12/01/2011 - 21:00
A destreza de um malabarista. A precisão de um equilibrista. A agilidade de um trapezista. A atenção de um domador de leões. Essas são as qualidades necessárias para o investidor que quiser fazer seu dinheiro apresentar um desempenho digno de aplausos no picadeiro dos investimentos. Depois de um ano em que ganhar dinheiro foi muito difícil devido às indefinições do cenário internacional e das eleições no Brasil, 2011 começa com duas certezas. A primeira delas é que a economia e o mercado estão muito mais estáveis do que no passado recente. A segunda certeza é de que essa estabilidade reduz a rentabilidade das aplicações e diminui a oferta de oportunidades. “O Brasil está se tornando um país desenvolvido, o que quer dizer menos riscos e menos ganhos para o investidor”, diz o ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários Ary Oswaldo Mattos Filho.
Estabilidade: em 2010, a bolsa apresentou a menor volatilidade dos últimos 30 anos
Os números comprovam que o País está mais estável. “Em 2010, a bolsa de valores apresentou a menor oscilação dos últimos 30 anos”, diz Einar Rivero, sócio da Economática, empresa de informações econômicas que responde pelos dados do guia Onde Investir em 2011.
Só para comparar, na crise de 2008 a volatilidade chegou a 55 pontos percentuais. Em 2010, ficou em 20 pontos. As oscilações diminuíram porque o mercado agora tem mais dinheiro.
Ainda segundo a Economática, o valor de mercado das empresas negociadas na bolsa brasileira atingiu US$ 1,5 trilhão no fim de 2010, o maior valor da história. No jargão dos economistas, a quantidade de dinheiro em um mercado chama-se liquidez; quanto mais líquido, mais estável tende a ser um mercado.
Estabilidade e liquidez são essenciais para qualquer país, pois elas facilitam o desenvolvimento da economia. No entanto, esses fatores tornam a vida do investidor mais difícil.
Quem tem aquela sobra de caixa magicamente resgatada do consumo terá mais dificuldade para fazê-la obter um rendimento que atraia os aplausos da plateia. “O cenário está menos favorável para o investidor”, diz Dalton Gardiman, economista-chefe da corretora Bradesco.
Mais liquidez quer dizer que os preços ficam mais homogêneos, o que significa menos oportunidades. O melhor exemplo dessa mudança são as aplicações em dólar. Em períodos de crise, como 2002 e 2008, a moeda americana oscilou violentamente, mas esses anos foram exceções.
Em 2010, o dólar fechou em queda e os prognósticos para 2011 são de uma alta de minguados 5%. Na ponta do lápis, quem investir nas verdinhas vai perder para os juros e para a poupança.
Com sorte, o investidor no dólar conseguirá preservar seu dinheiro da inflação. “Até há pouco tempo, o dólar funcionava como uma proteção, mas hoje isso deixou de ser verdade”, diz Marcelo Mello, vice-presidente da SulAmérica Investimentos.
Da mesma forma, 2010 tinha tudo para ser espetacular para as ações. No entanto, o Índice Bovespa atravessou quase todo o ano no vermelho, e por muito pouco apresentou uma valorização de apenas 1%.
Os administradores de fundos que ganharam dinheiro no ano passado precisaram da destreza e da precisão de um atirador de facas que executasse seu número de olhos vendados. Um bom exemplo foi o do fundo Bogari Value, fundo de ações do tipo Ibovespa Livre que apresentou a melhor relação entre risco e retorno no período analisado.
Flavio Sznajder, gestor do fundo, concentrou suas apostas não nas blue chips como Vale do Rio Doce e Petrobras, mas em papéis menos conhecidos, como os da empresa de saúde Tempo Assist e os da construtora Helbor.
“Desde o início, 2010 demonstrava ser um ano difícil para escolher ações”, diz Sznajder. Não por acaso, em 2010 os índices de ações apresentaram um desempenho muito variado, mas todas as aplicações perderam para o ouro.
Para 2011, Sznajder espera um ano mais positivo, mas também diz acreditar que terá muito trabalho para escolher os melhores papéis. Sznajder não é o único: uma enquete com grandes corretoras mostra uma ampla variedade de recomendações para os papéis matadores. “O ano de 2011 não será um período de escolhas fáceis”, diz Ricardo Tadeu, estrategista da corretora Planner.
Nesse cenário, há cada vez mais vantagens para o investidor que entregar as decisões sobre seu dinheiro a um profissional. Os administradores de fundos são capazes de malabarismos e truques que a maioria dos investidores não deveria tentar fazer em casa.
O melhor exemplo é apostar na baixa das ações. “Em outubro de 2010, os fundos de ações assumiram a maior posição vendida da história”, diz Rivero, referindo-se a uma estratégia de mercado em que os gestores ganham quando os preços caem. “Isso mostra que as estratégias estão mais sofisticadas.”
A pedido da DINHEIRO, a Economática analisou mais de seis mil fundos de diferentes tipos para descobrir os melhores para o investidor, ou seja, aqueles que oferecem a melhor relação entre a rentabilidade do fundo e o risco que o gestor teve de correr para obtê-la.
Para isso, usou um indicador tradicional da indústria de fundos, o índice de Sharpe. Batizado em homenagem ao acadêmico americano William Sharpe, que recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 1990, o índice mede o desempenho de um fundo em comparação com um ativo financeiro livre de risco – no caso, consideraram-se os juros de mercado, medidos pelos Certificados de Depósito Interfinanceiro. Para entrarem na lista, os fundos tinham de obedecer a alguns critérios.
Tinham de estar abertos à captação e não poderiam ser exclusivos, ou seja, destinados a um único investidor ou grupo de investidores. Foram excluídos os fundos com menos de 50 cotistas.
Carteiras que apenas receberam dinheiro de outras (os chamados fundos-mãe) também foram cortadas, usando-se para isso o critério de taxa zero de administração e ausência de valor mínimo para aplicação.
Além disso, somente entraram na amostra fundos com patrimônio superior a R$ 5 milhões e existência mínima de 12 meses, até novembro de 2010. “Esses critérios eliminaram os fundos que não estão disponíveis ao investidor comum”, diz Rivero.
Os dados foram fornecidos pelos próprios gestores e administradores de fundos à Associação Brasileira das Entidades
dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), cuja base de dados a Economática usou para elaborar as tabelas que acompanham as reportagens.
O resultado desse trabalho está nas páginas a seguir. Com este guia, DINHEIRO preparou o terreno para que suas próximas decisões financeiras rendam apenas aplausos e sorrisos em 2011. Bons investimentos!
Colaborou Flavia Lima