Não é fácil encontrar o parceiro ideal. Há quem recorra à maquiagem para se destacar em meio à multidão, e há quem prefira a discrição dos aplicativos e sites especializados. Neles, basta informar os dados essenciais – idade, interesses e nacionalidade – e o restante fica a cargo dos bits e bytes. Isso vale para todas as pessoas, tanto físicas quanto jurídicas. Cada vez mais, empresários brasileiros estão recorrendo a ferramentas tecnológicas para buscar parceiros estratégicos. As empresas solteiras procuram costurar fusões, aquisições ou investimento de fundos.

Isso é possível com a plataforma DealNexus, que se propõe a ser o Tinder ou o Par Perfeito do mundo corporativo. Criada como PE-Nexus em 2010, adquirida pela empresa americana de tecnologia Intralinks em 2013 e rebatizada DealNexus, a plataforma já intermediou 7.500 casamentos empresariais em todo o mundo, que movimentaram US$ 277 bilhões. Funciona da seguinte forma: os bancos de investimento cadastram as companhias no aplicativo e decidem quais interessados podem ver o perfil, que traz informações como área de atuação, Ebtida e localização geográfica.

Feito isso, aqueles que receberem a proposta podem curtir ou descartá-la. Se houver um interesse mútuo, as empresas podem conversar no ambiente virtual ou levar o assunto para o mundo real. Na América Latina, a plataforma já intermediou 300 negócios, que movimentaram US$ 15,5 bilhões. A maior parcela das transações envolveu o Brasil, com 142 operações ou US$ 8,2 bilhões. “Nosso objetivo é crescer localmente, por isso vamos abrir um escritório em São Paulo”, diz Anthony Hill, fundador do DealNexus e diretor da Intralinks. “A plataforma permite fazer negócios de forma mais eficiente, de tal modo que é possível que um dia os roadshows desapareçam.”

Na lista de usuários do DealNexus, aparecem grandes nomes como a Kinea Investimentos, gestora de private equity controlada pelo Itaú Unibanco, e outros menos conhecidos como a gestora gaúcha Magnólia Partners, que tem uma carteira de R$ 1,5 bilhão e é especializada em fusões e aquisições de companhias de médio porte. “O grande benefício dessa ferramenta é o contato com fundos de outros países. Com isso, aumentamos em 20% o leque de opções”, diz Eduardo Dallegrave Bugs, sócio da Magnólia. Há quem tenha ido além do namoro virtual.

É o caso da empresa de saneamento americana US Water Services que adquiriu , em 2013, a unidade de tratamento de água da Mt. Hood Solutions, que pertence à companhia Swisher Hygiene, que vale US$ 28,14 milhões na Nasdaq. Ferramentas como essa deverão sustentar o pique de um mercado que não perdeu o ritmo, apesar da desaceleração da economia brasileira. Em 2015, as transações escassearam em número, mas cresceram em valor. Em fevereiro, foram realizadas 58 fusões e aquisições, menor cifra para o mês nos últimos três anos. No entanto, o volume movimentado superou o total de 2014 e de 2013, segundo levantamento feito pela Transactional Track Records e pela Merrill Data e obtido com exclusividade pela DINHEIRO.

Entre as maiores operações estão a compra da ALL pela Rumo Logística, por R$ 10,96 bilhões, e o fechamento de capital da Souza Cruz com a venda das ações para o controlador British American Tobacco, por R$ 10,11 bilhões – negócio que ainda não foi aprovado. “As transações estão ocorrendo entre empresas de maior porte”, afirma Ana Paula Castro, vice-presidente para a América Latina da Merrill Data. Para Candido Bracher, diretor geral de atacado do Itaú Unibanco, a desvalorização do real torna as companhias brasileiras mais competitivas. “Veremos um ano aquecido para fusões e aquisições”, prevê. Já os private equities fizeram 11 aportes nos dois primeiros meses de 2015, com destaque para as áreas de mineração, imóveis e internet.

“Mas também há oportunidades no setor de energia”, afirma Alexei Bonamin, sócio do escritório TozziniFreire. “O empecilho é o reduzido número de aberturas de capital, que diminui a possibilidade de desinvestimento dos fundos.” Segundo Celso Portásio, sócio da RGF & Associados, as empresas passarão neste ano por uma reestruturação. “Há quem vá cortar custos e há quem deve se desfazer de áreas não estratégicas. É neste momento que aparecem as pechinchas.” O cenário é diferente quando o assunto são os fundos de venture capital. Eles têm dinheiro e apetite para gastar, o que explica o número de investimentos em 2015: já foram 24, quase 25% dos 111 negócios fechados em 2014.

Uma companhia que está na fila para receber aporte é a empresa de informática paulista Sensedia, que tem clientes do porte de Cielo e Bradesco Seguros. O investimento – cujo valor não foi divulgado – será usado para impulsionar o crescimento. “Queremos triplicar o número de clientes neste ano”, diz Kleber Bacili, presidente da Sensedia, que diz estar conversando com cinco fundos brasileiros de venture capital. A negociação tem sido pessoal, pois Bacili tem bom trânsito na área. “Mas usaria um aplicativo se estivesse interessado em encontrar um fundo internacional.”