07/03/2012 - 21:00
Dois telefonemas do ministro da Fazenda, Guido Mantega, na quarta-feira 29, deram uma trégua a uma semana que começou tensa em Brasília. Mantega falou com o presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, e com o presidente da Previ, Ricardo Flores, e transmitiu o recado da presidenta Dilma Rousseff: os dois deveriam agir com bom-senso e encerrar de uma vez por todas a polêmica dos últimos dias envolvendo as duas instituições que presidem – respectivamente, o maior banco do País, com lucro de R$ 12 bilhões no ano passado, e o maior fundo de pensão da América Latina, com R$ 151 bilhões em investimentos. Atuando como bombeiro de Dilma, Mantega interveio, foi ouvido e manteve os dois executivos nos cargos de comando.
O vice-presidente de governo do BB, Ricardo Oliveira, aliado de Bendine e apontado por alguns como o pivô da discórdia e passível de demissão, também recebeu ordem do presidente do banco para se conter. Por ora, a tendência é de paz e tudo fica como está. Bendine e Flores acabaram entrando num tiroteio político comum em Brasília sempre que cargos importantes são ocupados por técnicos competentes, como é o caso de ambos. Os dois são funcionários de carreira do BB, chegaram ao topo e despertam o clássico ciúme do poder, agora exacerbado pelo ano eleitoral. O problema é que, em algum momento, eles se desentenderam.
Não se falam há mais de um ano. Na versão espalhada pelos aliados de Flores, o presidente do BB teria ficado descontente porque queria ter sido indicado para presidir a Vale quando Roger Agnelli foi demitido, em maio do ano passado. A Previ, fundação de previdência dos funcionários do BB, lidera um grupo de fundos de pensão que, juntos, tem 49% das ações da empresa. Flores também preside o conselho de administração da Vale e referendou a promoção de Murilo Ferreira, preferido de Dilma. Bendine nega o interesse pela mineradora. Diz que não é do ramo e nunca teve intenção de trocar o BB pela empresa. Seus aliados afirmam que Flores, que é funcionário de carreira do banco e foi indicado por Bendine para presidir a Previ, em maio de 2010, vinha querendo comandar o BB em seu lugar.
Eles o acusam de estar por trás de uma manobra que resultou na demissão do vice-presidente Allan Simões Toledo, que deixou o banco acusado de vazar para a imprensa discussões que ocorreram na reunião do conselho, envolvendo o processo de licitação do Banco Postal. Na semana passada, circularam em Brasília extratos bancários de Toledo mostrando depósitos no valor de R$ 1 milhão que, segundo ele, se referem à venda de uma casa. A movimentação foi informada pelo BB ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que investiga transações suspeitas. Dilma mandou o BB investigar se houve quebra de sigilo bancário na divulgação do extrato. O Planalto e a Fazenda têm certeza de que não houve vazamento por parte do BB.
Trégua: Flores (à esq.) e Bendine são bem avaliados pelo Planalto,
que os manteve no cargo para reforçar a política econômica.
Também não acreditam que o dinheiro tenha origem ilegal ou ligação com a atividade exercida por Toledo no banco. A divulgação dessas informações é típica de disputas políticas que, muitas vezes, são forjadas fora dos gabinetes técnicos de Brasília. Ao ser questionado sobre o assunto, na quinta-feira 1º, o ministro Guido Mantega elogiou a gestão de Bendine e a de Flores. “Essa é uma crise de fofocas, porque as duas instituições estão funcionando muito bem”, disse. E confirmou que o governo está preocupado com o efeito das brigas no dia a dia do banco e do fundo. “Em algum momento, isso poderá prejudicar a atuação dessas instituições”, admitiu.
O que mais incomoda a presidenta é que a briga ocorre num momento de boas realizações das duas instituições. Ela está satisfeita com a gestão profissional tanto no BB quanto na Previ, com a redução da influência do PT e dos sindicalistas. Com Bendine, o BB executou com sucesso a política anticíclica determinada pelo governo, aumentou sua participação no mercado bancário, recuperou a liderança que havia perdido para o Itaú Unibanco e manteve os lucros em alta.Ou seja, Bendine está mais forte do que nunca no cargo. Agora, Dilma quer que ele reduza ainda mais os juros nos empréstimos para as pessoas físicas e pequenas e médias empresas, o que deve aumentar a concorrência com os bancos privados e assegurar a retomada da atividade econômica.
O presidente da Caixa, Jorge Hereda, recebeu a mesma ordem e deve anunciar queda nas taxas nos próximos dias. No caso da Previ, Dilma elogia a atuação de Flores. O fundo, com 193 mil participantes, tem investido em obras do PAC e em empresas consideradas importantes para a economia brasileira. Por isso o voto de confiança e a irritação. “O que espanta a presidenta é que os grupos ligados aos dois executivos chamaram a atenção para uma discussão que não existia e que pode ter impacto negativo para as duas instituições”, diz uma fonte do Palácio do Planalto.