De tanto procurar, o procurador-geral da República Rodrigo Janot encontrou uma maneira de esquentar ainda mais o cenário político. Na quinta-feira 20, Janot denunciou ao Supremo Tribunal Federal (STF) o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados e terceiro homem na hierarquia da República. Com base nas delações premiadas de réus da Operação Lava Jato, Janot acusa Cunha de corrupção passiva e de 60 operações de lavagem de dinheiro, mas não pediu seu afastamento do cargo. Nas contas de Janot, o presidente da Câmara precisa devolver US$ 80 milhões aos cofres públicos e trocar os ternos elegantes pelo pijama listrado por breves 184 anos. O principal indício do seu suposto envolvimento no imbróglio são as declarações do lobista Júlio Camargo, um dos delatores da Lava Jato, à Justiça Federal do Paraná. Camargo disse ter pago US$ 5 milhões a Cunha, entre 2006 e 2012, para facilitar a contratação de navios-sonda pela Petrobras. A propina veio por meio do colega de ofício, o também lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, condenado a 16 anos de prisão na segunda-feira 17.

No complicado xadrez em que se transformou a relação entre Executivo e Legislativo, a denúncia de Janot tem o poder de provocar uma reação imprevisível do intempestivo Cunha. Os analistas políticos avaliam que a estratégia de defesa do presidente da Câmara – que é mais política do que jurídica – passará por uma radicalização ainda maior de sua oposição a Dilma Rousseff. “Renúncia não faz parte do meu vocabulário”, disse Cunha em um evento na manhã da sexta-feira 21, no sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, quando foi recebido aos gritos de “Cunha, guerreiro do povo brasileiro”.  Para um analista de um banco internacional,  o presidente da Câmara não vai entregar facilmente os pontos.“Ele é do tipo que vai afundar atirando”, avalia. Com poder para travar ou acelerar a tramitação dos processos, Cunha poderá tornar a vida do governo mais difícil no Parlamento, com repercussões negativas sobre o ajuste fiscal e a economia. Não por acaso, após a apresentação da denúncia de Janot, o Índice Bovespa atingiu o menor nível desde junho de 2013. E aguardam-se mais lances dramáticos.