A volatilidade econômica e a adrenalina nos negócios, antes uma característica típica do Brasil, parecem ter se tornado uma realidade global. É nesse cenário de incertezas ­­— que inclui guerra, falência de bancos americanos e riscos de recessão mundo afora — que o mercado brasileiro tem ficado atraente para investidores internacionais, por mais paradoxal que pareça. A brasileira Domo Invest sabe muito bem disso. Empresa fundada há uma década, com um portfólio acumulado de mais de 100 startups nacionais, vai iniciar neste ano o processo de internacionalização. Segundo o cofundador Marcello Gonçalves, “vamos procurar investidores que buscam a América Latina para começar a trazer não só dinheiro de fundos de venture capital para as nossas startups, mas sim trazer dinheiro de investidores estrangeiros para os fundos da Domo.”

O movimento vem em um momento no qual a empresa entende estar madura o suficiente para receber esses investimentos, seja pelo tempo no mercado ou as histórias de sucesso das startups. Além disso, o cenário global se mostra ainda favorável. Os principais investidores estrangeiros vêm de Estados Unidos, Europa e Israel e o mercado emergente costuma ser o destino do dinheiro. Em uma ordem de eliminação dos concorrentes do recurso, o Brasil se destaca. Rússia com a guerra saiu do jogo. China e suas decisões políticas e econômicas sobre a Covid-19 e um ecossistema próprio muito voraz e consistente dificulta o interesse externo. Índia, apesar do potencial, possui fatores sociais e culturais que dificultam a aproximação. E o Brasil, bem… Segundo os gestores da Domo, apesar de complexo, é um mercado organizado e ocidentalizado o suficiente para se tornar atrativo. Já regionalmente, o País perde espaço para o México, que historicamente atrai interesse dos americanos, mas, ainda assim, se fortalece no potencial da América Latina, região considerada principal face o tamanho do mercado e as sinergias culturais. Maior economia e maior população contam.

NOVOS INVESTIDORES Depois do abalo nas estruturas em 2022, com alta global de inflação, juros e países entrando em recessão, permanecem investindo aqueles mais experientes e conscientes do funcionamento do setor. De acordo com os sócios da Domo, o ano passado foi a ponta de um problema iniciado ainda em 2021, quando houve excesso de investimentos vindos de players que não costumam jogar o jogo das startups. Isso fez com que as iniciativas ganhassem muito dinheiro muito rápido e não conseguiram escalar o modelo de negócio de forma organizada. “Os ciclos de investimentos são muito importantes. Quando entra um monte de gente e começa a acelerar esses ciclos achando que só o dinheiro resolve, é onde você começa a ter supervalorização das empresas”, disse Gonçalves.

MAIS CHANCES Mercado mais tenso faz com que fiquem nos jogos os players mais experientes, o que é bom para os negócios. (Crédito:Michael M. Santiago)

Passado o boom ficaram os fundos de venture capital fiéis a sua essência, que acreditam em um retorno a longo prazo e que são movidos pela esperança de uma curva crescente de interessados na modalidade. No caminho para esse desenvolvimento há questões como a taxa de juros alta, que desmotiva o investidor, a falta de uma cultura de investimentos a ser trabalhada, e o próprio ambiente de negócios brasileiro. Mas nem tudo está perdido. Mesmo não sendo um momento muito frutífero para o empreendedor, a saída dos investidores não tradicionais torna mais interessante a alocação de recursos em venture capital.

De acordo com Rodrigo Borges, cofundador da Domo, “o investidor mais qualificado continua investindo e entende que este é um ciclo baixo e com mais oportunidade”, disse. “Quando o mercado está superquente, se você não investiu naquele mês, perdeu a chance.” Um jogo de risco, mas de muito mais oportunidades. Com todo esse contexto, a Domo segue de olho em aumentar sua carteira de startups tendo como direcionamento iniciativas de áreas como marketplace, digitalização de PMEs, mobilidade, web 3, logística e cidades inteligentes. Nos requisitos de escolha, destaque para a capacidade de escalar o negócio e, nas palavras de Borges, ter o timing correto.