29/04/2016 - 20:00
Seja qual for o destino político de Dilma Rousseff, pós-impeachment, é inegável que a primeira mulher a chegar ao comando do País entrará para a história como a presidente que mais produziu declarações esdrúxulas desde a proclamação da República. Do começo ao fim, sem trégua, conseguiu fazer de suas entrevistas e discursos improvisados uma espécie de stand up comedy presidencial involuntário, motivo de gargalhadas se não tivessem resultado em uma tragédia para milhões de brasileiros.
Quem não se lembra das mandiocas, da “mulher sapiens”, das técnicas de estocar vento, do vírus Aedes aegypti que bota ovo e da “mosquita” Zika? A menos de quinze dias de seu afastamento pelo Senado, que obviamente aprovará o processo de impeachment contra o pior dos piores governos que já dirigiram a nação, Dilma perde a oportunidade de ficar calada ou, pelo menos, falar algo que tenha sentido. Com essa tese de golpe, está acabando com a pouca reputação – se existe alguma – que ainda lhe resta.
O pior é que as bobagens ecoam em diversos idiomas. Num gesto desesperado de quem sabe que está perto do fim, Dilma está apelando até para a imprensa internacional contra aquilo que ela chama de golpe de estado e, ao mesmo tempo, expondo toda sua inabilidade em ligar Lé com Cré. Na quinta-feira 28, em entrevista à emissora americana CNN, a presidente tropeçou nas próprias ideias ao dizer que defenderá a democracia até o último minuto, ao mesmo tempo em que se diz vítima de um golpe institucional.
Golpe institucional? Tá bom. Depois atribui parte de seu fracasso ao fato de ser mulher em uma sociedade sexista, algo que nunca foi mencionado por ela nas duas eleições que venceu. Em outras palavras, a presidente sugere que todas as instituições brasileiras são golpistas. Sob essa ótica, o Tribunal de Contas da União, que rejeitou as contas de seu governo, é golpista. O Banco Central, que endossou a irregularidade na gestão das contas públicas, manobra que ficou conhecida como pedalada fiscal, também é golpista.
A Câmara dos Deputados, que apesar do show de horror durante a votação, com direito a cusparada e homenagens a torturadores, aprovou com larga maioria a continuidade do processo de impedimento da presidente, é golpista tanto quanto qualquer coxinha da direita. O Supremo Tribunal Federal, a instância máxima da Justiça brasileira, está golpeando o governo porque “está acovardado”. A imprensa, é claro, é sempre a golpista canalha que manobra a opinião pública. E, por fim, o Senado entrará para o time dos golpistas porque dará um tiro de misericórdia nesse governo.
Na tentativa de emplacar seu vitimismo, Dilma demonstra que o discurso petista de defesa da democracia é, na verdade, apologia a uma autocracia que prosperou em países como Venezuela, Cuba e Bolívia – e que foi aplaudida por ela. Ao se colocar em posição de “coitadinha”, que enfrenta bravamente a tentativa de tirá-la do poder, a presidente atesta sua imaturidade política e incapacidade de conduzir o País. Até agora, o slogan “não vai ter golpe” e a tese de perseguição revelaram que, para Dilma e sua tropa de choque, a Constituição só vale se for para perpetuar o PT no poder. O contrário, é golpe.