebidas, e o Ferroviário S. A, de Araraquara (SP). Ou seja, para entrar em campo, é preciso arrumar as malas.