03/07/2015 - 20:00
Nascido em Atenas, o consultor Konstantinos Dimitriou vive e trabalha em Cingapura. Na noite da sexta-feira 3, horário local, ele embarcou em um vôo fretado para sua terra natal. A única razão para a viagem foi votar “sim” no referendo marcado para o domingo 5, no qual os gregos vão decidir se concordam ou não com mais austeridade em troca da continuidade da ajuda financeira europeia à combalida economia grega. “Tudo o que eu tenho deve-se a meu passaporte europeu”, disse Dimitriou ao The New York Times. “A Grécia não pode sair do euro.” Como ele, milhares de gregos que vivem e trabalham fora de seu país de origem estão retornando para votar.
Os que não conseguem têm feito uma intensa campanha, por telefone ou pelas redes sociais, junto aos parentes e amigos que continuam na Grécia, para votar a favor do “sim”, e contra o governo, que defende a rejeição do acordo. Depois de, como esperado, não pagar os € 1,5 bilhão que devia ao Fundo Monetário Internacional (FMI) na terça-feira 30, no dia seguinte, o primeiro-ministro Aléxis Tsipras foi à televisão defender o voto no “não” e Yanis Varoufakis, o aguerrido ministro das Finanças, prometeu renunciar ao cargo se o “não” perdesse.
O país está dividido: as últimas pesquisas indicam 44,8% de intenção de voto para o “sim” e de 43,4% para o “não”, com 11,8% ainda indecisos, o que torna impossível prever o resultado. A questão vai além das fronteiras nacionais. Na terça-feira 30, o americano Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia, publicou um artigo no jornal britânico The Guardian. “Votar no sim representaria uma depressão econômica sem fim, ao passo que o voto no não permitiria à Grécia retomar o controle de seu destino”, escreveu ele. Na véspera, a opinião havia sido compartilhada por outro prêmio Nobel de Economia, o também americano Paul Krugman.
“O colapso da economia grega ocorreu devido às medidas de austeridade impostas desde 2010”, escreveu. “Os tecnocratas da Comissão Europeia que defendem mais austeridade são fantasistas que esqueceram tudo o que sabiam sobre macroeconomia.” Uma campanha tão acalorada mostra como a permanência ou não no euro tornou-se fulcral para a Europa. Após meses enfrentando a resistência da chanceler alemã Ângela Merkel, que permanece inflexível em não conceder novos empréstimos à Grécia, Tsipras apostou tudo em um lance arriscado: perguntar à população se ela prefere mais austeridade ou se concorda em sair do euro.
Uma vitória do governo pode representar a primeira baixa desde que a moeda única tornou-se uma realidade, em 1999. As incertezas são muitas. Em si, a Grécia é irrelevante: sua economia representa apenas 0,3% da Europa. No entanto, sua saída abrirá um precedente perigoso. Esses riscos têm um custo econômico: ao longo dos últimos dias, as ações das empresas européias caíram e os juros subiram consistentemente, em um ambiente de poucos negócios. Também há, porém, um custo político. Qualquer país em dificuldades pode brandir a ameaça de abandonar o euro caso não receba ajuda dos outros países-membros.
“Isso pode abrir espaço para contestações às regras de austeridade em países como Portugal, Espanha e Itália”, diz Christoph Riniker, economista do banco suíço Julius Baer. Segundo Riniker, a Espanha é um bom exemplo. Se a Grécia obtiver vantagens em sua política de enfrentamento, é bastante provável que a frente de esquerda e extrema esquerda espanhola Podemos, criada à imagem e semelhança do Syriza, de Tsipras, levante a mesma bandeira nas eleições parlamentares espanholas, marcadas para dezembro deste ano. “Quando consideramos o cenário como um todo, há uma grande mudança em perspectiva ocorrendo na Europa”, diz o economista. Façam suas apostas, senhoras e senhores.
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Fraude cambial chega ao Brasil
Quinze bancos estrangeiros são investigados pela manipulação de cotações
Quinze bancos estrangeiros estão sendo investigados no Brasil sob suspeita de formação de cartel para manipular taxas de câmbio. O processo foi aberto pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) na quinta-feira 2, a partir da denúncia de um dos envolvidos. Estão na lista Barclays, Citigroup, Credit Suisse, Deutsche Bank, HSBC, JP Morgan Chase, Merrill Lynch, Morgan Stanley, Nomura, Royal Bank of Canada, Royal Bank of Scotland, Standard Chartered, UBS, Banco Standard de Investimentos e Banco Tokyo Mitsubish UFJ. “A conduta ocorria no mundo todo. Ainda não sabemos o tamanho do mercado”, afirmou Eduardo Frade, superintendente-geral do Cade. Segundo a investigação, operadores das instituições trocavam informações sobre contratos de câmbio e combinavam preços para influenciar cotações. O esquema teria durado de 2007 a 2013. Os bancos não comentaram.