13/11/2015 - 20:00
Entre os dias 25 e 28 de outubro, o executivo Marco Antonio Rossi participou de uma conferência em Santiago, no Chile, promovida pela Federação Internacional de Empresas de Seguros (Fides). Presidente da Bradesco Seguros e da CNSeg, a confederação do mercado segurador, Rossi concluiu, no evento, a transmissão do cargo de presidente da entidade internacional, que estava sob sua direção desde 2013, para a espanhola Pillar González. “Conseguimos passar um pouco da experiência do nosso País nesse período”, disse ele.
A satisfação do executivo pelo reconhecimento de seu trabalho somava-se à felicidade pessoal: ele conseguiu emendar uma curta viagem de férias, nos dias seguintes, com a esposa Maria Isabel, para Las Vegas. Sem os quatro filhos, que ficaram no Brasil, o casal dizia para os amigos que iria terminar os planos para as festas de final de ano. Na noite da última terça-feira 10, porém, o sonho dos Rossi e de outras três famílias foi brutalmente interrompido. O jato Cessna Citation 7, que pertencia à frota particular do Bradesco, decolou de Brasília às 18h39 com destino a São Paulo.
Mas a aeronave desapareceu do radar às 19h04 e foi encontrada em chamas numa propriedade na cidade mineira de Guarda-Mor, perto da divisa com Goiás. Quatro pessoas morreram: o próprio Rossi, Lúcio Flávio de Oliveira, presidente da Bradesco Vida e Previdência, o comandante Ivan Morenilla Vallim e o copiloto Francisco Henrique Tofoli Pinto. Aos 54 anos, Rossi era apontado como o favorito a ocupar a cadeira de Luiz Carlos Trabuco na presidência do Bradesco. Em 2017, Trabuco terá completado 65 anos e, pelo estatuto do banco, não poderá mais exercer a função executiva.
Ele ficará apenas na vice-presidência do Conselho de Administração, cargo criado por Lázaro de Mello Brandão em março de 2014. Rossi, que assumiu a Bradesco Seguros quando Trabuco foi para a presidência do banco, estava sendo preparado há mais de cinco anos para seguir o caminho de seu antecessor. “Ele e o Trabuco tinham perfis muito semelhantes, sempre dispostos a resolver conflitos”, diz Robert Bittar, presidente da Escola Nacional de Seguros. Na seguradora, que contribui com cerca de 30% dos resultados da instituição financeira, ele implementou uma série de inovações tecnológicas, principalmente para suportar a união de todas as carteiras.
O sucesso da empreitada lhe rendeu muitos elogios de dentro e de fora do Bradesco. Os resultados positivos somavam-se ao perfil preferido de Brandão, o responsável pela escolha do sucessor de Trabuco: 34 anos de casa, dedicação total à instituição, trabalho pelo conjunto, consistência nos resultados e vaidade sob controle. Tanto que, quando perguntado sobre a presidência do Bradesco, mesmo nos círculos mais íntimos, Rossi desconversava “porque não fazia sentido antecipar etapas”. O respeito aos colegas é um dos temas mais caros para o presidente do Conselho.
Lúcio Flávio, como era conhecido o presidente da Bradesco Vida e Previdência, era outro na lista de sucessores de Trabuco. Aos 55 anos, sua experiência em ter passado pela área comercial e pela direção executiva garantia a ele habilidades diferentes das de Rossi, que sempre viveu no mundo do seguro. Mas, até a semana passada, o caminho esperado era Lúcio Flávio assumir o cargo de Rossi na presidência da seguradora. “A sucessão vai acontecer porque outros nomes estão sendo preparados”, diz um executivo, que prefere não se identificar.
“O que o Bradesco perdeu foi a continuidade, algo importante para a cultura do banco.” Com a interrupção da continuidade, as cartas parecem ter sido embaralhadas novamente. Dos seis vice-presidentes, três têm mais de 34 anos de casa e os outros, menos de 15 anos – sendo que Maurício de Minas está há apenas seis no banco. Com isso, Brandão terá de escolher entre dois perfis: profissionais de carreira que conhecem profundamente a cultura Bradesco, como Domingos Abreu, Alexandre Glüher e Josué Pancini, ou executivos que rejuvenesceriam o comando por trazerem a experiência de mercado, como Minas, Marcelo Noronha e Sérgio Clemente.
Além deles, há uma terceira via: Joaquim Levy, que ocupa o cargo de ministro da Fazenda, mas está sob forte ataque do PT, do legislativo e, agora, até de empresários descontentes com o ajuste fiscal (ver reportagem aqui). Levy ficou apenas quatro anos no banco, mas esse período foi suficiente para conquistar o respeito e admiração de Brandão. Se as dúvidas sobre a sucessão de Trabuco tendem a aumentar, na seguradora elas parecem inexistir. Randal Zanetti, diretor-geral da Bradesco Seguros, assumiu interinamente, e deve ser confirmado como o principal executivo, nas próximas semanas.
Zanetti foi o fundador da Odontoprev, a empresa de seguro dental adquirida pelo banco em 2009, numa transação de R$ 670 milhões. O fundador não só ficou no quadro da seguradora como passou a ser elogiado pelo alto escalão do Bradesco. Marcio Coriolano, que estava a frente da Bradesco Saúde, corre por fora. Há 18 anos na instituição, ele deve ficar com o cargo de Lúcio Flávio no Bradesco e de Rossi na CNSeg. As eleições na entidade acontecem em fevereiro, embora possam ser antecipadas. Até lá, o vice-presidente Jaime Garfinkel, da Porto Seguro, ocupa interinamente o posto.