Todo começo de ano letivo o ritual se repete. Os pais fazem as contas, avaliam quanto vai sobrar para os gastos correntes e saem em campo para adquirir os itens que compõem a lista de material escolar dos filhos. Para as famílias de baixa renda, no entanto, a única opção acaba sendo os programas de distribuição de material escolar mantidos por algumas prefeituras e governos estaduais. Só que a adoção desses mecanismos acabou gerando um efeito colateral. Como boa parte das compras é feita por meio de licitação, as papelarias e os atacadistas de menor porte foram alijados do processo. Com isso, o comércio de bairro, principalmente, tem visto o movimento diminuir ano após ano. 

 

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Volta às aulas: projeto visa beneficiar os inscritos no Bolsa Família

 

Para pensar em uma solução, um grupo formado por empresários do setor gráfico, fabricantes de material escolar e donos de papelarias defende a adoção de um Cartão Educação. Os resultados já aparecem nos locais em que foi adotado. Em Brasília, por exemplo, as 360 lojas cadastradas ampliaram em 43% as vendas. “O programa gera emprego e movimenta o comércio local, além de permitir ao consumidor o direito de escolher o material que deseja adquirir”, afirma Ricardo Carrijo, diretor da Tilibra e da ABFIAE, associação que representa os fabricantes e importadores de artigos escolares. A capital federal é a maior vitrine do projeto. 


Em relação a 2013, houve aumento de 86% no número de papelarias cadastradas, que receberão uma injeção de R$ 29,4 milhões referente à venda dos produtos por meio do cartão. Os beneficiários são os integrantes das famílias cadastradas no Bolsa Família. Mas o principal impulso para que o cartão se torne uma realidade nacional está sendo dado no Congresso. Trata-se do projeto de lei de autoria da senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO), que pretende replicar essa ideia em nível nacional. A proposta já foi aprovada na Comissão de Direitos Humanos e agora está em avaliação na Comissão de Educação. 

 

Se passar, a proposta seguirá para a Câmara. “Um projeto federal é mais complexo devido à dificuldade para implantar o sistema em todos os Estados”, diz Fábio Mortara, presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf) e fundador da gráfica Paper Express. “No entanto, vemos com otimismo as chances de ele ser aprovado.” Caso isso aconteça, será um marco no setor. Especialmente para os varejistas. É que, se for concedido um crédito de R$ 200 para cada um dos 17,4 milhões de estudantes vinculados ao Bolsa Família, por exemplo, haveria uma injeção de cerca de R$ 3,5 bilhões no setor. Uma bolada significativa, em especial em cidades de médio e pequeno porte, onde estão a maioria das 30 mil papelarias existentes no País. 

 

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