A Copa do Mundo de futebol mal terminou no Brasil, e uma nova seleção verde-amarela se prepara para jogar bola. Pela primeira vez, o País vai receber um dos mais importantes eventos mundiais da robótica: a Robocup 2014, que será realizada entre 19 e 25 de julho em João Pessoa, na Paraíba. Mais do que um evento universitário em que robôs disputam partidas de futebol, o que está em jogo no torneio é um espaço no bilionário mercado global de autômatos. No ano passado, a produção e a venda de robôs industriais e domésticos movimentaram US$ 28 bilhões (cerca de R$ 62 bilhões).

É mais que o dobro dos R$ 30 bilhões que o Brasil faturou ao sediar a Copa promovida pela Fifa. As perspectivas também são promissoras. Até 2020, estima-se que esse mercado alcance US$ 40 bilhões. Além disso, os negócios de robótica estão se ampliando para além de sua origem, a automação industrial. As vendas de robôs domésticos crescerão de US$ 1,6 bilhão, em 2012, para US$ 6,5 bilhões daqui a três anos, estima a consultoria americana ABI Research.

Atualmente, o mercado de robôs é dominado por empresas como a suíça ABB, que faturou US$ 41,8 bilhões no ano passado, dos quais 20% com processos de automação, e a japonesa Yaskawa, cuja receita alcançou US$ 2 bilhões. Seu espaço, porém, começa a ser desafiado por novas companhias. O Google já adquiriu oito empresas de robótica. A mais famosa, em 2013, foi a Boston Dynamics, conhecida por seus robôs que imitam movimentos de animais. Outra iniciativa em desenvolvimento, no Google, é o carro que dispensa motorista para andar.

A Intel é outra que tem projetos próprios com robótica, incluindo seus chips em máquinas que são controladas remotamente. A tecnologia foi desenvolvida pela americana. Um dos robôs com cérebro da Intel, por exemplo, tem a fama de nunca perder uma partida de “pedra, papel e tesoura”. Enquanto isso, o Brasil luta para sair da terceira divisão desse mercado. A produção local de robôs é praticamente nula. “Somos meros importadores”, afirma Flávio Tonidandel, chefe da equipe que vai disputar a Robocup pela Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), na qual coordena o curso de ciência da computação.

“É um mercado que precisa ser criado no Brasil.” Por isso, o torneio de João Pessoa servirá a vários objetivos: trocar informações e fazer contatos com especialistas em robótica de outros países, atualizar-se sobre o que há de mais moderno no setor e atrair apoio para a criação de um robô com tecnologia nacional. “Não temos expectativa de vencer a competição”, afirma Danilo Perico, que faz parte da equipe e cursa doutorado em engenharia elétrica na FEI. “Mas poderemos trocar conhecimento com outras equipes.”

Além da FEI, a Universidade Estadual Paulista e a Sociedade Brasileira de Computação também estarão envolvidas no evento. O governo da Paraíba, Estado que sediará o torneio, comprometeu-se a investir no setor de robótica. Empresas como a americana Oracle e a dinamarquesa Lego também colocam dinheiro no desenvolvimento da indústria brasileira. O País, por exemplo, é o que tem mais crianças e jovens aprendendo noções de robótica com as plataformas da Lego. São 1,2 mil instituições de ensino.

Em apenas uma delas, o Sesi, 190 mil aprendem noções de robótica com as plataformas da companhia dinamarquesa. Eles também participam da Robocup. “Cerca de 90% de todos os inscritos na categoria júnior da Robocup usam as soluções da Lego”, afirmou Marcos Wesley, presidente da Zoom, escola conveniada pela Lego para administrar o aprendizado na ferramenta (leia mais sobre a Lego aqui). Cerca de 60 mil visitantes devem passar pelo evento, que contará também com a demonstração de robôs mordomos, salva-vidas e motoristas.

Enquanto isso, em campo, as equipes tentarão mostrar que estão mais perto do objetivo da Robocup, que foi criada em 1997, no Japão – o de criar, até 2020, máquinas capazes de vencer humanos em uma partida de futebol. Se o Brasil quiser evitar uma goleada no campo da robótica nos próximos anos, deve correr para construir seu Neymar 2.0. No torneio da Fifa, perdemos feio para os alemães. No futebol dos robôs, o último campeão mundial foi o Japão, que ganhou por um apertado placar de 4 a 3 contra Taiwan, no ano passado. E, nesse torneio, o País é considerado, por enquanto, um azarão. Conseguirá virar o jogo?