17/10/2012 - 21:00
Para bater à porta de um investidor não basta apenas ter uma boa ideia ou um negócio promissor. Existe um componente mais importante do que isso: o próprio empreendedor. “Preferimos um empreendedor classe A com um negócio classe B do que o inverso”, diz Felipe Marcondes de Mattos, diretor de investimentos da CVentures, que investe em pequenas e médias empresas no Brasil. De acordo com ele, há ótimos projetos, mas a carência de talento humano ainda é muito grande no País. Dinheiro também não falta. No ano passado, o mercado de private equity e venture capital movimentou US$ 7 bilhões no Brasil contra US$ 1 bilhão em 2010, de acordo com um estudo do Emerging Markets Private Equity Association (Empea).
Toscana, da Trivèlla: ele busca empresas que atendam classe C, e companhias de energia e tecnologia
Mas a preocupação com o empreendedor é tão grande que algumas empresas colocam psicólogos para avaliar o perfil do empresário. É o caso da própria CVentures. “Hoje, antes de investir, nós fazemos um teste de comportamento organizacional com psicólogos”, afirma Mattos. Segundo a Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP), que reúne os fundos de investimento de mais de mil empresas que já receberam aportes de capital nos últimos anos no Brasil,mas ainda não é possível precisar quantas dessas empresas são pequenas ou médias. O que se sabe, no entanto, é que vem crescendo o número de fundos de private equity e venture capital interessados neste nicho de mercado.
“As empresas grandes não têm coragem ou agilidade para fazer transformações profundas e romper com padrões estabelecidos”, afirma Robert Binder, coordenador do Comitê de Empreendedorismo da ABVCAP. “Isso cabe às pequenas e médias e o papel do empreendedor é fundamental.” Binder também é responsável pelo Criatec, um fundo de investimentos de capital semente (do inglês seed money), destinado à aplicação em empresas emergentes inovadoras, com capital de US$ 100 milhões. Ele já investiu em 36 empresas, nos últimos quatro anos, em áreas diversas como a de biodefensivos agrícolas (Rizoflora) e jogos musicais (Daccord).
De acordo com Binder, que escolhe um de cada 100 negócios que avalia, é preciso estar preparado para falar com um investidor. “Quando a primeira frase é ‘vou entrar em um mercado sem concorrentes’, a luz vermelha acende e o empreendedor está fora”, afirma Binder. Nem todos pensam assim. Para Jon Toscano, presidente da Trivèlla Investimentos, uma gestora com foco em pequenas e médias companhias, o perfil do empreendedor já melhorou muito no Brasil. “Hoje, eles estão mais abertos às críticas e correções de rumo e às empresas”, diz o investidor. Os olhos de Toscano estão voltados para os empreendedores com empresas atrativas em cidades que têm entre 200 mil e um milhão de habitantes.
A Trivèlla investe na Opto, que acaba de enviar um satélite ao espaço, e na DGM Energia, que faz máquinas pesadas para a indústria de energia, com clientes como Bosch, Siemens, Cooper Energy e Lorenzetti. E o que elas têm em comum? “Setor atrativo, empresários honestos, produtos globalmente competitivos e um plano audacioso de crescimento”, afirma Toscano. Neste momento, a Trivèlla está montando um fundo com US$ 200 milhões a serem captados de investidores locais e estrangeiros. A ideia é investir em fabricantes de produtos de consumo para a classe C, em companhias de energia e de tecnologia. “Estamos vendo diversas empresas que cresceram de forma desordenada e precisam urgentemente de capital para colocar a casa em ordem”, afirma Toscano.