Simples e viciante, a rede social Instagram conquistou, em pouco mais de um ano, cerca de 35 milhões de usuários. Nela, fotógrafos de ocasião podem compartilhar imagens cotidianas, como a festa de aniversário do filho ou a travessura do cachorrinho de estimação, utilizando apenas um telefone celular. O charme do aplicativo, no entanto, é que ele permite a utilização de filtros que deixam as fotos com aparência retrô ou quase profissional. Como num passe de mágica, cenas entediantes se transformam em fotografias estilosas, com sombras e efeitos de luz antes obtidos somente com lentes e máquinas caríssimas. E foi como mágica, também, que essa empresa, de apenas 14 funcionários, criada pelo americano Kevin Systrom, 29 anos, e pelo paulistano Mike Krieger, 25 anos, entrou para o rol das maiores aquisições do setor de internet em todos os tempos. 

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Álbum de fotos: os recursos de compartilhamento de fotos eram o ponto fraco

da rede social de Mark Zuckerberg.

 

O fato aconteceu na semana passada, quando o Facebook, a maior rede social do mundo, pagou US$ 1 bilhão para adquirir o Instagram. “Faz anos que tentamos criar a melhor maneira de compartilhar fotos”, afirmou o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, em sua página na rede social. “É a primeira vez que compramos uma companhia com tantos usuários e não planejamos fazer isso mais vezes.” A aquisição chama a atenção pelo valor. Após levantar US$ 40 milhões em uma recente rodada de investimentos, o Instagram foi avaliado em pouco mais de US$ 500 milhões. Para uma empresa que, até hoje, não gerou um tostão de receita, essa cifra já poderia ser considerada impressionante. Não para Zuckerberg. Às vésperas de fazer o IPO de sua empresa, o CEO do Facebook não hesitou em abrir os cofres para adquirir o passe do programa. 

 

Mas por que ele resolveu apostar tão alto? Segundo o professor da Fundação Getulio Vargas Marcelo Coutinho, o que está em jogo é o domínio do mercado de redes sociais, uma batalha que está sendo travada pelo Facebook com gigantes como Google, Apple, Microsoft e Amazon. “Nesse mercado, só há um vencedor”, afirma Coutinho. “E ganha quem tiver a oferta mais completa.” Para o comandante do Facebook, é melhor gastar agora, mesmo que o valor seja alto, do que ver o aplicativo cair nas mãos de um dos seus concorrentes. “O que Zuckerberg quer é criar uma máquina digital de relacionamento”, diz Coutinho. Isso significa transformar sua rede na principal plataforma para o compartilhamento de informações, fotos, vídeos, música e o que aparecer pela frente. O ponto fraco da empresa estava, justamente, na área de fotos. 

 

Há ainda outra fronteira que o site deve ultrapassar nos próximos meses: a das buscas. Atualmente, cerca de 20 engenheiros trabalham no desenvolvimento de uma ferramenta que vai permitir aos usuários do Facebook realizar buscas com base no que as pessoas mais “curtem” na rede social. O projeto é liderado por Lars Rasmussen, ex-engenheiro do Google, de acordo com a agência de notícias Bloomberg. Com essa ferramenta, a companhia vai abrir as portas do mercado de buscas patrocinadas, um negócio de US$ 15 bilhões anuais. Além disso, é uma forma de atacar o Google, o rival que domina com folga o segmento. Para os fundadores do Instagram, por sua vez, a incorporação pelo Facebook é o capítulo que coroa mais uma história de sucesso meteórico dos empreendedores da internet. 

 

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Fotografia bilionária: o brasileiro Mike Krieger, fundador do Instagram, vai embolsar US$ 100 milhões

com a venda da empresa para o Facebook.

 

O programa, desenvolvido inicialmente para o iPhone, foi colocado na App Store, loja de aplicativos do smartphone da Apple, no dia 6 de outubro de 2010. Há duas semanas, ao lançar sua versão para os celulares com sistema operacional Android, do Google, o Instagram atingiu a marca de 35 milhões de clientes. O Facebook levou três anos para atrair o mesmo número de usuários. Recentemente, a reportagem da DINHEIRO esteve na sede do Instagram em São Francisco. Após bater na porta (não havia campainha disponível), o repórter Bruno Galo se surpreendeu ao ser atendido pelo próprio Systrom. A informalidade grassa ali. Krieger, por sua vez, trabalhava descalço e trajava calça jeans e camiseta. “Você nunca estará preparado para os desafios que vão surgir”, afirmou Krieger. “O importante é aprender rápido.” 

 

Com 10% de participação na empresa, o brasileiro deve receber US$ 100 milhões com a compra. Systrom possui 40% e vai embolsar US$ 400 milhões. Uma coisa, no entanto, a dupla não aprendeu até então: como fazer o aplicativo gerar dinheiro. Systrom chegou a dar alguns detalhes sobre o modelo de negócios que ele e Krieger planejavam. Para o americano, o Instagram é a próxima grande oportunidade no negócio de publicidade convencional na internet, um mercado que movimenta US$ 20 bilhões globalmente. A inexistência de faturamento é uma questão com a qual o Facebook também terá de lidar. E logo. Segundo Zuckerberg, a empresa adquirida será mantida como uma operação separada. “O fato de as pessoas se conectarem com outros serviços, além do Facebook, é uma característica importante do Instagram”, afirmou. Mesmo assim, não será fácil para a rede social recuperar o dinheiro gasto. 

 

“Considerando que seja possível obter uma receita de US$ 2 por usuário, ainda assim levará mais de uma década para o Facebook recuperar o investimento”, diz Coutinho, da FGV. Em maio, o Facebook deve realizar seu IPO na Nasdaq, bolsa que reúne as principais empresas de tecnologia dos Estados Unidos. A companhia pretende levantar US$ 5 bilhões com a venda de suas ações. Se confirmadas as expectativas, o valor de mercado da rede social pode chegar a US$ 100 bilhões. Nada mal para um site que faturou no ano passado US$ 3,7 bilhões. A dúvida que fica é se os investidores vão enxergar a aquisição com os mesmos olhos de Zuckerberg ou se vão concluir que o fato de uma start-up atingir um valor de mercado superior ao do jornal The New York Times, por exemplo, pode ser um sinal de que uma nova bolha no mercado de internet está vindo por aí.

 

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