O novo primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, escolhido pelo Parlamento na segunda-feira (24), no lugar da meteórica Liz Truss, tem tudo para construir uma biografia memorável. Ao menos é o que sugere a história política do Reino Unido. Os mais famosos a ocupar o mesmo cargo ascenderam em contextos de profundas dificuldades macroeconômicas. Na Segunda Guerra, Winston Churchill assumiu papel protagonista no enfrentamento da Alemanha de Adolf Hitler. Tempos depois, nas repetidas recessões da década de 1980, Margaret Thatcher – apelidada por muitos como a “dama de ferro” – conduziu o país com pulso firme, e na política externa foi à guerra contra a Argentina pelas Ilhas Malvinas, em 1982.

As páginas viraram, mas alguns dos problemas resistem ao tempo. Em proporções menores, mas com riscos equivalentes, Sunak assume, aos 42 anos, a nação com um mix de todos esses desafios: guerra na Ucrânia, inflação acima de 10%, risco energético e crise de confiança aprofundada pelo Brexit. “Nosso país está enfrentando uma aguda tribulação econômica. As consequências da Covid ainda perduram”, disse Sunak, em seu primeiro discurso como chefe de estado. “A guerra de Putin na Ucrânia desestabilizou os mercados de energia e as cadeias de suprimentos em todo o mundo”, afirmou. Ele é o sétimo político a assumir o cargo em 25 anos e o terceiro em menos de quatro meses.

840 milhões de dólares é a fortuna de sunak estimada pelo londrino sunday times 

O premiê britânico, diferentemente de seus antecessores (Boris Johnson, um ex-jornalista, e Liz Truss, uma política de carreira, filósofa e ex-executiva do médio escalão da Shell), entende de dinheiro. Sua fortuna é estimada pelo ranking do jornal londrino Sunday Times em US$ 840 milhões, o equivalente a R$ 4,4 bilhões. Essa dinheirama é duas vezes maior do que a fortuna estimada do rei Charles 3°. Além de multimilionário, Sunak é o primeiro premiê não branco e de origem asiática do Reino Unido. A prosperidade financeira do primeiro-ministro, que nasceu em berço de ouro e construiu uma carreira de sucesso no setor financeiro, teve também uma ajudinha do sogro. Narayana Murthy é cofundador da gigante de tecnologia indiana Infosys. A empresa é uma das líderes globais de engenharia de softwares. Sozinho, Murthy é dono de um império de de US$ 4,5 bilhões, segundo o ranking da Forbes. Ele é a 41ª pessoa mais rica da Índia e está entre os 700 mais ricos do mundo no ranking de bilionários da revista americana.

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O polpudo patrimônio de Sunak tem despertado críticas entre políticos da oposição, principalmente das alas mais focadas em planos sociais e trabalhistas. A tese é que o novo premiê é rico demais para a função, e que estaria desconectado da realidade. Mas não é o que ele tem apresentado nos discursos e no comportamento. No início da pandemia, a popularidade dele disparou ao ajudar a aprovar um pacote de socorro de 350 bilhões de libras. No pronunciamento do lado de fora de sua residência oficial em Downing Street, Sunak elogiou a ambição de sua antecessora de reacender o crescimento econômico por meio de corte de impostos e aumento dos gastos, mas afirmou que esse plano seria um grande erro nesse momento. Prometeu tributar os mais ricos e ajudar a população a enfrentar a crise. “Fui eleito líder do meu partido e seu primeiro-ministro, em parte para consertar os problemas”, disse Sunak. “Entendo também que tenho trabalho a fazer para restaurar a confiança.”

Para Rafael Marques, economista da Philos Invest, Sunak terá que praticar uma política econômica ortodoxa para recuperar a credibilidade da economia inglesa. “Desde o Brexit, o país faz uma trapalhada após a outra”, disse Marques. “Os britânicos puderam errar enquanto o mundo ia bem, mas com um mundo volátil e cheio de problemas não há mais espaço para equívocos”, afirmou.

Agora, está nas mãos de Sunak a caneta de chefe de estado da oitava maior economia do planeta. Com essa mesma caneta Sunak poderá tirar o Reino Unido da crise e escrever sua biografia de sucesso para a posteridade. As páginas estão em branco.