Em 2009, os jovens empreendedores Drew Houston e Arash Ferdowsi foram convidados para um encontro com o lendário Steve Jobs, fundador da Apple, morto em 2011. Há três anos, eles haviam desenvolvido o DropBox, um serviço de armazenamento online independente da plataforma. No encontro, Jobs, que sabia das coisas, teria feito uma proposta de US$ 800 milhões aos dois garotões, então com menos de 30 anos. A dupla, acredite, simplesmente disse não a Jobs. Conhecido pelo seu estilo explosivo e por não medir as palavras quando é contrariado, Jobs foi direto ao ponto. “Se eu não puder comprá-los, vou acabar com vocês.” 

 

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Davis contra Golias: com concorrentes de peso no mercado de armazenamento,

Houston (dir.) e Ferdowsi terão que derrubar titãs 

 

Dois anos depois, ele lançaria o iCloud, cujo conceito era semelhante ao do DropBox, mas atrelado aos produtos da Apple. A recusa, naquela época, poderia soar como loucura de dois jovens sonhadores ou um tanto sem noção. Mas sem a Apple e com o apoio de investidores de capital de risco, Houston, que é o CEO, e Ferdowsi, responsável pela parte tecnológica, estão por trás de uma das startups mais quentes do Vale do Silício, região da Califórnia onde estão localizadas as empresas de tecnologia. Na semana passada, com o aporte de US$ 250 milhões feito pelo fundo americano BlackRock, tradicional investidor em companhias inovadoras, o DropBox foi avaliado em US$ 10 bilhões, 12 vezes mais do que Jobs estaria disposto a pagar pelo serviço há quatro anos. 

 

Mas será que eles valem mesmo tudo isso? O faturamento do DropBox deve ter chegado ao redor de US$ 200 milhões, em 2013, de acordo com estimativas. É, de fato, pouco para uma companhia cujo valor de mercado supera o da petroquímica Braskem, uma das maiores do mundo em seu setor, cujas receitas foram 85 vezes superiores às do DropBox. No entanto, seu crescimento é acelerado. Em três anos, as vendas multiplicaram-se por 20. A startup conta com mais de 200 milhões de usuários. Mas o que faz diferença, mesmo, é o número e a qualidade das empresas que aderiram aos serviços. Entre elas, encontram-se várias listadas na Fortune 500. 

 

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Rival: depois da negativa do DropBox, Steve Jobs lançou o iCloud

 

Atualmente, contam-se mais de quatro milhões de companhias que querem administrar como seus funcionários armazenam arquivos online. Essas empresas pagam por serviços de segurança e outros recursos premium, o ganha-pão do DropBox. O dinheiro do BlackRock será usado para que a companhia avance na área de software, integrando a plataforma online a serviços offline em desktops, smartphones e tablets. “Agora, eles precisam focar no produto”, diz Matt Murphy, analista do fundo de investimento americano Kleiner Perkins Caufield & Byers. “O alto valor costuma gerar uma pressão dentro da empresa.” A ameaça não é apenas interna. O DropBox enfrenta adversários poderosos no mundo online. A Apple é um deles, com o seu iCloud. 

 

Mas a empresa da maçã está longe de ser a mais perigosa. O Google, com o seu Drive, a Microsoft, com o Outlook, e a Amazon.com, com o S3, tentam roubar terreno do DropBox. Os rivais têm como vantagem o fato de trabalhar de forma integrada com seus outros produtos. Além disso, seus serviços básicos, que são gratuitos, oferecem muito mais espaço de armazenamento do que o DropBox, que começa com apenas 2 gigabytes. Nada disso parece tirar o brilho do DropBox. Além do BlackRock, a empresa já levantou recursos do Goldman Sachs, Sequoia Capital, Index Ventures e Accel Partners. Todos eles viram um enorme potencial de valorização da companhia. Sua principal vantagem é ser um serviço fácil de usar e agnóstico de plataforma. Tanto faz se é um PC ou Macintosh, smartphone ou tablet. E, pelo menos até agora, a dupla de São Francisco não tem do que se arrepender ao recusar a oferta de Jobs.

 

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