23/12/2015 - 18:30
Na terça-feira 22, o telefone do cearense Deusmar de Queirós, dono da rede de farmácias Pague Menos, não parava de tocar. Presidentes e executivos de grandes companhias, como a Unilever, ligavam para o empresário, que comanda uma das maiores varejistas farmacêuticas do Brasil, com faturamento de R$ 5 bilhões em 2015, para saber como ele tinha conseguido, em plena crise, fechar o maior negócio dos 34 anos de história da companhia. Naquele mesmo dia, Queirós havia vendido, por R$ 600 milhões, uma fatia de 17% do capital de sua empresa para o fundo americano General Atlantic, que também possui participações em empresas como a Airbnb e a brasileira Ourofino, do setor de saúde animal.
Os 83% restantes continuam sob controle do fundador. “Todos ficaram surpresos”, afirma ele. A negociação, na avaliação de Queirós, foi rápida: apenas cinco meses de conversas. “Muitos me perguntaram como consegui convencer os americanos a investirem em um momento como esse.” Além do dólar valorizado, que deixou o preço atrativo, o interesse dos gringos pela Pague Menos está nos números da própria empresa e no desempenho do setor farmacêutico. Enquanto o varejo brasileiro prevê uma queda de 3,6% em 2015, de acordo com estimativas da Confederação Nacional do Comércio, Bens e Serviços (CNC), as farmácias e drogarias devem apresentar alta de 8%.
Já a empresa, com sede em Fortaleza, tem a previsão de fechar o ano com crescimento de 14%. Outro fator que ajudou a Pague Menos a seduzir os americanos, de acordo com especialistas, foi a sua capilaridade. “A Pague Menos é a única rede com presença nacional”, diz Eugênio Foganholo, diretor da Mixxer, consultoria especializada em varejo. “E ainda existe um grande espaço para crescer em farmácias, principalmente com o aumento da população idosa.” O dinheiro captado da General Atlantic, segundo Queirós, será inteiramente aplicado na expansão da rede, hoje com 828 pontos de venda.
A abertura de capital, ensaiada há anos, ficará para depois de 2018, assim como aquisições de empresas menores estão fora de cogitação, ao menos por enquanto. “Vamos aumentar o ritmo de abertura de 90 lojas por ano para 120, uma a cada três dias”, diz o empresário. A expectativa dele é que a empresa cresça 16% no ano que vem. Sobre pela primeira vez ter um sócio, Queirós não mostra nenhum tipo de preocupação. “Eles compraram essa fatia porque acreditam na atual administração”, diz. “E, com a nossa parte, nós ainda deitamos e rolamos.”