As montadoras que atuam no Brasil têm pela frente um ano difícil. Fazendo uma analogia com as estradas brasileiras, 2015, certamente, trará desafios semelhantes aos enfrentados por quem dirige pela BA-460, no trecho próximo a Barreiras, na Bahia, considerada a pior rodovia do País, atualmente. Os números de janeiro dão uma mostra do que vem pela frente. Segundo dados divulgados na quinta-feira 5 pela Anfavea, a associação que representa a indústria automobilística, as vendas de veículos novos caíram 18,6% em janeiro, em comparação ao mesmo mês do ano anterior, e 31,9%, em comparação a dezembro.

A situação tende a piorar, antes de melhorar. “Fevereiro tem Carnaval, o que, tradicionalmente, prejudica as vendas”, afirmou Luiz Moan, presidente da entidade. “O cenário só deve se reverter a partir do segundo semestre.” A expectativa é de que as vendas fiquem estáveis neste ano. Entre os motivos para o fraco desempenho estão a queda no PIB, os juros mais altos e o aumento nos custos de energia, além do fim do desconto no IPI. Zero a zero será uma goleada, na visão dos executivos ouvidos pela DINHEIRO. O cenário de dificuldades inevitavelmente gera um acirramento da disputa no setor, principalmente entre as montadoras que atuam no segmento de carros populares, o maior do mercado.

Cada uma à sua maneira, as líderes Fiat, Volkswagen, GM e Ford trabalham de forma defensiva, na tentativa de proteger seu território das competidoras de menor porte, casos da francesa Renault, da sul-coreana Hyundai e das japonesas Nissan e Toyota. Essas, por sua vez, imprimem um ritmo forte de investimentos na tentativa de ganhar terreno, o que significa, necessariamente, conquistar uma fatia das vendas dos concorrentes, já que o mercado não deve crescer. Em 2014, as vendas da indústria somaram 2,71 milhões de automóveis.

“Fizemos um investimento de R$ 2,6 bilhões para construir uma das fábricas mais modernas do grupo no mundo”, afirma Ronaldo Znidarsis, vice-presidente de vendas e marketing da Nissan. “A meta é ampliar nossa participação de mercado dos atuais de 2,4% para 5% em 2016.” Sua conterrânea Toyota também não tirou o pé do acelerador. No final de janeiro, a montadora anunciou um investimento de R$ 100 milhões para ampliar em 46% a capacidade de sua fábrica de Sorocaba, no interior de São Paulo, onde é fabricado o Etios, seu modelo popular. Essa briga está criando, também, novas rivalidades.

As mais acentuadas, no momento, se dão entre Renault e Hyundai, que disputam a quinta posição do mercado, e entre as duas japonesas. No primeiro caso, os coreanos estão saindo na frente com uma participação de 7,2% em janeiro, contra 6,3% dos franceses. Toyota e Nissan, por sua vez, são as montadoras mais agressivas, atualmente. A dona do Corola, além de ampliar a capacidade de produção, investiu na abertura de 54 concessionárias no ano passado. Sua fábrica em Sorocaba já opera em dois turnos e deve receber mais funcionários, que se juntarão aos atuais 1,6 mil operários.

Quem tem mais novidades para mostrar, no entanto, é a Nissan. A montadora, que pertence ao mesmo grupo da Renault, deve lançar nos próximos três anos uma nova versão do sedan compacto Versa, que será produzido no País – atualmente, o modelo é importado do México –, e também entrar no segmento de SUVs, com o esperado Kicks, apresentado no salão de Detroit, o maior evento do mercado automotivo mundial. Todas essas movimentações no mercado já provocaram mudanças no ranking dos carros preferidos dos brasileiros. No ano passado, o Gol, da Volkswagen, já havia perdido o posto de carro mais vendido do Brasil para o Palio, da Fiat, após 27 anos de liderança.

Em janeiro, o modelo caiu para a oitava posição. Em nota, a empresa responsabilizou a queda a uma falta de oferta do veículo, ocasionada pela greve promovida por seus funcionários na fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Eles protestavam contra a demissão de 800 trabalhadores. A paralisação foi encerrada após um acordo que manteve os empregos. Ajustar as operações e reduzir os custos, especialmente com folha salarial, tem sido a estratégia das líderes para reduzir os efeitos da crise. A GM abriu, na segunda-feira 3, um plano de demissões voluntárias nas fábricas de São Caetano do Sul e São José dos Campos, ambas em São Paulo.

Ford e Fiat anunciaram que vão parar no Carnaval, para ajustar os estoques. Não é de estranhar que, entre as líderes, a expectativa para o futuro é mais pessimista. Na opinião de Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford na América do Sul, o setor automotivo pode cair até 5% em 2015. “É uma previsão inicial e precisamos ver como a economia vai reagir aos ajustes promovidos pela nova equipe econômica”, afirmou o executivo. “O mais preocupante é que as vendas caíram em janeiro, mesmo com as promoções promovidas pelas concessionárias para liquidar o estoque.”