23/09/2016 - 20:00
Larry Ellison odeia perder. O fundador da Oracle se dedicou, nas últimas quatro décadas, a desenvolver soluções tecnológicas para grandes empresas e assim construiu sua própria gigante, uma corporação avaliada em US$ 162,5 bilhões. Quase que com o mesmo afinco, Ellison se engajou na construção de uma imagem de excêntrico ou, em outras palavras, de playboy. Aos 72 anos, o sétimo maior bilionário do mundo é o assunto preferido nos corredores de sua companhia pelas extravagâncias que faz toda vez que abre a carteira – já comprou ilha, companhia aérea, time de vela, torneio de tênis. “Ele pode tudo”, diz uma funcionária.
Mas Ellison sabe que isso não é verdade. Recentemente começou a se incomodar com a liderança da Amazon na computação em nuvem, sobretudo no ramo de infraestrutura como serviço, e decidiu que acabaria com isso. No domingo 18, apareceu no palco do Moscone Center, em São Francisco, vestido todo de preto, como sempre, e exibindo um bronzeado exagerado, e declarou: “A liderança da Amazon acabou.” O principal evento da Oracle, Open World, que reúne todos os anos clientes, parceiros e desenvolvedores na ensolarada São Francisco, Califórnia, começou na semana passada com o anúncio da entrada da gigante no setor de infraestrutura como serviço como a grande novidade da edição 2016.
Dominada pela Amazon, a área também tem Microsoft, IBM, Google e Salesforce como grandes competidoras. “Tenho muito respeito pelo que a Amazon conquistou em infraestrutura”, disse um Ellison em versão menos ácida e controversa que no passado, quando adorava provocar e falar mal dos outros. “Mas eles podem se preparar para uma séria concorrência.” O caminho é longo. Embora a Oracle cresça em alta velocidade na computação em nuvem – no primeiro trimestre do ano fiscal de 2017, a empresa viu as receitas de softwares e plataformas como serviço saltarem 82% -, ela larga muito atrás na infraestrutura como serviço.
Enquanto as vendas do Amazon Web Services rendem de US$ 8 bilhões a US$ 10 bilhões ao ano, a Oracle deve obter US$ 2 bilhões com seu serviço neste ano. A estratégia para reduzir essa distância é oferecer um produto mais barato aos clientes da base de 420 mil que a Oracle tem hoje. Desse total, apenas 20 mil estão na nuvem. “No processo de migração, a Oracle entrará numa posição muito competitiva por causa dessa base instalada, que utiliza software da Oracle, mas infraestrutura da Amazon”, disse à DINHEIRO Alejandro Floréan, vice-presidente da consultoria IDC. “Só que a Oracle também vai abrir espaço para um novo mercado consumidor, que é o das companhias medianas, que têm entre 50 e 250 funcionários.”
Conforme anunciado na semana passada, a partir de US$ 150 por mês, as pequenas e médias empresas poderão ter a assinatura de um desses serviços em nuvem, que podem ser contratados até por cartão de crédito. “Antigamente a Oracle nem falava com os pequenos empresários”, diz Carlos Sarmiento, diretor da Oracle Digital na América Latina. “Hoje tentamos fazer mais negócios a um preço mais barato, o que diminui nosso risco. A nuvem é o movimento de tecnologia mais democrático depois da internet.” Nesse contexto, a América Latina e o Brasil, que representa quase metade das vendas na região, têm papel-chave.
Segundo Sarmiento, a expectativa é aumentar a base de clientes na região a um ritmo anual de 50%. “A recessão econômica é uma catalisadora para a inovação”, afirma Mark Hurd, presidente global da Oracle, que também tem suas manias: só toma café da Starbucks, no copo de papel mesmo, e só entra num ambiente fechado depois que ele estiver climatizado entre 17ºC e 18ºC. “É possível economizar muito dinheiro indo para nuvem, porque muito trabalho deixa de ser feito localmente.”
Hurd costuma viajar três vezes ao ano para a América Latina e, só em 2016, já esteve duas vezes no Brasil. Atualmente a Oracle está ampliando a capacidade de um data center em Campinas, interior de São Paulo, e em fase de instalação de um segundo data center, que deve entrar em funcionamento no início do ano que vem. A empresa não divulga números de investimento. “Neste ano, vamos passar a Salesforce em aplicações como serviço”, diz Luiz Meisler, vice-presidente executivo da Oracle América Latina. “Nosso objetivo é ser líder absoluto em todos os serviços de nuvem.” Enquanto não chega lá, Larry Ellison terá que se acostumar a estar sempre atrás de Jeff Bezos, o líder da Amazon.
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