19/07/2013 - 21:00
Abrir o capital em bolsa é um marco na vida de qualquer empresa. Proporciona visibilidade e acesso a recursos não disponíveis para empresas fechadas. De olho nessas oportunidades, a Attitude Global, multinacional brasileira de prestação de serviços para investidores e de comunicação estratégica, quer tocar o sino no pregão da BM&FBovespa até janeiro de 2015. Esse plano é mais do que um desejo: está registrado em seu estatuto social desde que a gestora de recursos carioca Jardim Botânico Investimentos injetou R$ 15 milhões na Attitude, em dezembro de 2009. Um de seus fundos de private equity comprou 30% das ações e a saída da Jardim Botânico está marcada para 2015.
Rodolfo Zabisky, CEO da Attitude Global: “Abrir o capital é a melhor
alternativa para os investidores e para a empresa”
“A bolsa seria a melhor alternativa, pois proporciona tanto uma saída para o fundo quanto liquidez para os acionistas”, afirma Rodolfo Zabisky, CEO da Attitude e detentor de 60% das ações. No entanto, falar é mais fácil do que fazer. Segundo Zabisky, afora as incertezas da economia global que afastam os investidores das bolsas, há outros entraves para o acesso de pequenas e médias empresas aos pregões. “Além dos custos de abrir capital, os investidores tendem a evitar ações de companhias menores por as considerarem arriscadas e sem liquidez”, afirma Zabisky. “Isso desestimula os empresários, que acabam desistindo da bolsa e buscando outras formas de financiamento.”
Para desatar esse nó, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a BM&FBovespa, ao lado de outros agentes do mercado, elaboraram um plano para ampliar a adesão das companhias menores. O projeto inclui benefícios fiscais aos investidores e redução de custo e simplificação para as empresas e para os intermediários da oferta de ações, como bancos de investimento e escritórios de advocacia. Segundo Felipe Miranda, da empresa de análise de mercado paulista Empiricus Research, o projeto é fundamental para a bolsa e para o País. “Ampliar o leque de nomes listados é essencial para o desenvolvimento de um mercado de capitais sério”, diz ele.
A primeira iniciativa nesse sentido aconteceu em 2004, com o lançamento do Bovespa Mais. Com nove anos de funcionamento, porém, o segmento conta com quatro participantes: Desenvix, Nortec Química, Nutriplant e Senior Solution. Só as duas últimas têm ações negociadas. Para Miranda, isso mostra as imperfeições do Bovespa Mais. “É preciso diminuir a burocracia e os custos para incentivar essas empresas”, afirma. Candidatos não faltam. A empresa carioca de tecnologia da informação Quality Software recebeu, em 2008, um aporte de recursos da BNDESPar, empresa de participações do BNDES, que atualmente detém 27% de suas ações. Em junho, ela solicitou à CVM permissão para abrir seu capital.
Bernardo Gomes, CEO da Senior Solution: listada no Bovespa Mais, desde maio
de 2012, empresa fez oferta de ações em março deste ano
Com faturamento de R$ 27,9 milhões em 2012 e esperando crescer dois dígitos em 2013, Britto Junior, CEO da Quality, afirma que a oferta pública de ações seria o próximo passo após a listagem. “Vai acontecer em um momento oportuno e, com desonerações e benefícios, o incentivo para a oferta ficaria ainda maior”, diz. Fabiano Favaro, diretor da gaúcha Altus Sistemas de Informática, também está na expectativa de novidades. A empresa já conseguiu o registro de companhia aberta pela CVM e está em fase de adesão ao Bovespa Mais. “Algumas mudanças poderiam atrair ainda mais empresas e fazer com que os investidores voltem seus olhares a esses papéis”, diz Favaro. A Quality Software e a Altus querem seguir os passos da Senior Solution, presidida por Bernardo Gomes.
A companhia iniciou os preparativos para uma oferta de ações em 2007. Com a crise de 2008, adiou o processo e optou por dividir a operação em duas fases: primeiro a listagem no Bovespa Mais e depois a captação em bolsa. No segmento de acesso desde maio do ano passado, a empresa fez o IPO em março deste ano. Desde a estreia, até a terça-feira 16, as ações da empresa subiram 2%, enquanto o Ibovespa caiu mais de 20% no período. Para Erik Camarano, presidente do Movimento Brasil Competitivo (MBC), incentivar a diversidade no mercado é uma maneira de acelerar o crescimento da economia brasileira. O MBC faz parte de um grupo de 126 entidades denominado Programa de Aceleração do Crescimento para Pequenas e Médias Empresas (PAC-PME).
O grupo inclui associações, consultorias, bancos, auditorias e escritórios de advocacia e visa facilitar a abertura de capital de companhias menores. “Nosso objetivo é capacitar o empresário e ampliar seu conhecimento com relação ao mercado de ações, além de propor ao governo formas de baratear as aberturas de capital”, diz Camarano. A Bovespa conta atualmente com 365 empresas registradas. Segundo dados do Banco Mundial, com esse número, o País fica no mesmo patamar de Mongólia e Vietnã, a chamada série C do ranking mundial de empresas listadas (ver tabela). “Para passar à série B, esse número teria que triplicar”, diz Camarano.