28/06/2013 - 21:00
Do amplo e confortável escritório do empresário Eike Batista, na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, é possível avistar alguns dos mais belos cartões-postais da cidade: o Aterro do Flamengo e o Pão de Açúcar. Uma paisagem, sem dúvida, capaz de inspirar o ocupante da sala a tomar decisões arrojadas de negócio. Contudo, a solução para a profunda crise de credibilidade e de caixa vivida pelas empresas do chamado mundo X, capitaneado pela petrolífera OGX e pela mineradora MMX, entre outras, está sendo decidida a cerca de 450 quilômetros dali. Mais precisamente na sede do banco BTG Pactual, em São Paulo.
Hora da decisão: ninguém simbolizou melhor o momento de euforia com o Brasil do que Eike Batista.
Ele, agora, começa a entregar os seus anéis para manter os dedos
Desde que assinou, em março, o acordo de cooperação estratégica com a EBX, André Esteves, dono do BTG, vem estudando alternativas para o combalido império de Batista. O receituário proposto pelo banqueiro inclui remédios amargos: venda de ativos, associação com grupos estratégicos e redução da participação de seu fundador, que deverá ser minoritário em muitos dos negócios que criou. Isso vem mexendo com o humor do bilionário. Segundo pessoas próximas, nas últimas semanas, Batista passou a alternar períodos de otimismo e desapontamento. “Em determinados momentos, ele se mostra confiante de que tudo dará certo”, diz um ex-conselheiro da EBX, que ainda mantém contato com o empresário. “Em outros, acha que não há saída.”
Procurado, Eike Batista não deu entrevista. O primeiro negócio de desinvestimento engatilhado pelo BTG envolve a venda da MMX, dona de direitos de exploração de minério em Serra Azul, no município do mesmo nome, em Minas Gerais, e do Superporto Sudeste, na Bahia de Sepetiba, no Rio de Janeiro. Trata-se da joia da coroa de Batista. Por isso mesmo, estima-se que ele consiga arrecadar R$ 5 bilhões com a transação. “O ativo é estratégico, pois está em fase de conclusão e possui contratos take or pay, no qual o pagamento é feito independentemente do embarque”, aponta relatório da consultoria Empiricus Research, de São Paulo.
Os interessados declarados são a suíça Glencore Xstrata e a holandesa Trafigura. A operação pode incluir a participação do BTG como sócio da Glencore. Outros negócios menores, como o Hotel Glória, a empresa de eventos IMX e até um jatinho (veja quadro ao final da reportagem), também já exibem a placa de vende-se. “Eike chegou a conclusão de que é melhor tentar incorporar alguns bilhões à sua fortuna, em vez de arriscar o que lhe restou”, afirma uma fonte do setor bancário. No começo de 2012, Batista viveu seu melhor momento, ao figurar na sétima posição na lista dos mais ricos do mundo, com um patrimônio de US$ 34,5 bilhões.
Na época, ele dizia que sua meta era ultrapassar o mexicano Carlos Slim, líder do ranking. Hoje, o patrimônio de Batista não ultrapassa US$ 4,8 bilhões. Seus cifrões foram perdendo o brilho à medida que ficou claro que ele não seria capaz de entregar os resultados prometidos. Nesse capítulo, a petroleira OGX, que jamais atingiu suas metas de produção, responde por boa parte dos problemas. O cenário foi agravado pela interdependência entre as empresas X: o estaleiro OSX tem como principal cliente a OGX e opera no porto de Açu, que está sendo erguido pela LLX, no litoral Norte do Rio. Um complicador adicional para o empresário, segundo analistas, é que ele demorou a agir.
Ao tentar resolver os problemas por conta própria, Batista acabou agravando-os. Repercutiu negativamente o não cumprimento de promessas como o fechamento do capital da mineradora de carvão CCX. Também pairam dúvidas sobre sua disposição de honrar o compromisso de injetar até US$ 1 bilhão na OGX para capitalizá-la. Recentemente, Batista vendeu o equivalente a 2,27% de seus papéis na petroleira, por R$ 121,8 milhões. Foi a gota d’água para que notáveis como o ex-ministro da Fazenda, Pedro Malan, o ex-ministro de Minas e Energia, Rodolpho Tourinho, e a ex-ministra Ellen Gracie, do STF, deixassem o conselho de administração da OGX. O encolhimento do grupo de Batista é uma lição para o capitalismo brasileiro. Não basta apenas sonhar. É preciso entregar resultados para poder alçar voos mais altos.