Para os profissionais do dinheiro, os dias que antecederam o segundo turno da eleição presidencial serão lembrados como um dos períodos mais voláteis da história do mercado, que colocaram os investimentos em uma autêntica montanha-russa. Ações, dólar e, em menor escala, taxas de juros oscilaram violentamente a cada pesquisa eleitoral divulgada – e foram nove, apenas na semana anterior à votação. O gradativo aumento da preferência por Dilma Rousseff levou o Índice Bovespa a zerar os ganhos do ano, na quinta-feira 23.

Na sexta-feira 24, voltou a subir 2,42% na expectativa – não confirmada nas urnas – de vitória de Aécio Neves. A volatilidade esperada para o primeiro pregão após o segundo turno era tão grande que a XP Investimentos, uma das maiores corretoras independentes de varejo, exigiu que seus clientes depositassem mais garantias para operar. Agora que as urnas confirmaram a reeleição de Dilma, o mercado enfrenta um enorme desafio: o que fazer quando a candidata sacramentada pelas urnas contraria tão frontalmente suas aspirações?

Como garantir uma boa remuneração para seu dinheiro? Para responder a essa questão, DINHEIRO ouviu 15 profissionais do mercado e especialistas em investimentos. A primeira, e mais importante, recomendação é manter a calma. Os primeiros dias após a divulgação dos resultados deverão ser tensos, mas os especialistas não preveem o fim dos tempos. “O Brasil não vai se tornar uma Argentina ou uma Venezuela”, diz o economista Luiz Eduardo Assis. “Sua economia é mais diversificada e dinâmica, e as instituições de Estado são mais fortes e independentes do que as dos nossos vizinhos.”

Outro ponto que deve evitar um pânico é o fato de que a vitória de Dilma já estava refletida nas cotações. “O mercado antecipa as notícias, e o segundo turno não fugiu à regra”, diz Assis. Quando consideram um prazo um pouco mais longo, ou seja, o ano de 2015, os analistas ressaltam os desafios que a economia terá de enfrentar. O País terá de acelerar o crescimento e reduzir uma inflação que vem rondando persistentemente o topo da meta de 6,5%. Algumas variáveis serão fundamentais para definir o que fazer com o dinheiro a partir do ano que vem.

Uma delas é a atitude de Dilma em relação ao mercado. “O ano de 2015 começa no momento em que a presidenta eleita anunciar o nome para o Ministério da Fazenda”, diz Octavio Vaz, sócio da gestora carioca de recursos Áquilla. O fato de Dilma ter se recusado a discutir o assunto durante a campanha elevou a incerteza. “Se ela escolher alguém mais afinado com o mercado, será um enorme alívio, mas se for uma pessoa com ideias menos ortodoxas, a volatilidade deve continuar”, diz. Outro item crucial é o comportamento esperado para a economia internacional, especialmente a dos principais parceiros comerciais do Brasil, cujos investidores lideram as aplicações estrangeiras por aqui. O cenário não é dos melhores.

“A demanda está fraca nos Estados Unidos e na Europa e isso deverá oferecer uma dificuldade adicional para o Brasil, que depende muito da exportação de commodities”, diz o economista Pedro Paulo Silveira, da corretora paulista TOV. Os prognósticos para os juros são de poucas mudanças. André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, diz que a taxa Selic deve ficar nos atuais 11% ou até cair. “A atividade econômica está baixa no Brasil e no exterior”, afirma. Outro risco apontado por Perfeito é a queda de 22,7% nos preços do petróleo neste ano.

“O mundo corre o risco de entrar em uma espiral deflacionária”, diz. Nesse ambiente, a inflação deverá permanecer perto do topo da meta ao longo dos próximos anos. Assim, a recomendação para quem prefere a renda fixa são os títulos indexados, como as Notas do Tesouro Nacional da série B (NTN-B). Na quinta-feira 23, o papel vincendo em 2050 pagava a variação do IPCA mais 6,17% ao ano. “É uma excelente rentabilidade, apesar de o investidor ter de enfrentar algumas oscilações ao longo do tempo”, diz o economista paulista Fábio Amaral Barreto de Lemos, sócio da gestora São Paulo Investments.

No câmbio, os prognósticos são de alta. Segundo a mais recente pesquisa Focus do Banco Central (BC), divulgada em 17 de outubro, a perspectiva é de que a moeda encerre o próximo ano a R$ 2,50. Fernando Araujo, sócio da gestora carioca FCL Capital, orienta o investidor a se desfazer de papéis da bolsa e concentrar seus ativos em dólar. “No curto prazo, com a vitória de Dilma, o melhor é investir na alta do dólar por meio de posições compradas, e na baixa das ações, especialmente as de estatais, assumindo posições vendidas em bolsa”, diz.

“Em um prazo mais longo, uma boa estratégia é comprar, aos poucos, ações de boas empresas exportadoras.” A alta do dólar é o fiel da balança dos analistas para indicar as ações mais promissoras. Karina Freitas, analista-chefe da Concórdia Corretora, também recomenda os papéis de companhias exportadoras ou que tenham receitas em dólar. “Nesse cenário, gostamos muito de empresas de celulose, como a Klabin, ou então da Embraer, que tem uma carteira robusta de pedidos atrelada à moeda estrangeira.” Segundo Karina, papéis defensivos como de empresas do setor de alimentos, caso da BRF, ou varejo, como o Pão de Açúcar, também são boas opções.

“Independentemente do cenário eleitoral, são empresas que vendem itens de primeira necessidade”, diz Karina. Mesmo acreditando em uma forte queda da bolsa nas próximas semanas, Lenon Borges, analista da Ativa Corretora, orienta o investidor a olhar para ações defensivas como as de empresas que são líderes de mercado, a exemplo da Ambev e do Pão de Açúcar. “No curto prazo, a vitória de Dilma também deve beneficiar as vendas de aparelhos eletrônicos com crédito incentivado, e assim a Via Varejo é uma boa aposta”, diz Borges. Já Celson Plácido, estrategista-chefe da XP Investimentos, vê potencial de valorização nas empresas de educação.

“Essa é uma das principais plataformas do governo Dilma, em especial por causa do Pronatec e da linha de financiamento Fies.” Para Rafael Giovani, diretor da Um Investimentos, papéis de concessionárias de rodovias, frigoríficos e empresas de celulose também serão boas opções na bolsa. De acordo com uma pesquisa da XP realizada com 128 executivos do mercado financeiro, a expectativa da maioria, 46%, é de que o Ibovespa fique em torno de 40.000 a 45.000 pontos no novo governo Dilma. Isso representa uma queda de 14,1% em relação ao patamar registrado pelo índice na sexta-feira 24. Ou seja, para o investidor, escolher boas ações ao longo dos próximos quatro anos será uma tarefa desafiadora.