23/05/2014 - 20:00
Em dezembro de 2012, quando algumas empresas do setor elétrico decidiram não renovar as concessões de várias usinas hidrelétricas, por discordar do preço oferecido pelo governo, muita gente no mercado duvidou do acerto da estratégia. Afinal, ao não renovar os contratos, elas teriam de entregar os ativos no vencimento das concessões, entre 2014 e 2015, ou disputá-los em novos leilões. Um ano e meio depois, o balanço de empresas como Cesp, Copel e Cemig, respectivamente, as companhias energéticas dos Estados de São Paulo, Paraná e Minas Gerais – todas administradas por governos do PSDB –, mostra que a decisão foi correta, para seu caixa, ao menos.
Todas tiveram um ganho acima do esperado em suas unidades de geração – embora algumas também tenham perdido dinheiro, como o restante do mercado, nas áreas de transmissão e distribuição. O bom resultado se deve a uma mistura de visão de negócios com uma dose extra de sorte. No fim de 2012, o preço da energia no mercado à vista – medido pelo PLD, o Preço de Liquidação das Diferenças, definido pelo governo para balizar as trocas na câmara de compensação do setor – já estava em alta. Na época, o PLD era de R$ 260 o MW/h, enquanto os contratos de longo prazo vendiam a energia por cerca de R$ 100 o MW/h.
Com as chuvas do último verão, o nível dos reservatórios das hidrelétricas baixou e o preço da energia subiu. Desde a primeira semana de fevereiro, tem ficado no teto, de R$ 822,83 o MW/h. Nos contratos de longo prazo o preço médio é R$ 140, pouco mais de um sexto do vigente mercado spot. As usinas que não renovaram a concessão também ficaram sem contratos de longo prazo para fornecimento de energia e disponibilidade para vender pelo preço à vista. “O preço alto é ruim para quem compra no mercado, mas é uma vantagem para quem tem energia para vender”, diz o consultor João Carlos Mello, da Thymos Energia, de São Paulo.
As concessionárias tratam esse ganho extra com discrição – receosas de aparecer lucrando num momento em que o consumidor está pagando aumentos de dois dígitos na conta, e o governo terá que colocar cerca de R$ 15 bilhões para socorrer as distribuidoras. Mas os balanços do primeiro trimestre não deixam dúvidas. A Cesp foi quem mais ganhou. O faturamento do primeiro trimestre cresceu 49% em relação ao mesmo período do ano passado, e o lucro aumentou 149%. Analistas estimam que 16% das usinas da empresa estão sem contrato, o que deve gerar uma receita extra de R$ 3,3 bilhões e um lucro adicional de R$ 1,7 bilhão até o fim deste ano.
A empresa não faz previsões, mas confirma que a parcela vendida a preço de mercado tem engordado seu caixa. A elétrica mineira, Cemig, que no fim de 2012 decidiu não renovar 18 concessões e recorreu à Justiça para manter outras três nas condições atuais, também aumentou o lucro em 40%, no primeiro trimestre. O ganho só não foi maior porque a empresa teve perdas na área de distribuição. “Nem mesmo os especialistas acreditavam que o preço da energia pudesse chegar aos níveis atuais”, diz Luiz Henrique Michalick, diretor de relações institucionais e comunicação da Cemig.
A usina de Jaguara, que representa cerca de 5% da capacidade total, e continua sendo administrada pela empresa por meio de liminar, deve render um lucro extra a cada mês de R$ 167 milhões, segundo relatório do Bank of America Merrill Lynch. Para a Copel, do Paraná, a retomada da operação da usina termoelétrica de Araucária – esteve alugada até janeiro à Petrobras – rendeu um faturamento 28,2% maior no primeiro trimestre em comparação com o mesmo período de 2013.
Em teleconferência com analistas, na sexta-feira 16, seu diretor financeiro, Antonio Sergio Guetter, explicou que a venda de energia no mercado à vista engordou em 52,9% a receita com geração. O ganho extra deste ano, porém, esconde uma situação difícil no longo prazo, já que muitos desses ativos serão devolvidos à União e terão de ser disputados novamente com os concorrentes. No caso da Cesp, os contratos das usinas de Jupiá e Ilha Solteira vencem em julho de 2015. O de Três Irmãos venceu em 2011. Os das empresas de distribuição da Copel vencem em 2015, e o governo ainda não definiu as condições para a renovação. O lucro deste ano, no entanto, pode render o equivalente a vários anos de contrato.