As últimas semanas de 2022 foram repletas de provações para o empresário Josué Gomes da Silva, controlador da Coteminas e presidente da Fiesp, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Discreto e sempre avesso a entrevistas, ele teve de lidar com diversas atribulações ao mesmo tempo. Como empresário, a demanda era o planejamento para o próximo ano da holding que comanda, com operações no Brasil, EUA e Argentina. Como líder setorial, presidindo a Fiesp desde janeiro deste ano, ele acompanhou as movimentações e ameaças de um grupo insatisfeito com sua gestão. E houve ainda a questão política. Filho de José Alencar, vice-presidente nos dois mandatos de Lula, Gomes foi cogitado para assumir o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Tudo isso ocorreu em meio a um diagnóstico de Covid-19. Isolado, o empresário acompanhou pela mídia e por conversas telefônicas as notícias sobre seu futuro.

Na terça-feira (13), uma semana após testar positivo para o coronavírus, Gomes concedeu uma entrevista exclusiva à DINHEIRO, por vídeo. Negou ter recebido qualquer proposta de cargo no primeiro escalão do futuro governo petista. Questionado se aceitaria ser ministro, foi direto:“Eu não raciocino sob hipóteses. Vou pensar no assunto se receber o convite”. Dias depois, porém, circulava a notícia de que ele não trocaria seu gabinete na Avenida Paulista, em São Paulo, pela Esplanada dos Ministérios, em Brasília. A recusa surtiu efeito sobre o grupo rival que pretendia destituí-lo do cargo para o qual foi eleito após 17 anos de domínio de Paulo Skaf. Dos 111 sindicatos com representação na Fiesp, 86 estariam unidos na intenção de forçá-lo a pedir a renúncia. Chegaram a convocar uma assembleia para quarta-feira (21), na qual tratariam dos termos da saída de Gomes. Demonstrando plena autoconfiança e habilidade para negociar, ele conseguiu destituir a reunião dos oponentes e unificá-la com uma assembleia marcada para 16 de janeiro. Segundo fontes da Fiesp, a iniciativa foi vista como uma demonstração positiva de um possível entendimento.

Seja qual for o desfecho do próximo encontro, o legado de Gomes à frente da Fiesp em seu primeiro ano de mandato mostra que ele escolheu o caminho certo. Sua gestão tem se pautado pela educação, pela formação profissional e pela digitalização das indústrias. Lançou o Programa Emergencial de Educação Pós-Pandemia, que teve a adesão de 345 prefeituras paulistas, a Jornada de Transformação Digital, que tem o objetivo de digitalizar 40 mil indústrias paulistas em quatro anos, e criou a Formação em TI em parceria com Google, Amazon, Cisco, Oracle e Microsoft para capacitar jovens gratuitamente por meio do Sesi-SP nas áreas de redes (com 15 mil vagas), nuvem (155 mil vagas), ciência de dados (65 mil vgas) e segurança cibernética (35 mil vagas).

“A meta de 50 mil formações em 2022 foi atingida”, disse Gomes. “Para 2023, iremos alcançar 70 mil formações”. Como uma mesma pessoa pode cursar mais de uma disciplina, a expectativa é que o número chegue 270 mil formações, entre cursos de curta e longa duração, até 2025.

A educação foi escolhida como eixo central da gestão de Gomes por uma razão estratégica. Para reindustrializar o País será preciso formar mão de obra qualificada. “Nas últimas duas décadas a indústria de transformação caiu de 19% de participação no PIB para menos de 11%”, afirmou. “A indústria é importante por ser o setor que tem o maior multiplicador econômico, uma vez que ela irradia crescimento para todos os outros, consumindo os serviços mais qualificados e pagando, em média, os melhores salários, até por ter um alto índice de formalização.” Além disso, o setor industrial responde por dois terços do total investido no Brasil em pesquisa e desenvolvimento. “Por tudo isso, a indústria precisa de uma atenção especial para voltar a crescer a taxas aceleradas”, disse Gomes. “Com isso, ela poderá puxar o crescimento do País.”

No diagnóstico do presidente da Fiesp, a queda de participação da indústria no PIB ocorreu por várias razões. O primeiro foi o deslocamento das cadeiras produtivas para a Àsia, o que criou uma sinodependência da qual não apenas o Brasil mas até os Estados Unidos hoje padecem. O segundo diz respeito à tributação. “A indústria paga cerca de 30% do total de impostos arrecadados no País”, disse Gomes. Por fim, há a questão do crédito. “Eu não vou discutir as razões macroeconômicas que levaram ao aumento dos juros reais, mas temos taxas muito acima das praticadas pelos países com os quais concorremos.” Enquanto a solução para os impostos e os juros passa por Brasília, qualificar os jovens brasileiros para carreiras na área de tecnologia é uma das grandes contribuições da Fiesp sob Josué Gomes, o Empreendedor de 2022 na Indústria.