29/07/2016 - 20:00
As pesquisas são unânimes: não há chance. O mercado financeiro está tranquilo, nem colocou a possibilidade nas contas. Esse era o tema das conversas dos operadores de mercado nos pubs em Londres na quinta-feira, 23 de junho. No entanto, nas primeiras horas da sexta-feira, dia 24 de junho, por uma margem estreita, os eleitores britânicos aprovaram a saída do Reino Unido da União Europeia, causando um tumulto memorável nos preços das ações. Guardadas as devidas proporções, uma turbulência parecida pode ocorrer nas próximas semanas.
A partir da terça-feira, dia 2 de agosto, o Senado deverá começar a analisar a destituição de Dilma Rousseff. Seu impeachment é dado como certo. Porém… “O risco de não aprovação do impeachment é muito pequeno, mas não é inexistente”, diz Sérgio Rial, presidente do Santander Brasil. Para barrá-lo, seria preciso angariar seis votos a mais do que os dos 22 senadores que foram contrários ao seu afastamento – missão dificílima. Os analistas acreditam que as consequências da volta de Dilma seriam desastrosas.
Combinariam inflação sem controle, desinvestimentos das empresas e descrédito internacional, com uma fuga em massa dos investidores estrangeiros. “Muitas empresas postergariam suas decisões de investimento”, diz a economista Christiane Mancini. O impacto no mercado financeiro incluiria alta dos juros, dólar a R$ 4,50 e um Índice Bovespa, que hoje oscila ao redor de 57 mil pontos, recuando para 35 mil pontos, segundo analistas ouvidos pela DINHEIRO. Porém, pouquíssimos analistas contemplam essa hipótese.
“O mercado sempre antecipa os fatos, e os bons resultados das medidas anunciadas pelo presidente Michel Temer já estão incluídos no cálculo”, diz Álvaro Bandeira, sócio da ModalMais Home Broker. “A saída de Dilma está refletida nos preços.” Se ela ficar, as cotações terão de se ajustar – e rápido. E se…? Como o futuro é incerto, DINHEIRO consultou os especialistas para traçar uma estratégia à prova de Brasília. A primeira recomendação é não tentar aproveitar o momento para grandes tacadas. Sandra Blanco, consultora de investimentos da empresa de distribuição de produtos financeiros Órama, recomenda que o investidor permaneça na Bolsa, qualquer que seja o cenário, pois as ações tendem a subir.
“Mesmo quem for conservador deve ter ações, ainda que sejam apenas 5% do patrimônio”, diz ela. Se Dilma permanecesse, a alta do dólar beneficiaria as exportadoras. Se ela sair, as melhores perspectivas estão com os papéis voltados ao mercado interno: energia, bancos, educação e varejo. Os fundos multimercados, que renderam em média 12% no ano até 22 de julho, são um trunfo em momentos de indefinição. “A diversificação permite que os gestores aproveitem distorções de preço, algo que deve ocorrer se o cenário político se complicar”, diz Luiz Eduardo Portella, sócio-gestor da Modal Asset.
Se Dilma sair, Portella diz esperar uma entrada maciça dos estrangeiros. “Eles só deverão começar a chegar em massa em setembro,”, diz ele. Se o Senado reconduzir Dilma, refugiar-se no dólar será uma boa estratégia defensiva, avalia Alexandre Póvoa, presidente da gestora Canepa Asset. Segundo ele, a moeda americana pode chegar a R$ 4,50 nesse caso. “Se ela não voltar, não vejo o câmbio acima de R$ 4, e só em momentos de stress no mercado externo”, avalia. “E, mesmo nesse caso, a alta será breve, pois as reservas internacionais são vastas”. A renda fixa deve continuar alegrando os investidores, pois a taxa Selic deve permanecer no atual patamar elevado.
Blanco, da Órama, recomenda manter metade do patrimônio em renda fixa. Ela sugere, porém, dividir esse dinheiro em duas fatias com prazos diferentes. “Convém deixar uma parte em aplicações pós-fixadas mais líquidas, com resgate em até 30 dias, para aproveitar alguma oportunidade de mercado, e o restante em títulos mais longos, prefixados ou atrelados à inflação, de três anos ou mais de prazo”, diz ela. “Em qualquer cenário político, o Banco Central deve se esforçar para baixar a inflação, o que quer dizer juros elevados durante algum tempo.” Portanto, convém apostar no longo prazo para aproveitar uma rentabilidade interessante, que – ao contrário de Dilma – não tem oposição.