21/03/2014 - 21:00
Seu rosto não é tão conhecido no Ocidente quanto o de Mark Zuckerberg, do Facebook. Mas o chinês Jack Ma, 49 anos, fará o que deve ser a maior abertura de capital de 2014, podendo, inclusive, superar a captação da rede social de Zuckerberg, segundo vários analistas. Ma é fundador do Alibaba, site de comércio eletrônico chinês chamado de a Amazon da China, que decidiu fazer o seu IPO nos Estados Unidos. Estimativas conservadoras indicam que o gigante chinês pode levantar mais de US$ 15 bilhões. Seu valor de mercado pode alcançar US$ 200 bilhões, fazendo a companhia se transformar na segunda mais valiosa da internet, atrás apenas do Google – e à frente do Facebook.
Estou chegando: “Vamos nos tornar uma empresa com importância global”, diz Ma
“Vamos nos tornar uma empresa com importância global e com maior transparência”, disse Ma, que é o chairman da empresa. Por que o Alibaba conta com números tão superlativos? A resposta é simples. O site de comércio eletrônico chinês pode ser considerado o maior bazar do mundo, onde se encontra – e se compra – praticamente de tudo. Ele tem 24 divisões de negócios e diversos sites que conectam empresas com os seus clientes. Entre eles, a Alibaba.com, operação de vendas entre empresas; o Taobao, maior e-commerce chinês; o TMal, shopping que vende produtos autênticos de marcas como Levi’s e Gap; e o AliPay, um meio de pagamento online similar ao PayPal, com mais de 600 milhões de contas.
A principal fonte de receita do Alibaba é uma taxa cobrada pela venda dos produtos em suas propriedades. Em alguns casos, usuários e lojistas pagam também por anúncios para ganhar destaque na vitrine virtual. No ano passado, estima-se que mais de US$ 200 bilhões foram gerados através dos sites da Alibaba. É mais do que a Amazon e o eBay combinados. Analistas acreditam que a operação de Ma será a primeira no mundo a transacionar mais de US$ 1 trilhão. Durante o equivalente chinês ao Black Friday, data de promoções dos varejistas dos EUA, o site transacionou mais de US$ 5,75 bilhões em um único dia, três vezes mais do que todas as lojas americanas. A companhia contava, em 2012, com 36,7 milhões de usuários registrados de 240 países. Mais de 60% dos pacotes entregues na China são de compras feitas em alguns dos sites do Alibaba.
Com 24 mil funcionários, a empresa emprega mais pessoas do que Facebook e Yahoo! juntos. Este último detém uma fatia de 24% do Alibaba. Ma, um ex-professor de inglês, fundou o Alibaba em 1999. O nome faz referência à famosa história árabe de “Alibabá e os 40 ladrões”. Ele justificou a escolha por ser uma palavra fácil de ser pronunciada em diversas línguas e um conto universal conhecido no mundo todo. Com uma fortuna estimada em US$ 10 bilhões, Ma é o sexto homem mais rico da China. Apesar de ter criado uma operação online, ele passa pouco tempo na internet e depende de ajuda de seus colegas para baixar seriados americanos para o seu iPad. Gosta de jogar pôquer e interessa-se pela medicina tradicional chinesa. “Negócios não são seu primeiro amor”, diz Orville Schell, amigo de Ma e ex-reitor da Universidade da Califórnia, em Berkeley.
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O samba de uma nota só da King
Na quarta-feira 26, a desenvolvedora britânica de games para celulares King deve abrir seu capital na Bolsa de Nova York. A expectativa é que capte US$ 500 milhões, sendo avaliada em US$ 7,1 bilhões. Trate-se de um valor e tanto para uma companhia cuja receita vem de games. Mas seus números justificam o otimismo. Em 2013, seu lucro cresceu impressionantes 7.000%, passando de US$ 7,8 milhões para US$ 567,6 milhões. O faturamento foi multiplicado por dez, chegando a US$ 1,9 bilhão. Qual é o segredo desse avanço? O jogo pela qual ela é conhecida. A King, comandada por Riccardo Zacconi, é mais lembrada como a desenvolvedora do jogo Candy Crush, um sucesso e tanto.
Apesar de ter mais de 180 jogos, ninguém sabe quais são eles. Esse game, realmente, é um divisor de águas no mercado móvel. Ele foi o primeiro título a trabalhar com maestria a integração celular e Facebook. Mas, ao mesmo tempo em que é a principal fortaleza da King, a grande dependência do Candy Crush é sua maior fragilidade. A King terá de buscar novas fontes de receitas e criar novos games que caiam no gosto popular. “O que pode ser feito são pesquisas e acompanhar a receptividade do mercado para fazer mudanças”, afirma Mauricio Tadeu Alegretti, diretor de tecnologia da desenvolvedora de games SmyOwl. “Mas nada que garanta o sucesso.”
Zacconi: o desafio é criar um novo sucesso que supere o game Candy Crush
O medo dos investidores é de que a King repita a trajetória da desenvolvedora de games americana Zynga. Em 2011, ela era a estrela do mercado de aplicativos para celulares e para Facebook, com o FarmVille. Em dezembro de 2011, abriu o capital e captou US$ 1 bilhão. Desde então, a empresa não conseguiu emplacar nenhum jogo de grande impacto. No ano passado, a Zynga amargou um prejuízo de US$ 36 milhões e seu faturamento caiu 31%, fechando o ano fiscal em US$ 873 milhões. “E se as pessoas pararem de jogar o Candy Crush?”, diz Brian Blau, analista da consultoria americana de tecnologia Gartner. Se isso acontecer, o samba da King vai, com certeza, desafinar.