27/10/2014 - 0:00
Os Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro têm sido castigados pela escassez de chuva neste ano. Na capital paulista, onde a situação é mais alarmante, o chamado sistema Cantareira opera no limite, com represas ressequidas, que mais lembram poças d’água. A consultoria meteorológica Climatempo tampouco traz boas notícias: não há expectativa de que chova o suficiente para abastecer os reservatórios nos próximos meses, o que pode ser traduzido como tempos difíceis não só para a população como também para as empresas em suas operações do dia a dia.
No entanto, há quem não tenha por que se queixar da estiagem, que vem turbinando seus negócios. É o caso das companhias de transporte de água potável, que aumentaram os preços de seus caminhões-pipa, em São Paulo, em até 275%. O valor do serviço ficou entre R$ 600 e R$ 1.500, muito acima dos R$ 400, em média, cobrados há algumas semanas. A Lindoya Verão, que comercializa água mineral, nos últimos meses, se preparou para atender ao dobro da demanda atual e já reajustou em 10% seus preços. No varejo, a rede de supermercados americana Walmart comprova a tendência.
A companhia apurou crescimento de 50% nas vendas de garrafas de água mineral de janeiro a setembro, na comparação com mesmo período no ano passado. Em períodos críticos como o atual, ideias inovadoras – que podem ser embriões de grandes empresas no futuro – ganham evidência. Micro e pequenos negócios podem se beneficiar e se desenvolver. É o caso do engenheiro Pedro Ricardo Paulino, dono da Wateair, de Valinhos, no interior paulista, que criou, em 2010, uma máquina que produz água condensando a umidade do ar.
A invenção de Paulino purifica e torna a substância potável, adicionando a ela sais minerais. “A água sai própria para consumo e ainda geladinha”, diz. Em quatro anos, o empreendedor faturou R$ 6 milhões com a venda de 65 equipamentos. Cerca de R$ 4 milhões vieram dos últimos dois meses. A paulistana DryWash, que ampliou seu faturamento em 30% neste ano lavando carros sem utilizar uma gota d’água sequer, também está surfando na seca. Suas vendas devem superar a marca de R$ 45 milhões em 2014. A explosão da procura por lavagem a seco contrasta com o ceticismo do consumidor em relação ao serviço de anos atrás.
Quando fundou a DryWash, em 1994, o empresário Lito Rodriguez enfrentou resistência ao tentar convencer os clientes – acostumados à mangueira e ao pano no balde – de que seu produto, uma mistura química à base de cera de carnaúba, era uma alternativa ecológica e eficaz. “Vivia me questionando por que usavam tanta água para lavar um carro”, diz o empresário. Após testar a fórmula em seu lava-rápido e verificar que os clientes saíam satisfeitos, Rodriguez começou a expansão de seu negócio. Em 1998, abriu a primeira loja das 72 de sua rede de franquias, no shopping Barra Garden, no Rio de Janeiro.
Em seguida, desenvolveu uma linha própria de produtos para a limpeza de carros e passou a vendê-los na internet, através de parceiros como Lojas Americanas e Submarino. “A estratégia da DryWash é operar em canais variados, para dar o máximo de saída aos seus produtos e serviços”, diz Rodriguez. Em 2015, a empresa entrará com força no varejo. O Walmart vai distribuir os produtos da marca em 150 hipermercados. “A multicapilaridade é uma estratégia inteligente, contanto que um canal não canibalize o outro”, diz Lyane Bittencourt, consultora especializada em franquias.