Nem mesmo a proximidade do Natal, cujo clima festivo costuma contagiar até os mais pessimistas, está conseguindo animar o setor produtivo. Na sexta-feira 12, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou que a confiança dos empresários permaneceu, em dezembro, no patamar de pessimismo pelo nono mês consecutivo. Dois dias antes, em um evento promovido pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), em São Paulo, o desânimo era geral. Enquanto aguardavam a palestra do vice-presidente da República, Michel Temer, cerca de 400 empresários e executivos conversavam, entre sucos e canapés, sobre o atual momento econômico.

Expressões como “ano perdido” e “que venha logo 2015” eram frequentes e retratavam o baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, estimado em apenas 0,2% pelo mercado financeiro. Coube ao empresário João Doria Jr., anfitrião do encontro, a missão de sacudir o ânimo da plateia. “Não cabe aqui nos deixar impregnar pelo pessimismo”, afirmou o presidente do Lide. No seu discurso, Temer reconheceu que o governo não conseguiu realizar uma ampla reforma tributária, mas destacou que 56 setores foram desonerados, o que gerou uma queda de R$ 80 bilhões na arrecadação.

“É preciso um corte de despesas governamentais e uma leve reforma fiscal que permita depois uma redução de juros e tributos”, afirmou Temer, que elogiou a nova equipe econômica. No entanto, ressabiada, a plateia não chegou exatamente a se entusiasmar com a fala do vice-presidente, preferindo aguardar os detalhes da nova política econômica antes de tomar a decisão de desengavetar projetos. “Os bons presságios trazidos pela nova equipe econômica precisam se confirmar”, diz Julio Fontana, presidente da Cosan Logística.

“É uma situação que não é confortável, mas tampouco é desesperadora”, afirma Flávio Meneghetti, presidente da Fenabrave, entidade que representa as concessionárias de veículos. Para complicar, os recentes indicadores econômicos não têm colaborado para desanuviar o clima empresarial. Segundo o IBGE, o índice de emprego na indústria caiu em outubro, pelo sétimo mês consecutivo, e a inflação acumulada em 12 meses está em 6,56%, acima do teto da meta. Mas, ainda que falte confiança, há quem esteja disposto a enfrentar o desafio. “Eu não sou pessimista”, afirma Aldo Leone Filho, presidente da agência de turismo Agaxtur. “Vai ser um ano difícil, mas que pode ser bom para quem for competente.”