Dilma Rousseff decretou a lei do silêncio quando aliados avançaram o sinal na disputa por cargos. José Serra, tampouco, autoriza que se toque no assunto: diz que “dá azar”. Embora se cerquem de cuidados, os dois candidatos têm em mente um esboço quase acabado dos futuros membros do primeiro escalão de governo. 

 

Ambos devem seguir critérios de acomodação de partidos coligados em postos-chave e com visibilidade, como a área de infraestrutura. O núcleo decisório ficará sob o comando de seus respectivos partidos, entregue a assessores da estrita confiança. Onde estaria, então, a diferença nos critérios de Dilma e Serra para a divisão do poder?

 

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Os pilares de Dilma: Antônio Palocci, Guido Mantega e Henrique Meirelles são uma garantia de continuidade do bom momento econômico

  

Enquanto a candidata petista praticamente herda a estrutura do governo Lula, uma equipe já testada, assegurando a continuidade do governo, o tucano carece de grandes nomes e deve se cercar de uma equipe que, apesar de bons currículos técnicos, tem atuação circunscrita aos governos do partido em São Paulo. 

 

A grande estrela num eventual governo de Dilma é o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci, que desta vez pode voltar ao governo ocupando o cargo mais poderoso do Ministério: o de chefe da Casa Civil. Discreto, hábil negociador e com trânsito entre aliados e opositores, seria o articulador político ideal de uma presidente apoiada por uma aliança de 11 partidos políticos e sem experiência de negociação. 

 

Para os demais cargos da Esplanada, Dilma gostaria de manter a atual correlação de forças. Dos 37 ministérios, 17 estão com o PT, seis são geridos pelo PMDB e os demais, rateados entre partidos aliados, como o PDT, PSB e PCdoB. A novidade pode ficar com uma versão turbinada do Ministério dos Transportes, incorporando as áreas de infraestrutura aeroportuária e portuária, que seria entregue ao atual presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, do PMDB.

 

Algumas interrogações ainda permanecem na composição da equipe econômica de Dilma. O favorito para a Fazenda é o ocupante do cargo, Guido Mantega. Mas o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, corre por fora. Outro que permanece é o secretário de Política Econômica, Nelson Barbosa. 

 

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Serra, no maracanã: nos últimos dias de campanha, ele esteve 
acompanhado por poucos assessores. Seu time econômico é também uma incógnita

 

Ele pode assumir o BNDES caso Coutinho vá para a Fazenda. No Planejamento, a permanência de Paulo Bernardo, um dos mais próximos de Dilma, é dada como certa. Eles terão a missão de promover um ajuste pontual, com gastos públicos crescendo abaixo do PIB, elevar os investimentos públicos e diversificar os mecanismos para financiamentos de longo prazo. 

 

Vista a distância, a equipe de Serra não tem os nomes conhecidos da equipe de Dilma. Nem o brilho do estrelado gabinete de Fernando Henrique Cardoso. FHC cercou-se dos mentores do Plano Real – Pedro Malan, Gustavo Franco e Persio Arida, por exemplo – e os colocou em cargos estratégicos. 

 

A grande estrela seria Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central no governo FHC. Mas Serra não poderá contar com ele. Nesta semana, ao vender o controle do fundo de investimento Gávea para o americano J.P. Morgan Stanley, ele se comprometeu a ficar pelo menos cinco anos à frente da empresa no Brasil (leia mais na página 110). A inevitável negativa de Fraga ao convite deixa um buraco na Fazenda. 

 

Apesar de contar com nomes para o restante da equipe econômica, não há um candidato natural ao posto. Uma aposta seria o secretário de Fazenda de São Paulo, Mauro Ricardo da Costa, amigo de Serra desde os tempos de Ministério do Planejamento. Costa, no entanto, tem perfil de xerife e, segundo pessoas ligadas a Serra, assumiria a Receita Federal. 

 

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Soprando velinhas: no seu aniversário de 65 anos, o 
presidente Lula pediu de presente a eleição de Dilma Rousseff

 

Centralizador, Serra seria, na prática, o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central de seu governo. A equipe seria formada basicamente por integrantes do governo paulista, num novo “paulistério”. Um dos pais da Lei de Responsabilidade Fiscal, José Roberto Afonso é cotado para a Secretaria do Tesouro ou do Orçamento. 

 

Especialista em política cambial e autor do capítulo de política fiscal no programa do PSDB, o economista Geraldo Biasoto Júnior é lembrado tanto para o Planejamento quanto para o BC. Outro garantido num eventual governo é o presidente da Sabesp, Gesner Oliveira, que presidiu o Cade, de defesa da concorrência, no governo Fernando Henrique, como provável presidente do BNDES. 

 

Francisco Vidal Luna, secretário de Planejamento de São Paulo, pode assumir o ministério da área. Outro tucano histórico é Xico Graziano, chefe de gabinete de Fernando Henrique, que pode ir para a Agricultura. Para a coordenação política, o mais provável é que o senador eleito Aloysio Nunes Ferreira se licencie do mandato e assuma a Casa Civil, repetindo a dobradinha do governo paulista.