As estantes das livrarias estão abarrotadas de títulos que ensinam os investidores como proteger seu patrimônio e ganhar dinheiro. Dez em cada dez livros defendem a diversificação dos investimentos como a melhor estratégia para que o vaivém das cotações não coloque tudo a perder. O que os autores omitem é a enorme dificuldade de fazer boas escolhas em um momento como o do Brasil atual, em que a economia cresce pouco e as ações estão caras. Esses entraves atingiram até Luis Stuhlberger, gestor do Credit Suisse Hedging Griffo e criador do Verde, fundo multimercado com patrimônio líquido médio de R$ 3,38 bilhões e que acumula uma rentabilidade de 8.756,8% desde que foi criado, em 1997.

Neste ano, porém, o fundo rendeu apenas 6,41% até outubro, diante de uma variação de 9,17% do CDI. Mesmo Stuhlberger, considerado um dos melhores gestores do País, vem enfrentando dificuldades para diversificar. “Em épocas em que o Produto Interno Bruto avança pouco, existe a perversidade da teoria da diversificação”, diz. “Claro que algumas empresas surpreenderam e cresceram muito neste ano, mas os ativos não estão baratos o suficiente para que eu ficasse mais otimista.” A estratégia mais acertada, nesse momento, segundo Stuhlberger, é voltar a atenção para títulos de renda fixa, como as Notas do Tesouro Nacional (NTN), com vencimento em cinco anos, que remuneram o investidor em IPCA mais 6%.

“Me parece desproporcionalmente bom. É difícil comprar algo no mundo com esse retorno e com risco de governo”, diz. Ele falou com a DINHEIRO no dia 6 de novembro, em um evento beneficente em São Paulo. O pessimismo de Stuhlberger com a renda variável tem suas origens no desequilíbrio entre o crescimento econômico e o avanço do bem-estar social. Esse avanço surgiu com a Constituição de 1988, tornou-se possível pelo Plano Real e ganhou fôlego por eventos da década passada que impulsionaram o consumo, como a alta do preço das commodities, a formalização do emprego, o aumento da renda e a expansão do crédito.

“Mas a ditadura do social está minando a própria base do crescimento do País. No afã de se reeleger, o Partido dos Trabalhadores estimulou as vendas no varejo e o PIB real não cresceu. Isso é insustentável”, afirma. “Estamos chegando numa situação em que não teremos mais margem de manobra, já que vários campos estão simultaneamente comprometidos, como a situação fiscal, a inflação, as contas externas e o quadro político”, diz. Apesar de todos esses problemas, Stuhlberger descarta a hipótese de quebra do Brasil.

Mas, em vez de seguir os exemplos de Chile e México e entrar em um equilíbrio virtuoso, o País está à beira de um equilíbrio vicioso. Isso significa que, para colocar a economia nos eixos, os mecanismos utilizados deverão ser o câmbio depreciado e a inflação elevada. “Enquanto os estrangeiros continuarem investindo aqui, vamos ter esse ciclo vicioso porque partimos de uma relação entre dívida líquida e PIB muito baixa”, diz ele. “Isso só vai mudar se o mercado de capitais der um susto no Brasil.”