Há até pouco tempo, a finlandesa Nokia, maior fabricante de celulares do mundo, e a japonesa Sony, a lendária inventora do walkman, eram sinônimos de inovação, admiradas por gerações de homens de negócios dos quatro cantos do mundo. As glórias e os sucessos das duas companhias, no entanto, são passado. Hoje, ambas enfrentam crises profundas e lutam para reverter resultados desanimadores. 

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A Nokia viu sua participação no mercado de smartphones despencar de 49% em 2007, para 25%, no primeiro trimestre deste ano. Já a Sony, que em 2010 amargou prejuízo de US$ 3,2 bilhões, chegou a ser comparada a um dinossauro pela consultoria Interbrand, em um relatório sobre as 100 marcas mais valiosas do mundo. O que leva dois ícones do seu tempo a jogar fora seu DNA criativo e a ficar presos ao passado? Nos dois casos, a incapacidade de reagir diante da pressão da concorrência, cada vez mais audaciosa,  ajuda a explicar a derrocada. 

 

Num esforço gigantesco, as duas companhias ensaiam uma reação, tentam virar o jogo e traçam estratégias para voltar aos holofotes. Porém, as dúvidas em relação ao futuro e à sua capacidade de superação continuam. A julgar pelas últimas notícias vindas da Finlândia, a Nokia está longe da recuperação. No final de maio, a empresa declarou que suas vendas  no segundo trimestre deste ano serão consideravelmente menores do que o esperado. O anúncio fez as ações da companhia, que já estavam no menor patamar em 13 anos, desabar 19%. A única boa-nova, divulgada na terça-feira 14, na verdade, não chega a trazer grande alento. 

 

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A Nokia vai passar a receber entre 1% e 2% das receitas da Apple com o iPhone, que somam até hoje US$ 65 bilhões, devido a um acordo sobre patentes relacionadas à sua tela sensível ao toque. Enfim, a Nokia lucrará com o sucesso da rival. Desde o lançamento do iPhone, pela empresa de Steve Jobs, há quatro anos, a fabricante finlandesa vem patinando,  sem conseguir emplacar nenhum grande produto. “A Nokia se perdeu nessa mudança do mercado e demorou muito para reagir”, afirma Bruno Freitas, analista de mercado da consultoria IDC, especializada em tecnologia. Sem um grande aparelho à venda, seu sistema operacional, o Symbiam, também perde participação rapidamente.  

 

Em 2009, ele detinha 44% do mercado, porcentual que caiu para 27,4% em 2010.  No mesmo período, o Android, do Google, saltou de 9,6% para 36% de participação. Para estancar o avanço das rivais, a Nokia resolveu apostar em um novo CEO. Stephen Elop, que era o responsável pelos produtos da linha Office da Microsoft (Word, Excel e Power Point) e assumiu a empresa em setembro do ano passado. Seis meses depois, Elop tomou a decisão de descontinuar o Symbiam, colocando em seu lugar o Windows Phone 7, da Microsoft. No dia seguinte ao anúncio, as ações da Nokia caíram 14%. O motivo está no fato de a nova parceira também patinar no setor. 

 

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Sony no vermelho: Howard Stringer, CEO da empresa japonesa, não conseguiu retomar o caminho do lucro

 

Com 3,6% de participação, a empresa foi a única das principais concorrentes a registrar queda nas vendas no primeiro trimestre deste ano. A troca de sistemas, no entanto, é vista com bons olhos pelos analistas. “Não podemos negligenciar a força dessas duas empresas”, afirma Bruno Arrial, analista da consultoria Frost & Sullivan. Para Freitas, da IDC, os resultados dessa união vão aparecer em 2012, quando Nokia e Microsoft devem ganhar mercado. Procurada pela DINHEIRO, a Nokia não se manifestou.

 

A Sony também não tem feito jus à sua história de liderança. Desde 2008, o vermelho impera na última linha do balanço da companhia, que há seis anos é comandada pelo galês Howard Stringer. Mesmo quando apresentou produtos promissores, a Sony viu os louros recaírem sobre a concorrência. Foi assim com  seu leitor de livros eletrônicos, lançado em 2006, um ano antes do Kindle, da Amazon, considerado o grande fomentador desse mercado. “A Sony é uma empresa muito mais complexa que as suas rivais, mas parece ter perdido seu foco e a capacidade de atuar como um time”, afirma o americano Rob Enderle, presidente da consultoria Enderle Group. 

 

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Dupla do barulho: Stephen Elop, da Nokia (esq.), e Steve Ballmer, da Microsoft, apostam tudo na parceria em smartphones 

 

Como se não bastasse, Stringer ganhou novas dores de cabeça neste ano. O terremoto no Japão, em março, interrompeu parte da produção. Em abril, o vazamento de dados pessoais de 100 milhões de clientes, usuários da rede de jogos Playstation Network (PSN) , representou um duro golpe nas ambições da empresa de fazer frente a rivais como o iTunes, da Apple, e a XBox Live, da Microsoft.

 

No Brasil, pelo menos, a Sony vem obtendo bons resultados com uma estratégia que, se não a coloca  de volta ao glamoroso mundo da inovação, vem se mostrando eficiente: conquistar a classe C. “Apostamos nessa nova classe média para seguir como a subsidiária da Sony com o maior crescimento no mundo”, disse Carlos Paschoal, gerente-geral de marketing e comunicação, em entrevista à DINHEIRO. Não é nada inovador, mas, a exemplo da Nokia, o que a Sony precisa no momento é de ao menos uma boa notícia.

 

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