06/02/2015 - 20:00
Em três anos, a engenheira Graça Foster foi do céu ao inferno. Na semana passada, depois de meses de desgaste e de vários pedidos de demissão recusados pela presidente Dilma Rousseff, Graça deixou a presidência da Petrobras, depois de três anos no cargo e dez meses enfrentando as consequências da Operação Lava Jato, um dos maiores escândalos de corrupção já descobertos no Brasil, com cifras bilionárias de superfaturamento de contratos e pagamento de propina.
Embora os fatos descobertos tenham ocorrido antes de Graça assumir a presidência, ela já era diretora da empresa desde 2007, e portanto colega dos ex-diretores Paulo Roberto Costa e Renato Duque, envolvidos no esquema que está sendo investigado pela Polícia Federal. Também saíram outros cinco diretores: o de Abastecimento, José Carlos Cosenza, o de Engenharia, José Antonio de Figueiredo, o de Gás de Energia, José Alcides Santoro, o de Finanças, Almir Barbassa, e o de Exploração e Produção, José Formigli. A demissão coletiva, que foi formalizada na reunião do Conselho de Administração da sexta-feira 6, na sede da companhia em São Paulo, foi anunciada dois dias antes, por meio de um curto e lacônico comunicado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
E surpreendeu até a presidente Dilma Rousseff, que numa reunião na terça-feira 3, no Palácio do Planalto, havia convencido Graça a esperar até a divulgação do balanço, assinado por eles. Graça deixou o Palácio do Planalto, depois de uma reunião de duas horas, e teve uma amostra do que a esperava nas semanas seguintes, se permanecesse até o fim do mês na companhia, como combinado com Dilma. Logo ao chegar ao aeroporto de Brasília, foi fotografada ao abrir a porta do carro. Enquanto voava para o Rio, um grupo de 20 pessoas fazia um panelaço em frente ao prédio onde ela mora.
Ao desembarcar, seguiu para uma saída reservada num ônibus da Infraero e daí direto para a sede da empresa, onde se reuniu com os outros diretores. Eles não aceitaram ficar até que o governo encontrasse os substitutos, e Graça avisou Dilma que romperia o acordo feito horas antes. Recusou-se a sangrar em praça pública, quando comentários na imprensa já diziam que só ficaria para ganhar mais um mês de salário. Dilma, que tentou segurar a amiga no cargo e deu várias declarações públicas de confiança em sua honestidade, perdeu o seu anteparo e fica mais vulnerável às acusações contra a empresa, já que era presidente do Conselho de Administração na época dos crimes.
A presidente ficou irritada com a decisão da diretoria de contabilizar um sobrepreço de R$ 88,6 bilhões nos ativos por pagamentos irregulares e ineficiência no balanço do terceiro trimestre de 2014, publicado no fim de janeiro sem a chancela de uma auditoria externa. Na visão do governo, esse desconto é excessivo e desnecessário. A saída melancólica de Graça contrasta com a euforia de sua chegada ao posto, em fevereiro de 2012. Primeira mulher a comandar uma empresa de petróleo no mundo, ela tinha a missão de colocar em prática um plano de investimento de US$ 224,7 bilhões em quatro anos.
Dezenas de obras eram tocadas simultaneamente, e fornecedores eram pressionados a cumprir o prazo na entrega das encomendas de equipamentos de grande porte, como plataformas, sondas de perfuração e navios petroleiros. A estatal vinha de um desgaste por decisões tomadas por motivações políticas, como as refinarias do Nordeste. A entrada de Graça, profissional com mais de 30 anos de casa e reputação de exigente, rigorosa e minuciosa com os detalhes, foi bem recebida no mercado e elogiada por especialistas. Aos poucos, Graça começou a trocar os diretores herdados da gestão anterior. Foi essa a missão que recebeu de Dilma: limpar a casa, sem alarde, e começar um novo ciclo, com pessoas de sua confiança.
Mas os esqueletos começaram a sair do armário, impedindo a limpeza discreta desenhada pela presidente. Ainda em 2013, o Tribunal de Contas da União apontou um prejuízo de US$ 792 milhões na compra de uma refinaria em Pasadena, nos Estados Unidos, iniciada em 2006. No ano seguinte, o Congresso criou uma CPI para investigar o prejuízo na refinaria e as acusações de corrupção, o que levou Graça várias vezes ao Congresso para prestar depoimento. Alçada à presidência para aumentar a eficiência da Petrobras, Graça deixa o cargo com a companhia valendo 61% menos do que quando assumiu oposto. Nos quatro primeiros dias da semana passada, porém, a empresa havia reuperado 19,8% do seu valor de mercado. Sem Graça, os acionistas ganharam R$ 21 bilhões.