21/04/2016 - 17:00
Há alguns anos, desenvolvi o hábito de perguntar aos executivos do setor privado qual seria a taxa de sucesso de ter um especialista em gestão ocupando cadeiras de presidente da República, governos de estado e prefeituras municipais. A lógica é combater a ineficiência e os acordos espúrios com competência e trabalho sério. Nunca recebi uma resposta entusiasmada. Elas, invariavelmente, eram vagas ou caíam na vala comum de que o setor público só aceita burocratas.
O que justificava ninguém cogitar a possibilidade de entrar diretamente na vida pública, por mais que eu insistisse. Custei a aceitar essas conclusões até a administração de Dilma Rousseff. A presidente ascendeu ao poder contrariando todas as lógicas da política nacional. Técnica do serviço público, Dilma parecia capaz de implementar uma gestão eficiente. No início, ela era descrita como uma gerentona, obcecada por planejamento e exigente com os resultados. Diziam que sua marca era não aceitar qualquer adiamento de projetos sem prévia combinação.
E, justamente por não ser um animal político como Lula, poderia ignorar a sua popularidade para fazer as reformas que o País tanto necessitava. O resultado seria uma mudança radical no Brasil. Mas Dilma enterrou a esperança de mudar o perfil da política brasileira com uma gestão desastrosa, que contraria todas as regras da boa administração. Aquelas suas credenciais iniciais nunca se mostraram verdadeiras, basta olhar os PACs, que são reempacotados e nunca saem do papel. Rever algumas das lições básicas de gestão talvez ajude a não repetir o erro mais de uma vez.
Qualquer executivo no comando de uma companhia sabe que precisa ter pessoas certas ao seu redor para conseguir delegar poder e cobrar resultados. O departamento de Recursos Humanos de Dilma ficou à mercê de acordinhos pequenos, barganhas incômodas e soluções improdutivas. Se chefes e subordinados não se entendem, não há como confiar. Da mesma maneira, seu Financeiro não apreendeu que, em períodos de crise, a ordem é zelar pelo caixa. Quem faz o contrário trabalha para afundar a empresa. Sem falar na gravidade de culpar o mercado internacional para justificar a insistência nos próprios erros.
Nada se salva para provar uma gestão bem feita: recessão, descontrole da inflação, indisciplina fiscal, insegurança jurídica e investimentos em queda. Se fosse a CEO de uma empresa, Dilma teria sido destituída pelo Conselho de Administração por incompetência nos resultados. O Brasil é hoje uma empresa destruída e em situação pré-falimentar. O substituto de Dilma, independente de ser o vice-presidente Michel Temer ou um novo nome eleito em 2018, terá de agir como um interventor. Em Brasília, sair em busca de acordos com os inúmeros credores pode ter um preço alto a pagar.
Há mais de um motivo para o processo de impeachment, mas a votação na Câmara mostrou que ainda temos uma direita covarde elogiando a Ditadura Militar e seus crimes e uma esquerda rancorosa que só enxerga a palavra golpe à sua frente. No fim, o que Dilma conseguiu foi reforçar a imagem caricata de que somos guiados por Justos Veríssimos, o personagem criado por Chico Anysio que tinha horror ao povo. O grande vencedor é o conchavo, aquilo que há de pior na política nacional. E minha tese, que foi posta à prova com Dilma, não sobreviveu, como já tinham me alertado. É melhor eu trocar de assunto.