20/06/2012 - 21:00
O tema é meio ambiente, mas o que está em jogo mesmo é a economia. A Rio+20 coloca em discussão uma nova maneira de fazer negócios, de comprar, vender e consumir. A cada dia que passa, o que está sendo conhecido como “economia verde” ganha mais força no Brasil e no mundo. A crise que sufoca a Europa e ameaça o resto do mundo pode atrapalhar os acordos que precisam de novos recursos para serem implementados. Por outro lado, o fracasso do modelo atual de desenvolvimento pode abrir outras oportunidades. “Nós não consideramos que o respeito ao meio ambiente só se dá em fase de expansão do ciclo econômico”, disse a presidenta Dilma Rousseff, na quarta-feira 13, dando o tom do pensamento brasileiro na abertura do Pavilhão Brasil.
Marca registrada: pavilhão da Rio+20, onde o governo pretende fazer do Brasil
um líder no debate ecológico.
O local foi criado para mostrar o que o País tem feito nas áreas social e ambiental. Dilma destacou a importância de conciliar desenvolvimento com preservação, sem sacrificar um em nome do outro. E defendeu que é preciso estabelecer uma nova metodologia para medir: “Um critério triplo que reúna incluir, conservar e crescer.” Um dos projetos que balizam essa visão é o chamado PIB verde, que mediria não apenas a produção econômica de um País, mas também seus recursos naturais. Nesse critério, o Brasil pode levar vantagem. Várias medidas anunciadas nos últimos anos mostram a preocupação com o tema, dentro do governo e nas empresas.
O Código Florestal foi aprovado com vários pontos pendentes, mas os vetos presidenciais conseguiram evitar a anistia aos desmatadores. E o ritmo de desmatamento da Amazônia, em 2011, caiu. Ainda não existe um consenso sobre como construir a economia verde. Mas o grande mérito do atual momento, na avaliação de especialistas, é que não está mais em pauta a importância do tema. “A Rio+20 vai discutir como fazer”, afirma Luciana Stocco Betiol, coordenadora do Programa de Consumo Sustentável do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (GVes). “Pois já sabemos o que deve ser feito.”
Os povos da floresta, vindos de diversos países, vão debater seu futuro na Rio+20.
Uma das iniciativas – a criação de um fundo no valor de US$ 30 bilhões, por ano, para ajudar os países pobres na transição para uma economia verde – está sendo liderada pelo Brasil. Por sua vez, Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), está entre os que acham que as dificuldades econômicas vividas pelos países da Europa e os Estados Unidos podem até incentivar uma nova visão de mundo. “A crise traz a dúvida, que se torna uma oportunidade de fazer as coisas de um jeito diferente”, afirma Marina. “Há decisões que não são ousadas e poderiam ser acordadas entre os governos, como a redução dos subsídios aos combustíveis fósseis”, diz o economista Ricardo Abramovay, professor da Universidade de São Paulo.
Nesse contexto, o Brasil desponta como um dos países nos quais tanto a iniciativa privada quanto a esfera governamental vêm caminhando na mesma direção. Nos últimos anos, o governo anunciou uma série de medidas visando a fomentar projetos sustentáveis. O principal instrumento são as linhas de crédito do BNDES e da Finep. Em 2011, o banco fez desembolso de R$ 18,7 bilhões para projetos de financiamento de energia renovável e saneamento. O BNDES também tem recursos específicos para bancar projetos ambientais. Um deles é o Fundo Clima, destinado a projetos relacionados a mudanças climáticas e cuja carteira deve atingir a marca anual de R$ 750 milhões até 2020.
“Esse fundo será um poderoso instrumento na política de mudança climática no Brasil”, afirma o chefe do Departamento de Meio Ambiente do BNDES, Márcio Macedo Costa. Outros avanços foram obtidos no campo regulatório. Desde o início do mês, as compras do governo federal serão analisadas segundo critérios ambientais antes mesmo da análise do preço. “O governo tem o papel de estimular as ações das empresas na direção certa”, diz Marina, do CEBDS. A entidade enviou, no início do mês, uma carta à presidenta Dilma pedindo que as grandes empresas sejam obrigadas a divulgar um relatório de sustentabilidade. O primeiro passo nesse sentido foi dado pelo Banco Central, que vai elaborar uma Política de Responsabilidade Socioambiental para o setor. É um começo.