Os mais antigos costumavam celebrar a entrada na maturidade dizendo que a vida começa aos 50 anos. Para a americana Grace Lieblein, esse dito popular faz todo sentido. Exatamente com essa idade, ela desembarca no Brasil para  presidir a subsidiária da General Motors, a terceira mais importante do grupo em escala global. A executiva assume o cargo em 1º de junho em substituição à compatriota Denise Johnson, de 45 anos, que deixou o posto em fevereiro. Grace foi escolhida pessoalmente por Jaime Ardila, colombiano de nascimento e responsável pelas operações da montadora no continente. 

Denise, ao contrário, fora nomeada pela matriz. Por conta disso, imagina-se que Grace desfrute de mais apoio interno do que sua antecessora, e tenha menos dificuldade para se adaptar ao estilo mais informal do ambiente corporativo brasileiro. Nascida em Los Angeles, Grace possui raízes latinas. Seu pai imigrou para os Estados Unidos assim que Fidel Castro assumiu o poder em Cuba. 

 

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Ela começou a carreira aos 17 anos como estagiária na GM e não saiu mais. Graduada em engenharia industrial pela Universidade de Kettering, com especialização em gestão na Universidade de Michigan, Grace ocupou cargos de destaque na companhia. Em 2008, foi enviada para dirigir a filial do México, tornando-se a primeira mulher na corporação a ocupar um posto tão elevado.

 

“Grace teve uma passagem bem-sucedida em um mercado estratégico,  em um momento especialmente difícil para a companhia”, disse à DINHEIRO Wim Van Acker, sócio da consultoria americana Van Acker Associates,  especialista no setor automotivo. “Além disso, ela está familiarizada com a cultura latina, o que facilita sua adaptação ao Brasil.” Um currículo vistoso e conhecimento dos meandros da máquina GM podem não ser o bastante, porém. É que no Brasil, a companhia, literalmente, corre atrás do tempo perdido. 

 

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Poder e prestígio: apontada como uma das executivas mais influentes da América Latina,

Grace Lieblein é interlocutora frequente de autoridades como Felipe Calderón, presidente do México

 

A montadora ocupa nos últimos 15 anos o terceiro lugar do ranking, atrás de Fiat e Volkswagen, com 561.684 automóveis vendidos em 2010, equivalentes a 21,18% do setor. Acomodou-se nessa posição de relativo destaque, conquistada quando o mercado ainda era fechado. Hoje, com a entrada dos chineses e o fortalecimento das marcas sul-coreanas, a GM se recente da letargia. Para defender sua posição, Ardila desenhou um ambicioso programa de investimentos, orçado em R$ 5 bilhões. Apenas em 2011 serão gastos R$ 2 bilhões. A meta é lançar novos modelos e ampliar a capacidade produtiva.

 

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“As montadoras brasileiras, no geral, e a GM, em particular, nunca foram ágeis na renovação da linha”, diz Fernando Trujillo, analista da CSM Worldwide. Trabalhar aqui é, sem dúvida, um desafio. A passagem pelo País já ajudou a catapultar diversas carreiras dentro da companhia. O americano Richard (Rick) Wagoner, por exemplo, se tornou o CEO mundial depois de dar expediente na fábrica situada na cidade de São Caetano, em São Paulo. Sentar no cockpit da subsidiária brasileira também pode abreviar carreiras na corporação. Denise que o diga. Saudada como a primeira mulher a dirigir a filial, ela não aguentou o tranco. 

 

Fontes dentro da empresa dizem que faltou sintonia entre ela e Ardila. Também pesou contra a executiva algumas características de sua personalidade, como a timidez. Para quebrar o gelo e fazê-la mergulhar mais rápido na cultura local, o  então vice-presidente da GM do Brasil, José Carlos Pinheiro Neto,  recomendou que ela degustasse uma cachaça nos encontros com revendedores. Menos de oito meses depois,  Denise colocou um ponto final em uma trajetória de 21 anos na GM.