19/12/2014 - 20:00
Graça Foster: enquanto a empresa mergulha na crise, salário sobe
O ano vai terminando de forma melancólica para os acionistas da Petrobras. Até a quinta-feira 18, a estatal havia perdido 45% do seu valor de mercado, com os papéis sendo negociados no menor patamar em uma década. Se um investidor tivesse comprado uma ação da empresa em 2004, hibernado nesse período e despertado agora, levaria um susto. O valor nominal seria o mesmo, mas o dinheiro teria sido corroído pela inflação do período. Aliás, eis um exemplo que desmente o senso comum de que investimento em ações sempre traz retorno no longo prazo.
Tão grave quanto o desabamento do valor de mercado da Petrobras é a altíssima volatilidade registrada em suas ações nos últimos pregões, na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Tradicionalmente, a PETR3 (ordinária) e a PETR4 (preferencial) são conhecidas como blue chips, papéis de primeira linha com um risco menor. Espera-se desse tipo de empresa oscilações de até 2% em cada pregão, em dias normais, sem nenhuma grande novidade. Porém, o comportamento da Petrobras tem sido o de small caps, que são ações de terceira linha, com grandes possibilidades de perdas e ganhos em um único dia.
Na terça-feira 16, por exemplo, a ação preferencial da empresa comandada pela executiva Graça Foster iniciou o pregão, às 10h, em baixa de 6%, vendida a R$ 8,60 após ter perdido quase 10% no dia anterior. Além das sucessivas denúncias de corrupção, os investidores estavam em pânico diante do derretimento do preço do petróleo no mercado internacional – a queda no ano chegou a 40%. Antes do almoço, sem que nenhuma notícia relevante justificasse a reviravolta, os papéis passaram a subir 8%, na casa de R$ 9,90. A diferença de R$ 1,30 em poucas horas, se multiplicada por milhares de reais, dá a dimensão da oportunidade (ou do risco) que os investidores tiveram (ou correram).
No mesmo pregão, as ações voltariam a cair 2%, para encerrar o dia em alta de 2%. Na quinta 18, subiram 5%, para posteriormente fechar em baixa de 2%. Haja coração, diria um famoso locutor esportivo. Essa característica de cassino não faz bem para a imagem do mercado financeiro brasileiro e muito menos para uma blue chip, como a Petrobras. Por definição, o investidor compra a ação de uma empresa com base numa série de indicadores como lucro e endividamento, entre outros. A perspectiva de um futuro econômico promissor, em tese, gera uma demanda maior pelos papéis.
Infelizmente, o cenário brasileiro é de crescimento próximo de zero em 2014 e de apenas 0,5% no ano que vem, o que ajuda a explicar o abismo entre as bolsas americanas, que não pararam de quebrar recordes, e a brasileira, que só anda para trás nos últimos anos. No entanto, a fragilidade econômica, sozinha, não explica a volatilidade excessiva das ações da Petrobras. Os papéis mergulharam numa onda especulativa como consequência das incertezas sobre o tamanho da corrupção, dos adiamentos da divulgação do balanço trimestral e das especulações sobre uma possível troca de comando na estatal.
No jargão do mercado, ninguém quer “ficar comprado” em Petrobras. Na dúvida, o investidor compra, lucra e vende rapidamente, dificultando uma alta sustentada. Além disso, os estrangeiros, que têm um peso enorme na Bovespa, estão com receio dos emergentes – os fantasmas de uma nova crise russa assombram as bolsas. O valor de mercado atual da Petrobras equivale a um terço do seu valor patrimonial. É claro que a ação está barata – mas quem se arrisca a encarar um cassino no curto prazo ou a acreditar no mito de ganho certo no longo prazo?