30/10/2015 - 20:00
Na terça-feira 13 de outubro, a Ab InBev, gigante global de bebidas, que tem como principais acionistas os brasileiros Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, fez uma proposta de US$ 105 bilhões pelo controle da sua principal rival, a anglo-africana SAB-Miller. O negócio, que ainda depende da aprovação dos órgãos antitruste, é o terceiro maior da história, atrás apenas de duas compras feitas pela operadora britânica Vodafone. Para conseguir concretizar esse investimento, a empresa, que agora é responsável pela venda de uma a cada três cervejas em todo o planeta, segue à risca a cartilha de seus controladores: não há espaço na empresa para custos desnecessários.
Para eles, a busca constante de eficiência está ligada aos processos de inovação. Na unidade brasileira do grupo, a Ambev, dona de marcas como Skol, Antarctica e Brahma, investe em um Centro de Inovação e Tecnologia, que ficará localizado na Ilha do Bom Jesus, no Rio de Janeiro. Desde agosto do ano passado, foram aportados R$ 180 milhões na unidade, que está numa área de 36 mil m² e se tornará uma espécie de laboratório geral da Ambev, que alcançou um faturamento de R$ 38 bilhões, em 2014. O centro, inicialmente, terá 50 funcionários que serão responsáveis pela criação de bebidas como cervejas, isotônicos, chás e energéticos.
O prédio possuirá modernos equipamentos, como sistemas de filtração de bebidas e até a tecnologia de impressoras 3D para criar embalagens mais econômicas e inteligentes. Tudo será feito tendo como base os hábitos dos antigos e, claro, novos consumidores. “Nos últimos anos, o consumidor se endividou e agora tem uma parcela pequena do dinheiro para gastar”, afirma Felipe Ost Scherer, sócio da consultoria em inovação Innoscience. “Os novos produtos servem para conquistar essa sobra.”
A Ambev deu uma guinada em muitas de suas marcas, com destaque para a mais vendida delas, a Skol. No fim do ano passado, por exemplo, a companhia lançou a Skol Beats Senses, uma bebida com álcool proveniente da cerveja, mas feita para ser consumida com gelo. A ideia era competir com outros drinks consumidos em casas noturnas e em festas, como as caipirinhas, e outros feitos com destilados. Ainda sob a marca Skol, a Ambev lançou, em 2015, a Ultra, uma cerveja light, voltada aos atletas de fim de semana.
Também de olho nas rotinas mais saudáveis, a companhia vem investindo na marca Brahma 0,0%, que vem liderando e expandindo o setor de bebidas sem álcool. No segmento premium, o lançamento de garrafas menores de marcas clássicas como Original e Serramalte e o aumento do investimento em comunicação de outras, como a Budweiser, têm mostrado resultado. De acordo com a Ambev, todos estão com resultados dentro do esperado. A busca por novos produtos não acontece por acaso. O setor de bebidas vem sentindo os efeitos da crise econômica brasileira.
Segundo dados do Sistema de Controle de Produção de Bebidas, da Receita Federal, o volume produzido de cervejas caiu 3,3%, em relação ao ano passado. A base comparativa com o ano de 2014 influenciou os resultados, mas essa não foi a única má notícia. O setor, um dos maiores pagadores de impostos do País, sofreu com a necessidade do Governo Federal em angariar mais receitas a fim de conseguir fechar suas contas. Em abril, os tributos sobre a cerveja e o refrigerante subiram 10%.
Até por isso, a procura incessante por redução de custos e aumento de margens fazem todo o sentido para a Ambev. Antes mesmo do anúncio da construção do novo centro, a empresa vinha tirando, literalmente, dinheiro até do bagaço. A cervejeira possui uma taxa de reciclagem superior a 99% e o bagaço do malte é vendido para alimentação de gados. A levedura, para aromatizantes. Além da reciclagem, claro, de seus vasilhames de vidro e latas de alumínio. “Inovação não é só lançamento de novos produtos, mas a melhoria de processos que não eram bem realizados”, afirma Scherer, da Innoscience.
O que mais chama a atenção, contudo, é a economia de água nos últimos anos. Em 2009, a sua controladora, a Ab InBev, estipulou diversas metas ambientais a serem alcançadas pelas suas subsidiárias. Na época, eram gastos cinco litros de água a cada litro de cerveja engarrafado. O objetivo era diminuir para 3,4 litros em três anos, número que foi atingido. O volume economizado foi equivalente a 25 bilhões de latas, algo próximo a 20% do total produzido anualmente pela companhia. E a Ambev não quer parar por aí. Há um compromisso público de reduzir esse valor para 3,2 litros para cada litro de bebida envasilhado até 2017.
—–
Confira as demais matérias da Série Especial: “O Brasil que constrói”:
- Biotecnologia
- Entre o diagnóstico e a terapia
- Beleza nos átomos da floresta
- O futuro da quími ca é verde