03/06/2016 - 20:00
O mercado financeiro foi sacudido na tarde da terça-feira 31 com a notícia de que Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, dois executivos do banco, Domingos Abreu e Luiz Angelotti, e outras seis pessoas haviam sido indiciados pela Polícia Federal (PF) por terem mantido contato com os investigados pela Operação Zelotes. Deflagrada em março de 2015, a Zelotes investiga uma quadrilha especializada em pagamento de propinas a membros do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), última instância das questões fiscais.
Esses suspeitos são acusados pela PF de tráfico de influência, de corrupção ativa e passiva, de lavagem de dinheiro e de organização criminosa. A Zelotes inclui 74 inquéritos envolvendo 37 empresas, bancos e partidos políticos. No caso do Bradesco, a denúncia é considerada frágil e envolve multas de R$ 2,7 bilhões. A notícia fez as ações preferenciais do banco caírem mais de 7% na terça-feira e fecharem em baixa de 5%. O Ibovespa caiu 1,01%, recuando ao menor nível desde 6 de abril.
No fim da manhã da sexta-feira 3, os papéis do banco já tinham recuperado totalmente as perdas. Um relatório do analista Tito Labarta, do Deutsche Bank, avaliou que, apesar do impacto sobre as ações, o peso efetivo das multas deve ser relativamente pequeno. A classificação de risco de crédito do banco também não deverá ser afetada, avalia Claudio Gallina, diretor da Fitch Ratings. Em nota, o Bradesco repudiou as acusações da PF. Confirmou que dois diretores, Abreu e Angelotti, foram procurados pelos suspeitos, que se ofereceram para influenciar a decisão do Carf. Em vão.
“Desses contatos não se efetivou qualquer proposta, contratação ou pagamento, mesmo porque a pendência fiscal já se encontrava sob o patrocínio de renomados tributaristas”, diz a nota. O banco informou que “o processo objeto da investigação foi julgado em desfavor do Bradesco por unanimidade, 6 a 0, e encontra-se, agora, submetido ao Poder Judiciário. A Companhia informa que jamais prometeu, ofereceu ou deu vantagem indevida a quaisquer pessoas, inclusive a funcionários públicos, para encaminhamento de assuntos fiscais ou de qualquer outra natureza.”
Segundo a nota, o indiciamento pela PF “toma de surpresa a Administração do Bradesco, considerando que os dois diretores foram ouvidos apenas como testemunhas e o presidente da companhia sequer foi ouvido e tampouco participou de qualquer reunião com representantes do escritório de assessoria tributária. O Bradesco reitera seus elevados padrões de conduta ética e reafirma a sua confiança no pleno funcionamento da Justiça.”
Trabuco não se reuniu com os suspeitos, apenas os cumprimentou brevemente. Somente por isso, foi indiciado, o que significa que tornou-se possível suspeito, condição que ainda depende de maiores averiguações. Mesmo assim, a notícia do indiciamento de um dos banqueiros mais respeitados e importantes do País, que chegou a ser convidado para ser ministro da Fazenda por Dilma Rousseff, causou estardalhaço. A PF não apresentou provas de má conduta, apesar de ter vazado trechos da denúncia enviada ao Ministério Público Federal.