Às oito horas da manhã, não é raro encontrar o empresário Hugo Marques da Rosa em frente à geladeira do escritório projetado pelo arquiteto Ruy Ohtake, na região da avenida Berrini, em São Paulo, preparando café com leite gelado. Essa é a única rotina do engenheiro de produção que comanda a construtora Método, que alcançou uma receita de R$ 1,6 bilhão em 2014, o quíntuplo do valor registrado cinco anos antes. No restante do dia, a agenda do gaúcho de 66 anos se divide entre visitar obras, seja a de Urucu, no Amazonas, ou no interior do Rio Grande do Sul, reunir-se com executivos da companhia e discutir estratégia com a Vinci Partners.

A gestora está ajudando a estabelecer uma parceria com private equities – fundos que compram participação em empresas operacionais em troca de rentabilidade, que no Brasil é de 17,1% por ano. O objetivo é acelerar o crescimento da empresa, fundada na década de 1970, pela via de aquisições e organicamente, a fim de deixá-la pronta para voltar à bolsa de valores, lá por 2020. “Queremos nos preparar para acessar o mercado de capitais e o nosso diferencial é que não há nenhuma empresa de engenharia no pregão”, afirma Marques da Rosa. “Mas, para isso, precisamos de escala.”

Não será a primeira vez que as ações da Método serão negociadas na Bovespa. Em 1998, a companhia, que tem em seu currículo obras como a reforma do Teatro Municipal de São Paulo e a construção do Parque Olímpico, no Rio de Janeiro, abriu capital com a assessoria do Banco Garantia e, posteriormente, do Credit Suisse, além de dois fundos de private equity americanos e um brasileiro. O dinheiro captado foi utilizado para quitar dívidas e reestruturar a Método que havia crescido rapidamente e sem um planejamento adequado.

Arrumar a casa significou encerrar a joint venture, na área de telecomunicações, com a maior empresa de construção dos Estados Unidos, a Bechtel, e vender participações nas empresas do setor imobiliário Stamp e Tishman Speyer. Com isso, a Método voltou às origens com foco nas atividades de engenharia e construção e acabou deixando a bolsa, em 2005. Foi difícil, mas Marques da Rosa diz ter aprendido a lição. Por isso, a compra do controle da Potencial Engenharia, uma das principais fornecedoras do mercado de construção, montagem e manutenção industrial, em 2009, foi precedida de estudados aprofundados.

No ano passado, a Método incorporou o restante da participação que faltava, para reforçar a musculatura e se tornar uma companhia mais completa. “Agora, planejamos o passo a passo e estamos conversando com diversos fundos. Pertencemos a um setor que ainda não passou por consolidação, e nove em cada dez pequenas construtoras estão à venda”, afirma. “Também queremos diversificar a atuação no setor industrial, que hoje está concentrada em óleo e gás, investindo em offshore, no setor elétrico e em portos.” A decisão da Método de recorrer ao private equity vem em um momento em que as condições de mercado são favoráveis às gestoras, que estão com seus caixas abarrotados para fazer investimentos no País. 

Além disso, como o mau humor dos investidores colocou um freio nas ofertas iniciais de ações, as empresas têm menos opções para captar recursos. Com isso, possuem menos poder de barganha e acabam pedindo menos dinheiro do que poderiam se a bolsa fosse uma opção interessante para levantar recursos. Em outras palavras, as companhias se tornam mais baratas, segundo Ken Sharp, líder global de auditoria da Grant Thornton. De acordo com cálculos do Centro de Estudos de Private Equity e Venture Capital da Fundação Getulio Vargas (GVcepe), a expectativa é de que as gestoras invistam algo em torno de US$ 9,1 bilhões neste ano, no Brasil.

Em novembro de 2014, a Advent, que tem US$ 32,1 bilhões sob gestão no mundo, captou US$ 2,1 bilhões para um fundo voltado para projetos na América Latina, com foco no Brasil, Colômbia e México. A ideia é investir nos setores financeiro, de serviços, indústria, varejo e consumo. Outra gigante que vê oportunidades por aqui é a BlackRock, com US$ 4,32 trilhões sob gestão. Segundo Bruno Stein, diretor da gestora no País, há boas oportunidades no segmento de infraestrutura. “Muitas obras ficaram paradas e isso pode ser uma oportunidade para os investidores institucionais que querem chegar ao Brasil via private equity”, afirma.

“No médio prazo, a gestora tem planos de estruturar sua operação localmente de forma a receber investidores.” O entusiasmo com o mercado de private equity não é uma exclusividade de Stein. Um estudo da Grant Thornton, obtido pela DINHEIRO, mostra que 175 gestores de todo o mundo estão otimistas com o aumento das atividades da indústria, em 2015, e que a expectativa é que haja mais compras do que saídas dos investimentos. O motivo? US$ 1,2 trilhão disponível para aportes. No Brasil não é diferente: 63% dos gestores esperam fazer mais negócios, mesmo em um cenário macroeconômico cercado de incertezas.

Para tentar não perder dinheiro – já que é um investimento arriscado –, têm escolhido setores considerados promissores, como as áreas de saúde, educação, consumo e infraestrutura. Mas há nichos pouco explorados que começam a entrar no radar. É o caso de casas de câmbio e, quem diria, as próprias gestoras de investimentos. A XP Gestão está estruturando um fundo para comprar participação em gestoras independentes e ganhar dinheiro com a geração de riqueza. “Esse modelo já existe lá fora e, com o fortalecimento da indústria de fundos no Brasil, percebemos que era hora de trazer esse produto”, afirma Patrick O’Grady, sócio da XP.

Sua colega Patricia Stille, responsável pelo fundo, diz que as gestoras já estão sendo selecionadas e que o que mais importa é seu time de profissionais. “Os cotistas do private vão receber os dividendos, mais o lucro da venda das gestoras na hora do desinvestimento”, afirma. A ideia é investir em até oito empresas algo entre R$ 200 milhões e R$ 400 milhões. Para Ricardo Fernandes Júnior, presidente da subsidiária da gestora americana Hamilton Lane, que gerencia fundos de US$ 220 bilhões globalmente e tem aumentado a exposição no Brasil, 2015 e 2016 serão os melhores anos para os privates no País.

“Há empresas que ainda estão vivendo na ilusão de pedir um múltiplo de dez a onze vezes o Ebitda para fechar a venda, outras abaixaram para cinco ou seis”, diz Fernandes Júnior. Ele identifica oportunidades em educação básica e especializada, em alguns setores de infraestrutura e em saúde. “Não estamos numa corrida de 100 metros rasos”, diz. “É uma maratona e olhamos o longo prazo.” Além dos fundos de private equity, existe outro tipo de gestão sendo buscada no mercado por empresas familiares que não querem necessariamente dividir o controle com um novo sócio. Criada em 2007, a paulista Nexto mantém a mesma lógica de um fundo de private equity, porém, sem o aporte de recursos.

Ela entra apenas com a expertise em gestão e com um assento no conselho de administração. Com a gestão de empresas que faturam em conjunto R$ 4,5 bilhões por ano, Eduardo Shakir, sócio-fundador da Nexto, diz estar percebendo um aumento na procura por esse tipo de serviço em um ano de ajustes, o que permitirá dobrar o número de clientes neste ano. “Queremos disseminar o modelo de gestão ativa, comum nos fundos de private equity, proporcionando criação de valor e aumento de liquidez”, afirma. “Muitas empresas, principalmente companhias familiares, desejam a profissionalização da gestão proporcionada pelos fundos.”