06/07/2011 - 21:00
O setor de private equity nunca esteve tão robusto no Brasil. O País é hoje a menina dos olhos dos gestores desses fundos, que compram fatias de empresas fechadas com grande potencial de crescimento, injetam dinheiro e técnicas de gestão e buscam vender as participações com lucro mais tarde. A estimativa para 2012 é de que esses fundos captem US$ 20 bilhões para investir em empresas brasileiras, de acordo com o Segundo Censo da Indústria Brasileira de Private Equity e Venture Capital, divulgado em junho. De acordo com essa pesquisa, da Fundação Getulio Vargas (FGV) e da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (Abdi), parte desse montante virá de pelo menos 20 novas gestoras que devem chegar ao Brasil ainda este ano.
Quem conversa com os representantes desses fundos sente o ritmo acelerado. “O setor está muito aquecido, o que obriga os gestores a procurar empresas para investir em estágios cada vez mais iniciais de suas atividades, acompanhar o desenvolvimento delas e construir relacionamentos”, diz Julio Vasconcellos, sócio da em-presa de compras coletivas Peixe Urbano. Ele começou a negociar com o fundo americano General Atlantic em outubro passado e os papéis foram assinados em janeiro.
De olho nos fundos de pensão: Ribeiro (à esq.) e Teixeira da Costa , da Ocroma Investimentos —
lançando produtos específicos para os investidores institucionais
O dinheiro investido pelo General Atlantic, cujo valor é mantido em sigilo, deverá sustentar o crescimento no Brasil e a expansão internacional – o Peixe Urbano já começa a agitar as nadadeiras em águas argentinas. Vasconcellos é reticente ao falar do futuro. “Quere-mos criar uma companhia que seja sustentável financeiramente no longo prazo”, diz. “Por isso ainda é cedo para falar em abrir capital ou buscar di-nheiro em outros fundos.” Propostas não faltam. Vários gestores lançaram iscas para o Peixe Urbano. Antes de fechar com a General Atlantic, ele já havia recebido uma injeção do fundo de venture capital brasileiro Monashees Capila e do americano Benchmark Capital.
O aporte de recursos no Peixe Urbano foi o quarto investimento da General Atlantic no Brasil. “O que nos levou a bater o martelo foi o fato de já haver uma equipe estruturada gerindo a empresa”, diz Fernando Marques, diretor-geral do fundo. Além de associar-se à empresa de Vasconcellos, o General Atlantic também comprou uma participação na BM&F, em 2007, antes da fusão com a Bovespa, investiu na empresa de internet MercadoLivre e na administradora de planos de saúde Qualicorp, que está preparando sua abertura de capital. Segundo Marques, o valor investido no País até agora chega a US$ 1 bilhão e um novo aporte deve ser anunciado em breve.
O General Atlantic não será o único a aplicar suas fichas em negócios brasileiros. O mais recente ciclo de crescimento começou em 2010, quando o fundo Advent International captou US$ 1,65 bilhão para dedicar a empresas latino-americanas. Só para comparar, nos 14 anos anteriores o Advent havia investido R$ 5,1 bilhões. A partir daí, começou uma nova corrida pelas melhores oportunidades. O negócio é bom. Esses fundos vêm proporcionando a seus cotistas um retorno médio de 36% ao ano em dólares.
Até 2009, 144 das 180 gestoras pesquisadas haviam aplicado US$ 36,1 bilhões aqui e a meta para este ano é superior a 50% do total desembolsado até agora. O ritmo também se acelerou e o caso da Qualicorp é um bom exemplo. A General Atlantic adquiriu a participação em 2008 e a vendeu em dois anos, bem menos que o período médio de maturação, de cinco anos. Fundos que investiram em companhias como a empresa de relógios Technos e a rede de farmácias Brazil Pharma estão prestes a vender suas posições por meio de aberturas de capital.
Nem sempre essa regra é seguida. Os investidores da empresa de engenharia Enesa, que está em meio a seu processo de IPO, não vão vender suas ações. “Vamos ficar um pouco mais por acreditarmos na empresa”, diz John Michael Streithorst, sócio de private equity do Banco Modal, responsável por um investimento de R$ 90 milhões. A animação de outro participante do mercado, o fundo inglês Actis, é semelhante. “Nosso foco é investir em países emergentes e isso permite um profundo conhecimento de cada mercado”, diz Patrick Ledoux, sócio da Actis na América Latina. Dos US$ 2,9 bilhões do fundo, US$ 450 milhões são destinados à América Latina, principalmente ao Brasil.
A estratégia é buscar empresas que suportem aportes de, no mínimo, US$ 50 milhões. “Não somos investidores passivos, gostamos de ter uma participação ativa na gestão das empresas em que investimos”, diz Chu Kong, sócio da Actis América Latina. “Queremos poder repetir nossa experiência internacional no Brasil.” O fundo já investiu R$ 290 milhões em três empresas brasileiras: a corretora gaúcha XP Investimentos, a rede de supermercados paranaense Companhia Sulamericana de Distribuição (CSD) e a empresa de produtos de higiene e limpeza paulista Gtex. Mais dinheiro será aplicado ainda este ano. “Queremos fechar três outros negócios nos setores de consumo e de serviços”, diz Kong.
Fisgando investidores: Vasconcellos, do Peixe Urbano (à dir.), mordeu a isca de Marques, do General Atlantic
“O setor está aquecido e os gestores têm de construir relacionamentos” Julio Vasconcellos
Os retornos apetitosos têm atraído investidores com bolsos recheados e paciência: os fundos de pensão. Quem mais investe em private equity é a Funcef, mantida pela Caixa Econômica Federal, que dedica 6% de seu patrimônio ao negócio. Se outros fundos de pensão seguirem esse exemplo, o total alocado pode chegar a R$ 7,5 bilhões, calcula Leonardo Ribeiro, gestor da Ocroma Investimentos. Segundo ele, 22% das aplicações de private equity no mundo vêm de fundos dedicados às fundações de previdência, um mercado que pode atingir US$ 100 bilhões, nos próximos cinco anos. Nesse período, a cifra prevista para o Brasil é de US$ 20 bilhões. A ideia de Ribeiro é adquirir participação em produtos já existentes e oferecer um portfólio mais diversificado, diluindo o risco para seus investidores.
A perspectiva de acessar esse manancial de dinheiro tem feito as gestoras de recursos lançar novos produtos dedicados às fundações de previdência. Ao lado do decano do mercado, Roberto Teixeira da Costa, fundador e primeiro presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), e de Ricardo Kanitz, ex-GP Investimentos e Global Infrastructure Partners, Ribeiro criou um fundo de investimentos voltado para investidores institucionais, o Ocroma Private Equity Portfolio, já registrado na CVM.
Ele busca companhias de serviços financeiros, tecnologia da informação, logística e saúde. “Há uma gama enorme de empresas familiares e companhias com elevado grau de empreendedorismo que podem ser nosso possível alvo”, diz. “O Brasil vive seu melhor momento. Ainda não sabemos como será o fim deste ciclo, mas a hora é muito promissora”, afirma Ribeiro, que já trabalha na estruturação de seu segundo fundo. Quem se aventurar tem tudo para nadar de braçada.